Grande investigação: Os empresários e as redes que apoiam Ventura

Grande investigação: Os empresários e as redes que apoiam Ventura

Aquele almoço de quinta-feira, 18 de junho, quase pedia férias antecipadas para os lados da Quinta do Barruncho. Na requintada residência de Loures, foram servidos queijos da serra e de cabra, vichyssoise, garoupa e outras iguarias regadas a colheitas vinícolas de excelência. Mas a presença de convidados especiais e os temas em cima da mesa pediam certa solenidade e discrição.

Desafiados por João Maria Bravo, empresários e homens de negócios ligados a setores importantes da economia nacional acorreram à propriedade de pergaminhos aristocráticos para ouvir e até aconselhar o mais controverso deputado da nação: André Ventura. Ninguém foi ao engano e o líder do Chega apresentou-se no repasto com o vice-presidente, Diogo Pacheco de Amorim. Trocaram-se ideias sobre propostas e objetivos do partido, discutiram-se cenários eleitorais, avaliaram-se necessidades daquela força política e a disponibilidade dos presentes para ajudar a fortalecer Ventura. Embora as versões não coincidam, ter-se-á também abordado eventuais contributos financeiros para o Chega. “Foi um almoço para trocar impressões, as pessoas queriam ouvir o André”, garante Diogo Pacheco de Amorim, negando ter discutido questões de dinheiros. “Tive uma atitude discreta na mesa e nem sequer me compete falar desses assuntos…”

21 de maio, 23 de julho e 10 de dezembro: as investigações da VISÃO sobre o Chega foram capa por três vezes em 2020

Ventura vai em frente…

Mas quem eram, afinal, os seletos comensais, cujas atividades, em alguns casos, pesam muitos milhões na economia nacional e até além-fronteiras? O que esperam de Ventura e que expectativas alimentam em relação ao Chega?

João Maria Bravo, anfitrião da quinta que, há duas gerações, mantém na família, é dono do grupo Sodarca, certificado pela NATO, e lidera o fornecimento de armas, munições, tecnologia e equipamento militar ao Estado, Forças Armadas e de segurança. No seu conjunto de empresas inclui-se a Helibravo, com uma frota de helicópteros e um avião executivo para diversos fins, entre eles o combate a incêndios. Na vigência dos governos socialistas de António Costa, a Sodarca e a Helibravo já faturaram ao Estado perto de 33,3 milhões de euros. O último contrato, celebrado em abril com o Exército, vale mais de 17 milhões.

João Bravo não confunde negócios com política. “Desde 1974 que o País se afunda, e este já é o governo mais caro de sempre. O André é o único que coloca o dedo na ferida e fala do que queremos ouvir. Faz propostas honestas, pretende pôr o País na ordem, combater a impunidade e fazer a economia florescer”, assume o empresário, “farto de Ricardos Salgados, dos tipos do Banco Privado, dos Sócrates e de outros que andaram a brincar connosco”.

Em tempos, apoiou o CDS de Paulo Portas. Nas legislativas, votou PSD.

“Ainda não conhecia o Ventura, foram os trabalhadores da minha herdade no Alentejo [Vale do Manantio] que me falaram dele com entusiasmo. Até aí, nunca me sentira motivado para me aproximar de um político”, assinala. Mas assim foi. “O André é brilhante, fala uma linguagem simples. Como imagina, tenho excelentes contactos nas forças policiais e militares e garanto que ele conta com muitos apoios. Só não existem mais adeptos declarados nessas áreas porque não se podem manifestar”, lamenta João Bravo, explicando a razão do almoço: “Ouço falar bem dele em todo o lado e decidi juntar alguns amigos, empresários de sucesso, que desejavam ouvi-lo, perceber para onde vai e o que pretende. Queríamos aconselhá-lo, pois anda muito sozinho e precisa de rodear-se de pessoas ao seu nível, e também perceber como podemos ajudar a que tenha mais votos, mais meios e popularidade”, assume, sem se deter: “É importante apoiar o Chega e mobilizar outros empresários à volta do Ventura para que possa ganhar as eleições e chegar a primeiro-ministro. Em termos de ajuda financeira – e é óbvio que o partido vai precisar –, far-se-á também o necessário, obviamente dentro da lei e com transparência.”

