É ponto assente: caso o PSD decida apoiar a recandidatura de Isaltino Morais à Câmara Municipal de Oeiras, o CDS arrepiará caminho e avançará sozinho para essa eleição. Segundo apurou a VISÃO, os centristas entendem que é mais nocivo, a nível nacional, ficarem “colados” à imagem do atual presidente do executivo local – que cumpriu pena por fraude fiscal e branqueamento de capitais – do que terem um candidato próprio, que consiga “pescar” votos entre sociais-democratas descontentes e, assim, possa ter um resultado aceitável.
Em declarações à VISÃO, Nuno Gusmão, presidente da concelhia de Oeiras dos democratas-cristãos, demarca-se do quadro pintado por responsáveis locais, distritais e nacionais do PSD (que a VISÃO noticiou na edição da semana passada) e é categórico ao afirmar que apoiar Isaltino “é um cenário que não se coloca”. Desde logo, explica o dirigente, porque “falta um ano e três meses” para as autárquicas, mas também porque o projeto do homem que, em tempos, o partido liderado por Rui Rio considerou o seu “autarca-modelo” não é compaginável com o do CDS.
“Nós mantivemo-nos fiéis ao programa que, conjuntamente, apresentámos com o PSD e com o qual fomos a votos em 2017”, defende Nuno Gusmão, apontando como exemplos as questões relacionadas com a natalidade, com a mobilidade e os transportes e com a redução de impostos (IMI e IRS). E, de pronto, surge a alfinetada aos habituais parceiros de coligação, que ao longo do atual mandato se foram aproximando da maioria chefiada por Isaltino: “Quem, de alguma forma, não deu continuidade ao projeto que apresentámos foi o PSD…”
Nuno Gusmão não se mostra atemorizado perante a hipótese de plataforma que incluiu PSD, CDS e MPT (encabeçada nas últimas eleições pelo social-democrata Ângelo Pereira) vir a ruir. Aí, antecipa, haverá uma personalidade do partido a ir a jogo. “Sim, o CDS quererá ter um candidato próprio, que represente o espaço político da direita democrática, com peso nacional e que tenha afinidade com o concelho”, salienta, observando, contudo, que os oeirenses não gostam dos chamados “paraquedistas” – e até aponta o fraco resultado do PS em 2017, com Joaquim Raposo, como paradigmático.
Assim como o líder concelhio evita falar de nomes alternativos, o presidente da distrital de Lisboa também revela cautelas. Esse timing, sinaliza João Gonçalves Pereira, ainda não chegou. Agora, sustenta o também deputado, é hora de Francisco Rodrigues dos Santos definir o caminho: “Neste momento, é importante, antes de mais, que haja uma definição da estratégia autárquica do partido e, com base nela, as concelhias e as distritais darão desenvolvimento aos vários processos.” E mais não adianta.
Seja como for, a VISÃO apurou que a figura que preenche os requisitos definidos pelo aparelho centrista é Filipe Lobo d’Ávila. O ex-secretário de Estado da Administração Interna e primeiro vice-presidente do CDS seria a cartada mais forte para que o partido procurasse ter um resultado honroso em Oeiras. E não será de excluir que venha a ser pressionado para abraçar esse desafio.
E se no CDS todos dão como adquirido que a vitória, com maioria absoluta, não escapa a Isaltino (com ou sem apoio do PSD), a meta para as eleições do próximo ano não deixa, ainda assim, de ser ambiciosa. “Iremos trabalhar para eleger um vereador de forma a podermos influenciar as políticas da câmara, mas temos de perceber que o momento do partido não é fácil…”, remata Nuno Gusmão.
Há três anos, recorde-se, o movimento independente Inovar – Oeiras de Volta (IN-OV), de Isaltino, alcançou 41,65% dos votos (seis mandatos), contra os 14,18% dos Independentes Oeiras Mais à Frente (IOMAF), de Paulo Vistas (dois vereadores), os 13,42% do PS, os 8,77% da coligação PSD/CDS/MPT e os 7,84% da CDU. Cada uma das três últimas listas não foi além de um lugar no executivo camarário.