Quando nada o faria prever, e com o País ainda a responder à crise sanitária e económica provocada pela Covid-19, António Costa detonou a bomba sobre o apoio do PS (explícito ou por omissão) à recandidatura presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa. A sete meses do ato eleitoral, os efeitos foram notórios, sobretudo, à direita. Se, entre antigos e novos partidos, há quem defenda que devem surgir outras figuras para evitar a bipolarização entre o atual Chefe do Estado e André Ventura, o PSD não vai nessa conversa. Mesmo que Marcelo, por vezes, deixe a direção de Rui Rio à beira de um ataque de nervos, será ele o candidato apoiado pelos sociais-democratas.
“Por mais ardiloso que seja o António Costa, o Marcelo é um trunfo do PSD e vai ser jogado na altura certa”, diz um alto dirigente do partido, sob anonimato, em declarações à VISÃO. No momento oportuno, que essa fonte recusa antecipar, a intenção da cúpula de Rio é frisar que é o secretário-geral do PS que está a “colar-se”, contranatura, a uma candidatura potencialmente vencedora. “Quem está a apoiar um candidato que não é do seu quadrante político é o Costa”, reforça o mesmo interlocutor.
De parte, para esse dirigente, está qualquer hipótese de os sociais-democratas estarem ao lado de outra personalidade que visasse capitalizar o descontentamento de uma franja dos militantes com o atual Presidente, como chegou a sugerir, também em declarações à VISÃO, Miguel Morgado, ex-deputado e antigo assessor político de Pedro Passos Coelho.
Ora, enquanto no PSD o problema da corrida a Belém parece estar arrumado, mais à direita a situação afigura-se delicada. Esta sexta-feira, a VISÃO noticiou que Carlos Guimarães Pinto é o preferido da direção da Iniciativa Liberal para o sufrágio que deverá ocorrer em janeiro do próximo ano, mas o ex-líder do partido apontou para outro nome, também da linha liberal: Adolfo Mesquita Nunes.
O antigo secretário de Estado do Turismo e ex-vice-presidente do CDS parece, contudo, suscitar algumas reservas ao próprio presidente dos centristas. Contactado pela VISÃO, Francisco Rodrigues dos Santos, que tem feito diversas críticas ao exercício do cargo por parte de Marcelo, não dá, contudo, gás a qualquer pretensão daquele que é apontado como um dos seus principais opositores no partido.
“O CDS não alimenta especulações políticas e a prioridade do partido é apresentar um programa de emergência social e económico para apoiar as famílias e as empresas que estão a passar graves dificuldades com esta crise”, responde o presidente dos democratas-cristãos, recusando pronunciar-se sobre a sugestão de Guimarães Pinto.
No sábado, 8, “Chicão” (como é conhecido no partido) tinha feito, em entrevista ao Expresso, um remoque sobre a alegada intimidade do Chefe do Estado com o PS e esta quarta-feira, 13, depois de Marcelo e Costa terem visitado a Autoeuropa e, em conjunto, puxado o tapete a Mário Centeno na questão do empréstimo de 850 milhões de euros ao Novo Banco, voltou a atacar. “Seria prudente que, neste processo, o Presidente da República zelasse pelo regular funcionamento das instituições e evitasse ser arrastado para conflito, não lhe cabendo coordenar o Governo”, observou Rodrigues dos Santos, numa nota enviada à VISÃO, indo ao encontro do apelo que fizera para que a primeira figura do Estado não embarque “numa espécie de banalização” das funções que desempenha.
Nessa mesma entrevista, recorde-se, Rodrigues dos Santos procurou também travar uma eventual entrada de Mesquita Nunes, principal rosto da corrente liberal, na corrida à presidência do CDS no próximo congresso (que será marcado, previsivelmente, para ainda antes das legislativas).
“Adolfo Mesquita Nunes retirou-se da atividade política para se dedicar ao mundo dos negócios. E estávamos na altura num período pré-eleitoral em que o próprio Adolfo era coordenador do programa do CDS. Se numa altura tão exigente, em que era tão preciso, decidiu tomar essa opção, que acho legítima, não creio que vá agora fazer um mortal à retaguarda. Dito isto, não estou preocupado com a liderança do partido”, respondeu o democrata-cristão ao semanário.