Na Quinta do Barruncho, também se amesendou Miguel Félix da Costa, cuja família liderou, durante 75 anos, a filial portuguesa da multinacional de lubrificantes Castrol. O empresário encabeça a Slil, holding com participações no imobiliário de luxo, hotelaria e turismo, e gere a Sociedade Agrícola de São Cristóvão, na Herdade de Mata Ladrões, em Montemor-o-Novo.

Alguns dos empresários e homens de negócios que estiveram no almoço com Ventura, na Quinta do Barruncho

As afinidades deste apaixonado por cavalos e por carros de corrida não são apenas de boca: além de contagiar outros, Miguel participou na recente manifestação do Chega em Lisboa. “O que me levou a apoiar André Ventura foi a preocupação com a política das esquerdas mais radicais que pretendem destruir os nossos valores e cultura”, explicou à VISÃO, resignado à incapacidade de PSD e CDS, “órfãos de líderes tipo Sá Carneiro ou Paulo Portas, fazerem oposição eficaz e imporem-se como alternativa política”. Segundo ele, está em curso “um ataque nunca visto aos nossos valores e princípios, manipulado por uma extrema-esquerda insaciável. O desafio do Chega é conseguir despertar e motivar uma direita adormecida que não vota e apenas sabe criticar. Ventura tem capacidade de mover montanhas e arrastar milhões de potenciais votantes”, crê o empresário, satisfeito por ver no partido guarida para as suas causas: iniciativa privada pujante, “forças de segurança fortes, motivadas e bem equipadas”, dignidade para profissionais de saúde e uma Justiça que “acabe com a corrupção que ela própria criou e fomenta”.

Miguel Félix da Costa diz-se “envergonhado” com o panorama: “O primeiro-ministro endivida o País como nunca se viu e aumenta os impostos para níveis impensáveis.” Virou-se então para Ventura, “líder inteligente, corajoso e capaz de devolver-nos a esperança e a alegria de viver num País mais justo, organizado e feliz”. Conheceu-o num almoço particular. Ficaram à conversa e o clique foi imediato. Esteve com o deputado na manif de apoio ao mundo rural no ano passado, num jantar da distrital de Lisboa e, há semanas, na Quinta do Barruncho: “O motivo do almoço foi o de mostrar a nossa solidariedade e disponibilidade para ajudar André Ventura na sua caminhada e também [expressar] a nossa preocupação sobre a atual situação política.”

“Ninguém acede a informações sobre o dinheiro que entra e como é gasto”, acusa Miguel Tristão Teixeira, ex-dirigente nacional

Habituado ao cheiro das tintas, Carlos Barbot é daqueles que não se impressionam com o facto de o Chega ser pintado com cores de direita radical ou extrema-direita. “Sou contra posições racistas e xenófobas. Mas o Ventura veio abanar o sistema, pôr as pessoas a pensar, e isso é positivo”, assume o patrão do império industrial Barbot, cujos negócios vão das famosas tintas ao imobiliário, e de Portugal continental às ex-colónias (Angola, Moçambique e Cabo Verde), com passagem também pela Zona Franca da Madeira.

O empresário, cônsul honorário do Paraguai no Porto, foi à Quinta do Barruncho “por mera curiosidade” e de espírito aberto. “Queria ouvir o Ventura e encontrei o que esperava: uma pessoa frontal, que diz o que pensa”, explica. Regressou a casa com boas vibrações. “Ele abre o leque à direita, que estava muito limitado. Se temos um Bloco de Esquerda, também podemos ter um «Bloco» de direita, não?”, questiona, retórico, Carlos Barbot, que saiu mais cedo do almoço, sem ouvir falar de dinheiros. “Apoio financeiro ao Chega? Daqui até às eleições admito muita coisa”, graceja. “Não tenho posições fechadas e apoio quem faz bom trabalho. Gosto muito do presidente socialista da câmara de Gaia, Eduardo Rodrigues, e do que Rui Rio tem feito no PSD. Por agora, estou muito curioso para ver o percurso de Ventura…”

Paulo Côrte-Real Mirpuri foi outro dos convidados. E disse presente.

