“É um cenário triste.” É desta forma que um dirigente do PSD resume aquilo que está a acontecer nas estruturas do partido no Porto. A distrital vai este sábado a votos, numa eleição que servirá para reconduzir Alberto Machado como presidente, mas o aparelho está a ferro e fogo. Cinco concelhias também deveriam eleger novas comissões políticas, mas em três delas (Lousada, Valongo e Paços de Ferreira) ninguém se candidatou.
Se é certo que Cristóvão Simão Ribeiro (Lousada), Trindade Vale (Valongo) e Joaquim Pinto (Paços de Ferreira) já tinham decidido que não voltariam a concorrer, a verdade é que os conflitos internos continuam a agitar a máquina “laranja”. “Tem havido uma degradação do funcionamento das estruturas e uma desconsideração enorme de várias concelhias por parte da distrital”, desabafa um dirigente local, que acusa Alberto Machado (apoiante de Rui Rio) de ter “promovido divisões” nas várias secções do Porto e que sugere que isso poderá vir a ter consequências na mobilização dos militantes a pouco mais de um ano de eleições para o poder local.
A VISÃO apurou que os resquícios das disputas fratricidas de Rui Rio com Pedro Santana Lopes (2018) e com Luís Montenegro (2020), a constituição das listas de candidatos a deputados e a preparação das autárquicas são fatores incontornáveis para que as divergências continuem acesas. “Tem havido uma hostilização de grande parte do distrito”, confidencia um social-democrata desalinhado. Outro crítico do presidente da distrital não iliba Rui Rio, apontando o dedo à “forma unipessoal com que o presidente gere o partido”.
Trindade Vale, presidente cessante da concelhia de Valongo (que tem cerca de mil militantes), é contida na verbalização da indignação, mas atira: “Não concorro novamente por estar dececionada com o que se está a passar à minha volta. Tudo bem que houve pandemia, mas nunca tive uma palavra sobre nada. Não podemos reunir, mas há telefones e outras formas de comunicar…” Além disso, considera que “chegou a altura de haver uma renovação e de aparecerem novos protagonistas”, o que, lamenta, “não aconteceu”.
Por sua vez, Joaquim Pinto, líder que termina funções em Paços de Ferreira (onde estão inscritos cerca de 150 sociais-democratas), nega cisões com a distrital e assinala que integra até a lista de Alberto Machado, como tesoureiro, à distrital. Recusa que esteja em marcha alguma “retaliação” e frisa que o confinamento ditado pela Covid-19 “condicionou o debate interno”, pelo que acabou por ser engolido pelo calendário fixado pela distrital.
Já Cristóvão Simão Ribeiro, de Lousada (onde estão mais de mil pessoas filiadas), deputado na duas últimas legislaturas e ex- presidente da JSD, quando contactado pela VISÃO, recusou tecer comentários.
Ora, num círculo em que o PSD elegeu 15 deputados em 2019, a mercearia partidária não foi, de facto, favorável às concelhias que estão agora sem candidatos. A primeira indicação de Paços de Ferreira (o próprio Joaquim Pinto) foi o 16º da lista no Porto, a primeira escolha de Valongo (o ex-deputado Miguel Santos, genro de Trindade Vale) não foi além do 29º lugar e a primeira aposta de Lousada (que recaiu sobre Cristóvão Simão Ribeiro) foi relegada para a 33ª posição.
Em declarações à VISÃO, esta sexta-feira de manhã, Alberto Machado procurou esvaziar a polémica, mas não deixou os críticos sem resposta. Garantiu que a lista para a distrital “abrange todos os concelhos”, disse que o vazio de listas deriva somente “de questões locais”, mas advertiu que “as concelhias não têm de influir nas escolhas da distrital”. Da mesma forma, reforçou, que o próprio “não pede meças ao presidente do partido” na composição da direção nacional.
E mais: o também deputado não vislumbra qualquer motivo para que a turbulência que antecedeu as legislativas tenha reaparecido – e lava as mãos de responsabilidades. “Esse processo foi conturbado, mas está encerrado. Foram feitas escolhas pelo líder do partido e funcionaram, deram bom resultado. Elegemos mais um deputado”, enfatiza Alberto Machado.
Já ao início da tarde, num segundo contacto, o dirigente portuense indicou à VISÃO que os sufrágios nas três concelhias tinham, afinal, sido adiados. E que, ao abrigo dos estatutos do partido, tinha sido acionada a prorrogativa da convocação de eleições pela distrital, retirando-a às mesas das assembleias das secções. Sobre este protelamento, decidido após a conversa com a VISÃO, Alberto Machado afirmou apenas que “o órgão competente, a mesa do plenário, a Assembleia da Distrital, remarcará as eleições para o mais breve possível”.
Assim, caberá a Paulo Rangel – que substituirá António Bragança Fernandes na presidência da Mesa da Assembleia Distrital do PSD/Porto – agendar esses atos eleitorais, mas Alberto Machado antecipa, desde já, que Paços de Ferreira irá a votos “no final de julho”, ao passo que Lousada e Valongo escolherão novos representantes “em meados de setembro”.