António Costa abriu a caixa de Pandora das presidenciais do próximo ano. Esta quarta-feira, com Marcelo Rebelo de Sousa ao lado, no final de uma visita à Autoeuropa, em Palmela, o primeiro-ministro lançou um desafio em jeito de apoio: queria voltar ali já no próximo ano e queria fazê-lo com a mesma companhia de hoje e de 2016. O desafio competiu em espaço mediático com o desacerto entre Costa e Mário Centeno a propósito do Novo Banco, mas não passou despercebido a outras figuras do PS. A declaração do primeiro-ministro “tem consequências políticas”, admite o ex-ministro e atual eurodeputado Pedro Marques. É que o primeiro-ministro, assinala, “é o secretário-geral do PS”.
Decisão tomada? Socialistas em força no apoio a uma recandidatura de Marcelo ao Palácio de Belém? Ao que a VISÃO apurou junto de fontes do Largo do Rato, as declarações de António Costa foram proferidas sem que o assunto tivesse sido discutido nos órgãos internos do PS. Não há uma “estratégia” por detrás da intervenção em Palmela e, por isso, não há um apoio declarado do partido ao nome de Marcelo nas eleições do próximo ano. Mas o desafio “tem consequências políticas”, assume Pedro Marques, que até às últimas europeias tinha lugar no Conselho de Ministros e integrava o núcleo de coordenação política do Governo.
“O primeiro-ministro que falou na recandidatura do atual presidente é, também, secretário-geral do PS”, destaca o eurodeputado. Para lá da constatação óbvio, há um sentido político nas palavras: é que, ainda que o assunto não tenha sido discutido internamente, o facto de o líder do partido abrir a porta ao apoio de um candidato do centro-direita influencia o debate interno que se venha a produzir daqui para a frente. No interior do partido, a ideia defendida por alguns socialistas é a de que, com uma pandemia de duração imprevista e com a crise económica a aproximar-se a passo acelerado, seria incomportável que não houvesse total sintonia entre os dois órgãos de soberania.
Pedro Marques não abre o jogo sobre eventuais apoios pessoais. Essa pergunta poderá ter resposta quando, e se, Marcelo anunciar a sua intenção de ser candidato a um segundo mandato (o calendário do Presidente atirava esse anúncio para novembro, ainda que a reação desta quinta-feira tenha deixado sinais claros da vontade de avançar para mais cinco anos de presidência). Aquilo que o eurodeputado diz, para já, é que “o Presidente Marcelo fez um mandato de cinco anos muito bom para Portugal e, se decidir recandidatar-se, os próximos cinco anos serão igualmente bons para o país”.
Ora, nem Marcelo ainda disse ao que vai nem qualquer partido fornalizou eventuais apoios ao atual Chefe de Estado. Para Marques, é “incompreensível” que o PSD mantenha o tabu. “É incompreensível que aquele que foi sempre o partido de Marcelo Rebelo de Sousa não se tenha colocado na linha da frente do apoio a uma recandidatura”, atira o eurodeputado.