Apesar de fugir aos holofotes da Imprensa, o empresário não anda fora do radar. Liderou a Air Luxor – que acabou sufocada em dívidas – e regressou à ribalta com negócios em terra, pelo mar e no céu. Na pele de filantropo da Fundação Mirpuri, faz gala de apoiar pesquisas médicas, a conservação marítima e da vida selvagem, entre outras missões de “responsabilidade social”.

Apaixonado por vela, golfe, ténis e passeios a cavalo, segundo a biografia oficial, Paulo é CEO da Mirpuri Investments e gere negócios na aviação, imobiliário, florestas, agricultura e saúde, com ramificações internacionais. O gigante Airbus A380 estacionado no aeroporto de Beja, cedido em regime de leasing por um fundo alemão de investimentos à HiFly, propriedade da família Mirpuri, permitiu à companhia aérea ser contratada pelo Governo para trazer da China 30 toneladas de material de proteção e combate ao coronavírus, voo cujo contrato valeu à empresa perto de 95 mil euros. Solicitado a detalhar as razões da sua presença na Quinta do Barruncho, Paulo Mirpuri fez saber, através da sua assessoria, que se limitou a ir a um almoço “para o qual também foi convidado André Ventura”.

Sócio do escritório de advogados BSGG, João Pedro Gomes conheceu o líder do Chega nessa ocasião. “Não sou de esquerda, mas não pertenço a partidos. Se lá estivesse o Rui Rio, também iria. Com o António Costa é que não, já o ouço muitas vezes…”, ironiza o ex-presidente da Associação das Sociedades de Advogados de Portugal. A conversa, relata, andou à volta das propostas de Ventura para gerar riqueza e diminuir o peso do Estado. “É um advogado brilhante, podia estar a ganhar muito dinheiro num grande escritório, mas anda por aí a dar o litro. A imagem de extremista que lhe colam é um exagero…”. Outro convidado, Francisco Sá Nogueira, gerente da área turística da Helibravo, empresário e experiente consultor do setor, no qual foi vice-presidente da Espírito Santo Viagens e CEO da Netviagens, recusou falar à VISÃO de um assunto que considera “de natureza privada”. Quanto ao empresário José Ortigão Costa, outro dos presentes, a VISÃO não conseguiu contactá-lo.

Ventura no lançamento da sua candidatura presidencial, em fevereiro de 2020, em Portalegre

Pontes e bastidores

Quem não faz segredo da presença na Quinta do Barruncho é Francisco Cruz Martins. O advogado, apontado como dos mais ativos na promoção do líder do Chega e a fazer pontes para ele junto de diversos setores, nega tal importância, mas fala à vontade sobre o almoço. “Um grupo de amigos, muitos deles empresários, queriam ouvir o Ventura, conhecer as suas ideias, fazer perguntas”, explica. “Não falámos de financiamentos ao Chega, até ficava mal estarmos ali a discutir essas questões. Mas, no final, o sentimento geral foi no sentido de termos de ajudar o Chega e o André nisto. Quem quiser dar dinheiro, dá, sabendo-se que terá de contactar o partido para tal e fazê-lo dentro da lei.”

A fama de facilitador de negócios na área imobiliária acompanha Cruz Martins há anos. Em fevereiro de 2014, o advogado foi sequestrado por três indivíduos junto à sua casa no Estoril, e depois esfaqueado, espancado e até martelado num dedo, a pretexto de uma alegada dívida de três milhões de euros ao empresário António Leal da Silva. O seu papel num caso de burla ao Estado angolano, que a ele teria recorrido como testa de ferro na compra de ações do BANIF, e a passagem pela administração do polémico empreendimento Vale do Lobo ficaram no currículo.

