O número é 40. A renovação da comissão política do PSD deverá atingir cerca de quarenta por cento dos seus membros, segundo as fontes da direção do partido. Ninguém fala em revolução, mas sim em renovação. Mas só ao final da tarde de sábado, 8, se fará luz sobre os nomes em ascensão e os que serão afastados com um “boa tarde, muito obrigado” e duas palmadinhas nas costas.
Isto soube a VISÃO já na saída dos congressistas para o almoço. Os que estavam na sala, bem entendido. Na verdade, antes, pelas 11.45, assistira-se em Viana do Castelo a um corrupio de fazer fila imensa, engrossado por militantes e delegados sociais-democratas. Não, o corre-corre não foi para a porta do congresso do PSD, à beira Lima, com o objetivo de assistir aos discursos. O afã matinal foi, sim, direcionado para a confeitaria Natário, a dez minutos do local onde decorre oconclave “laranja”. Ali, dezenas de pessoas aguardaram, pacientes, as fornadas das tradicionais bolas de Berlim que, tantas vezes, fizeram o escritor Jorge Amado lamber os beiços com essa poesia cremosa, polvilhada de canela.
Ora, enquanto delegados e militantes enfileiravam no estreito corredor do Natário, de credenciais ao dependuro, salivando pela tentação pecaminosa da doçaria minhota, dezenas de congressistas ensaiavam a mais difícil e amarga das prestações destas reuniões-magnas: a arte de falar para o boneco. Ou para salas despidas. Ou para corredores de intriga. É só escolher.
Falta a este congresso um Porto-Benfica. Ou, como quem diz, um despique, a tal disputa de engalfinhar“exércitos”, incensar “generais” e fazer contagens de “artilharia”. Os partidos gostam destes ambientes e retóricas militares, onde “batalhas” se travam até ao último segundo, até ao último lance, e parecem pouco disponíveis para reuniões mansas de família. Durante a manhã, foram dezenas os oradores que se sentiram fora de jogo: quem estava sentado, parecia distraído. Quem estava nos corredores, cochichava, fazia selfies, listas e combinava almoços. Mulheres e homens falavam, ouvindo-se muitas vezes apenas a si próprios.
Mas se alguém passou, nesta matéria, pelas provas de Cristo foi António Pinheiro Torres, na noite de sexta. O advogado lisboeta apresentou a moção K, sobre a eutanásia, para uma sala que mais parecia talhada para uma confraternização de amigos que não se viam há muitos congressos. O ex-deputado bem tentou alertar os presentes para a necessidade de o PSD encarar o tema, de uma vez por todas, via referendo. O presidente do partido até estava de frente para ele, mas falava para os lados, em conversa com Salvador Malheiro e Nuno Morais Sarmento, todos com aquele encolher de ombros comprometido, tático, a olhar de baixo para cima, como quem está com a cabeça noutro lado. “Não tenho a sorte de chamar especialmente a atenção do doutor Rui Rio”, lamentou-se António Pinheiro Torres. “Estou a falar de um assunto que é tão importante para as próximas duas semanas, mas paciência, é a vida.”. No caso, o tema até era a morte. Mas se o PSD estava vivo, não era bem ali.