A alegada candidatura presidencial de Adolfo Mesquita Nunes está a deixar irritada a direção de Francisco Rodrigues dos Santos. Os sinais de desconforto são cada vez mais notórios – depois da reunião de sábado, 16, da Comissão Política Nacional em que o assunto foi abordado – e esta terça-feira um membro daquele órgão, Miguel Mattos Chaves, foi contundente nas críticas ao antigo secretário de Estado do Turismo.
Comentando uma partilha de um texto do Expresso, que citava um artigo de Mesquita Nunes no Negócios, feita pelo assessor de imprensa do CDS, Mattos Chaves foi abrasivo. “Os Portistas (apaniguados de Paulo Portas e Cristas) não desistem… querem mesmo destruir o CDS. Mesmo depois da derrota estrondosa a que sujeitaram o Partido”, começou por comentar o dirigente dos democratas-cristãos.
A tese de Mattos Chaves é que os “grandes ‘democratas'” da ala que apoiou João Almeida “não aceitam o resultado” do Congresso de janeiro, no qual foi eleita a direção encabeçada por Rodrigues dos Santos. “Sabem uma coisa?” – questiona no mesmo texto no Facebook – “O Partido é dos Militantes e não propriedade vossa. E os Militantes decidiram apear a antiga direcção, onde Mesquita Nunes era Vice-Presidente e autor do Programa do CDS, que nos levou a esse resultado.”
A conclusão do dirigente, que no último conclave apresentou uma moção de estratégia – que abdicou de levar a votos a favor da candidatura de ‘Chicão’ e na qual fazia, entre outras coisas, a apologia da “família natural” (composta por pai, mãe e filhos) e do casamento como “forma de união entre homem e mulher” -, é que Mesquita Nunes não poderá ser a aposta do CDS para enfrentar Marcelo Rebelo de Sousa. “Este senhor candidato a Presidente? Deixem-me rir. Se o for, os Votos noutras forças da Direita, subirão exponencialmente”, sentenciou Mattos Chaves.
O artigo que o vogal da Comissão Política Nacional usou para atacar o adversário interno é, no fundo, uma homenagem a Francisco Lucas Pires, ex-líder do CDS, do grupo de Ofir e figura maior da corrente liberal, na semana em que se cumprem 22 anos desde a sua morte. No texto, intitulado “É pelo Homem e não pelo Estado que tem de se começar”, que está a ser interpretado como um manifesto pré-eleitoral, Mesquita Nunes é categórico: “Num mundo cada vez mais polarizado, radicalizado, em que a direita acha que para vencer a esquerda tem de extremar-se e a esquerda acha que para vencer a direita tem de extremar-se, faz-nos tanta falta quem transforme a liberdade em ambição, a sensatez em radicalidade, o cosmopolitismo em paixão, a cultura em sentimento, a sociedade aberta em projeto.”
“São tempos duros, estes, em que surgem forças estranhas, lesivas, sedutoras, que procuram destruir a sociedade aberta em que, apesar de tudo, o Mundo se transformou”, prossegue o antigo deputado, frisando que essas forças – em cuja descrição parece encaicar o posicionamento de André Ventura – “lidam essencialmente com o medo”. “Porque é medo o que hoje se sente. O medo face ao novo, ao estrangeiro, ao que nos interpela, ao que concorre connosco. Medo de novas pessoas, novas culturas, novos produtos, novos serviços, novas máquinas, novos concorrentes, novas ideias”, realça.