Ex-sócio da Legalworks de Rui Gomes da Silva, antigo vice-presidente do Benfica e padrinho de casamento de André Ventura, Cruz Martins administra as imobiliárias Mocaja e Xaroco, ambas pertencentes à Breteuil Strategies, sediada no Chipre, um dos mais importantes paraísos fiscais europeus. O nome do advogado, de resto, foi amplamente citado no escândalo dos “Papéis do Panamá”, por causa das ligações a sociedades offshore. Nada que o importunasse: “Quando estive no estrangeiro, tive várias. Era por causa dos negócios lá fora. Se fosse contribuinte em Portugal, tinha de declarar em Portugal. Estando lá fora, não tinha. Não é nada do outro mundo. Tudo normal”, referiu então.

Cruz Martins autointitula-se “liberal de direita e democrata-cristão”.

Gosta do Chega. “Fazia falta um partido assim. O André está a abanar o statu quo e ataca os compadrios políticos”, reforça. Caçador, o advogado ouviu aos parceiros de tiro em Mértola, “pessoas humildes”, as razões do voto em Ventura nas legislativas: o abandono das pessoas do campo, a desertificação do mundo rural. “Só ouço falar bem do gajo, que quer que lhe diga? Isto é um País de esquerda, dificilmente ele será primeiro-ministro, mas fazia falta um tipo assim.”

Quem lho apresentou foi o amigo e dirigente nacional do Chega, Salvador Posser de Andrade. O encontro proporcionou-se no restaurante Parlatório, próximo da Assembleia, poiso habitual de ambos. “Só contactei com o Ventura quando ele já era deputado”, garante Cruz Martins. “Não, foi antes. Apresentei-os por altura da fundação do partido”, esclarece o administrador da Coporgest, detalhando: “Usei os meus contactos para dar a conhecer o André a certas personalidades, muitos deles empresários e intelectuais. Organizaram-se almoços e jantares e, agora, é uma bola de neve. O André é uma figura fascinante, quase mítica, gera muita curiosidade.”

Jaime Nogueira Pinto, cuja aura de ideólogo e de aglutinador das famílias da direita – nacionalista, conservadora e liberal – não renega, despertou para Ventura logo após a saída deste do PSD. Conheceu-o, lembra à VISÃO, num jantar em casa do “amigo e correligionário de longa data”, Posser de Andrade. No recente livro sobre as origens do partido, da autoria do investigador Riccardo Marchi, a versão é outra. “O futuro dirigente do Chega, Salvador Posser de Andrade – com um passado no CDS e no PND de Manuel Monteiro – recorda ter sido alertado para a figura de Ventura, em outubro de 2018, por Jaime Nogueira Pinto”, lê-se. Na verdade, Jaime e Ventura já se conheciam, pelo menos, desde março de 2017, quando apresentaram a obra O Efeito Trump e o Brexit, da autoria do advogado e fundador do Chega, Jorge Castela. “Foi o Jaime quem primeiro falou do Matteo Salvini ao André, num jantar. Ele nem sequer sabia quem era o líder da Liga Norte”, conta um amigo de ambos.

Jaime Nogueira Pinto não fez apenas isso. “Tive conversas com André Ventura como tenho com muitos outros políticos portugueses, da extrema-direita ao PCP”, esclarece. “O seu projeto pareceu interessante por ter princípios de direita nacional e independente. E, nesse espírito, organizei um jantar para amigos que não o conheciam e tinham curiosidade. Não fiz nenhum peditório nem pedidos de financiamento, nem financiei o Chega”, afirma, assumindo apenas papel de mediador para que avaliassem o projeto de Ventura em nome do combate ao “marxismo cultural” e ao “politicamente correto”. Por agora, mantém o “apoio crítico”, tal como fez, assinala, “em relação a todos os líderes ou movimentos políticos que se aproximaram dos valores políticos que me interessam – independência nacional e princípios de orientação permanente inspirados no cristianismo e na tradição ocidental”.

No início, “não havia muito dinheiro”, garante Posser de Andrade. “Foi um trabalho hercúleo. Uns davam dois ou três mil euros, e os meus contactos também serviram para angariar ajuda financeira, dentro dos limites legais, claro. Eu próprio contribuí”, recorda o dirigente nacional. Salvador promoveu encontros reservados para o efeito no luxuoso Hotel Palácio, no Estoril. “Mas a maior parte foi em minha casa.” Embora associado por dirigentes da fase inicial a essas reuniões para “angariação de fundos”, Francisco Cruz Martins garante nunca ter posto os pés na unidade hoteleira nem participado em sessões desse tipo, mais privadas. “Os valores que se recolheram em Portugal, no início, não eram muito significativos”, rememora Pedro Perestrello, antigo fundador do Chega, hoje desfiliado. “Mas a partir de certa altura, estranhamente, deixou de haver problemas de dinheiro.” No primeiro balanço anual que entregou na Entidade das Contas e Financiamentos Políticos, o Chega declarou apenas 24 mil euros nas legislativas que elegeram Ventura, uma pechincha, tendo em conta a impressionante campanha nacional feita.

Sobre os primórdios do Chega, Posser de Andrade assinala o facto de ter recorrido a laços privilegiados na área empresarial, mas as reações foram diferentes: uns pediram encontros com Ventura, “outros tiveram de ser abordados por mim”. Todos, contudo, “demonstraram abertura para reunir com o presidente”. Estes contactos, descreve Marchi no seu livro, decorreram antes das legislativas e tornaram-se mais fáceis depois do 6 de outubro de 2019.

Nessa época, o empresário com ligações à Chamusca, Eduardo Amaral Neto, descendente de um antigo deputado da ditadura, deu outro tipo de ajuda. “Confirmo que a minha casa em Alcântara foi sede provisória do Chega. Realizaram lá reuniões e guardaram material”, conta o dono da sociedade de consultoria e investimentos imobiliários Gavião Real. “É óbvio que há afinidade ideológica com o partido. Não cederia a chave nem emprestaria a casa se assim não fosse, mas não digo mais nada sem falar com os dirigentes.”

Durante algum tempo, o Chega também funcionou em casa de Ventura, mas o partido está como novo: abriu recentemente a sua sede, nas proximidades do Parlamento, no mesmo edifício da embaixada da Suécia, na Rua Miguel Lupi. “O André, agora, tem é de trabalhar menos. Já lhe disse que é urgente nomear um secretário-geral”, revela Posser de Andrade, desafiando Ventura a fazer orelhas moucas à conflitualidade interna e às guerras de protagonismo, dedicando-se em exclusivo a dar a cara pelo partido e a cultivar relações externas que possam suportá-lo. “Havendo a perspetiva de o partido crescer e ter mais deputados”, projeta Posser de Andrade, “é natural que comece a aparecer mais dinheiro e alguns amigos possam ajudar-nos a tornar o Chega maior”.

André Ventura com o antigo cônsul honorário nos EUA, César do Paço (à direita) e o presidente da distrital do Porto do Chega, José Lourenço. O empresário açoriano é uma dos apoiantes do Chega.

Era uma vez na América…

Tornar o Chega maior quase poderia ser uma adaptação caseira do slogan de campanha de Donald Trump, o famoso Make America Great Again. Nem de propósito: o dinheiro de um açoriano de nascença radicado nos EUA e o crescente poder de José Lourenço, seu conselheiro e presidente da distrital do Porto do Chega, estão na origem de suspeitas de financiamento, conflitos e dissidências no partido.

A direção de Ventura e o próprio César do Paço, ex-cônsul honorário de Portugal em Palm Coast (Flórida) – cargo do qual foi exonerado, a seu pedido, em maio –, desmentem donativos ao Chega, mas a proximidade é questionada. Dono da multinacional Summit Nutritionals, César comercializa, à escala global, matérias-primas para as indústrias farmacêutica, veterinária e alimentar.

O seu poder financeiro, as boas relações com o Chega e as iniciativas em conjunto alimentam conspirações. Além dos encontros com a direção do partido, César participou no comício do Porto, onde ocorreu a célebre saudação nazi que o Ministério Público investiga, financiou uma doação de equipamentos aos bombeiros de Carnaxide no âmbito de uma ação do Chega e, não fosse a pandemia, Ventura teria participado em Cabo Verde na tomada de posse de Deanna, esposa do empresário, como consulesa honorária daquele país, à margem da promoção internacional do partido.

Através do advogado José Carvalho Araújo, César do Paço reivindicou à VISÃO o seu carácter “apartidário” e garante ter amigos em todos os quadrantes políticos, aqui e nos EUA. “A sua filantropia e solidariedade dirigem-se apenas a causas e projetos sociais, culturais e, sobretudo, àqueles que corajosamente defendem a paz e a segurança de pessoas e bens, como é o caso das forças policiais e associações humanitárias”.

O facto de o conselheiro José Lourenço ocupar lugar de relevo no Chega “não tem qualquer outro significado ou influência na sua equidistância”. E, novamente através do advogado, assegura: o empresário “nunca financiou ou alguma vez financiará qualquer partido.” A memória, contudo, também falha: o CDS confirmou oficialmente à VISÃO ter recebido uma transferência de dez mil euros de César do Paço para o partido a 16 de abril de 2019, ano em que a mulher do empresário, Deanna, encabeçou a lista dos centristas pelo círculo Fora da Europa. [A SIC adiantou, entretanto, que César do Paço fez também um donativo ao Chega superior a 10 mil euros, permitido por lei].

O anúncio recente da criação da Fundação DePaço, ainda sem reconhecimento oficial, sediada na morada da filial da empresa em Cascais, levantou, entretanto, celeuma. José Lourenço é o diretor-executivo e, conforme referiu à TV regional online Novum Canal, a instituição “vai ser pau para toda a colher”, tendo em vista “fins beneméritos e filantrópicos”. O conselho consultivo integra Nuno Melo (CDS) [que, entretanto, saiu], José Cesário e Carlos Gonçalves (PSD), e Diogo Pacheco de Amorim (Chega). “Coloquei a questão ao André e ele não levantou objeções. É um cargo não remunerado”, justifica o vice-presidente, separando águas. “Não entrou um cêntimo do dr. César no partido”, garante, embora admita sintonia. “Ele tem um percurso reconhecido nos EUA e nunca renegou a nacionalidade portuguesa. Esteve vários anos no CDS, mas, na sua opinião, o partido já não é o mesmo. Aproximou-se de nós e, por isso, admito que sinta afinidade ideológica pelo Chega.”

André Ventura reforçou à VISÃO a existência de “uma relação de respeito e admiração” com o empresário português, dado o seu “reconhecido sucesso internacional”. Mas o cargo do vice-presidente na Fundação DePaço e “a vergonhosa campanha do Porto” que resultou na vitória de José Lourenço motivaram uma reação pública violenta do ex-dirigente nacional, Miguel Tristão Teixeira. O líder do partido acusou-o de promover a “bandalheira” e desencadeou um processo disciplinar tendo em vista a sua expulsão. O ex-líder do Chega na Madeira antecipou-se e saiu pelo seu pé. “As ligações privilegiadas do empresário ao partido são claras e preocupantes. André Ventura foi alertado para os riscos da proximidade, até pela forma como decorreram as eleições no Porto”, referiu à VISÃO. “José Lourenço é uma espécie de testa de ferro do César e os negócios parecem sempre estranhos. Temo que o Chega se associe a situações menos claras, até porque ninguém acede a informações sobre o dinheiro que entra e como é gasto”, acusa.

O líder da distrital do Porto, com percurso na consultoria e nos negócios imobiliários, considera “abusivo” ser adjetivado como testa de ferro e nega a existência de ambições políticas ou interferências na vida partidária da parte de César do Paço. No seu caso particular, admite a existência de dívidas fiscais, que teve de enfrentar vendendo vários imóveis. Lourenço contesta os valores da liquidação pendente nas Finanças e garante: o problema está em vias de resolução. “Ele teve diversos negócios em João Pessoa, na Paraíba, coisas pouco claras”, recorda Carlos Páscoa, ex-deputado do PSD eleito pelo Brasil. “Através de um funcionário do nosso consulado no Recife, chegaram-me informações pouco abonatórias. Tentou ser cônsul honorário na região para ter projeção, mas não passava de um mero facilitador de negócios”, assegura.

César do Paço, por seu lado, não se livra de narrativas carregadas de luzes e sombras em relação ao seu percurso.

Na versão do conselheiro, o empresário “tem um património brutal”. Quando o conheceu, Lourenço viu “ao vivo e a cores” algo que só observara nos filmes: “Determinado tipo de carros, hotéis, segurança…” César é, segundo ele, “xerife honorário de vários condados” e “polícia honorário de vários estados”. Por cá, apoia o Movimento Zero e é membro honorário e consultor da Associação Portuguesa de Criminologia, organização em que convivem dirigentes do Chega, elementos da Polícia Judiciária e militares experientes. Fanático da defesa e do apoio às forças de segurança, o antigo cônsul exibe com frequência as ajudas às corporações policiais, que incluem armas, coletes antibala, carros e os famosos cães K-9. “Tem o coração do tamanho dos EUA”, descreve Lourenço. “É de uma educação sublime, dos mais altos valores”, mas “duro ao nível de negócios”. jornal Luso-Americano costuma destacar as suas ações de filantropia e as fotografias com ilustres da política portuguesa, por exemplo, mas não se trata de conteúdo editorial. “É publicidade paga. Cada página custa 600 a 700 dólares”, confirmaram à VISÃO fontes da direção do jornal.

Exibindo uma “capacidade financeira fora do comum” e apesar de recordado, nos EUA, como “ferrenho benfiquista”, César do Paço está em negociações para ser acionista da SAD do clube de Fernando Madureira, líder da claque Super Dragões, e patrocina a secção de boxe do FC Porto. “Até já ouvi dizer que ele ia comprar o Canelas para lavar dinheiro…”, ironizou José Lourenço.

Em território americano, as versões são mais desencontradas.

Segundo relatos de cinco ex-colaboradores de César do Paço e respeitados líderes de instituições da emigração portuguesa nos EUA, que solicitaram anonimato por recearem represálias ou estarem obrigados a acordos de confidencialidade, o percurso do ex-cônsul e empresário é controverso. “Era uma figura estranha à comunidade, mas foi-se infiltrando nos eventos do consulado. Depois, começou a aparecer rodeado de seguranças e sempre com o objetivo de chegar a posições cimeiras. Moral e eticamente, nunca se poderá estar à vontade com ele. O que faz é atirar dinheiro para cima de toda a gente”, descrevem-no. As autoridades americanas retiraram a César do Paço o privilégio de atravessar rapidamente, e com procedimentos inspetivos mínimos, as fronteiras do país, mas o empresário garante que tal se deveu a uma confusão de nomes, entretanto solucionada.

Em sua defesa, sai o açoriano e amigo de infância Hélder Fragueiro Antunes, parceiro de César do Paço em alguns negócios. Para o ex-executivo da Cisco, tecnólogo e CEO da CyVolve, empresa especializada em cibersegurança, as contribuições de César para a comunidade emigrante e o País “são notórias e incontestáveis. Financiou do seu próprio bolso as operações do consulado e, infelizmente, como todos sabem, quando alertou o Governo português sobre irregularidades e possíveis crimes de um funcionário consular, eles tentaram varrer o assunto para debaixo do tapete e ignoraram questões que deviam ser levadas muito a sério”.

Primo de Miguel Frasquilho, chairman da TAP, Hélder Antunes trabalhou com vários governos nas áreas da tecnologia, educação e empreendedorismo, mas hoje vê o País “capturado por interesses obscuros e pela corrupção”. Com exceções: mesmo não conhecendo Ventura pessoalmente, Hélder é amigo do líder do Chega nas redes sociais e considera-o “um sopro de ar fresco”, mesmo nem sempre estando de acordo com ele. “Adoro as suas intervenções no Parlamento”, sustenta, mas considera existir, “com cumplicidade dos média”, uma estratégia para silenciar Ventura e o partido. “Adoro o facto de levantarem questões que a máquina política do sistema deseja enterrar”, assume. “Conheço algumas pessoas do Chega e aplaudo-as por terem coragem de falar sobre assuntos considerados ‘politicamente incorretos’.”

Com o PSD “em frangalhos”, Hélder admite simpatias por Ventura. E até pode ir mais longe. “Sou a favor do que o Chega está a fazer e, se puder ser útil e tiver tempo para isso, porque não?”, questiona, disponível para trabalhar abertamente com todos “pelo bem de Portugal”. Na Noruega, Hélder é próximo do parlamentar do Partido do Progresso (FRP, no original), Himanshu Gulati, a pedido do qual fez duas conferências sobre segurança cibernética, mas nega vínculos comerciais com o deputado ou ligações ao partido, que considera de “direita libertária”. Na Imprensa internacional, o FRP é associado, com frequência, à direita radical populista e a posições racistas e anti-imigração. 

A Neurons Paradise foi contratada pelo Chega para gerir as inscrições no partido, as bases de dados e agilizar a propaganda nas redes sociais

Portugal, Itália, Dubai

Aos olhos de empresários e figuras que pesam e decidem milhões no mundo dos negócios, o Chega revela-se, pelos vistos, cada vez mais atrativo. Mas o mediatismo e o extremar da sociedade portuguesa através das propostas e controvérsias protagonizadas por Ventura também atraem adeptos, não obstante polémicas internas e ameaças de abandono por parte de dezenas de militantes. Mas há também quem suba degraus: Ana Vitória Ferreira, da Nova Aliança Igreja Cristã, é a nova conquista evangélica no conselho nacional.

Enquanto isso, o Chega também vai investindo no digital. Literalmente: a VISÃO encontrou exemplos de propaganda paga pelo partido ao Facebook. Uma das páginas, associada a André Ventura, despertou curiosidade: é gerida por quatro pessoas em Portugal e duas… na Noruega.  

Em fevereiro, a direção do partido decidiu profissionalizar a gestão das inscrições e a manutenção da base de dados, agilizando também a partilha de informação interna e externa, da comunicação do líder com as bases à difusão de propaganda na internet e nas redes sociais, em colaboração com a equipa existente. Foi contratada a Neurons Paradise, de João Pereira da Silva e da gestora Céu Ferreira, criada a 31 de outubro de 2019. Neste momento, confirmou Gerardo Pedro à VISÃO, a empresa já “tem acesso ao servidor”.

A sede da Neurons e a residência do angolano João Pereira da Silva coincidem.

As atividades são variadas: transporte de passageiros em veículos descaracterizados (TVDE), entrega de encomendas e programação informática. João tem ainda uma sociedade de componentes eletrónicos, em Viterbo (Itália). Já a sócia-gerente da Neurons está ligada à Webwise, prestadora de serviços na área informática. As ramificações desta chegam ao Dubai, onde outra sociedade, a Solidtier, foi registada por Pedro Bettencourt Figueiredo, companheiro de Céu Ferreira – de cujo endereço foram também trocados emails com o partido – e responsável técnico da Neurons. “Quem faz a gestão do cliente Chega é o João. A Webwise fornecia software à Solidtier, mas a empresa já não existe. O Pedro Figueiredo é um consultor externo altamente qualificado na gestão tecnológica de recursos”, explicou.

João Pereira da Silva recusou, à primeira, falar com a VISÃO. De novo contactado, acedeu, recusando dar detalhes do contrato. Foi motorista da Uber até ao ano passado, assume-se de direita e combate “a hegemonia cultural da esquerda”. Quanto à difusão de perfis falsos associados ao Chega, ri-se e desconversa: “O que encontrei foi, isso sim, um grande movimento, espontâneo e voluntarioso. É uma cultura diferente de outros partidos. Ainda há um certo idealismo…”

Idealismo e sintonia. Em rede.

Em resposta a uma caricatura de Ventura (o Hitlerilas) feita por Ricardo Araújo Pereira no programa Isto é Gozar com Quem Trabalha, da SIC, João Pereira da Silva partilhou, pelas 15h11 de 8 de junho, a sua criação original desse dia: a caricatura do humorista trajado de Estaline, sugerindo a partilha.

Às 17h38, uma página do Facebook associada a André Ventura fazia o mesmo. O Stalinelarilas fez então o seu caminho. Em massa.

(Artigo publicado a 23 de julho de 2020 na edição impressa da VISÃO)

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