O 28º Congresso do CDS começou sob um manto de incerteza em relação à viabilidade do partido e, no encerramento, o novo presidente, Francisco Rodrigues dos Santos, fez questão de serenar os delegados. Na ótica do sucessor de Assunção Cristas, não existe risco de extinção, pelo que não existe necessidade de ser “muleta” de quem quer que seja. “Não seremos mordomos de ninguém, não nos vamos diluir em nenhuma força política.”
Logo a abrir a intervenção, no Parque de Feiras e Exposições de Aveiro, frisara que este foi o conclave foi “uma prova para aqueles que achavam que o CDS podia estar a viver um período de definhamento”, depois das últimas legislativas. “O lugar do CDS é insubstituível, daqui não arredamos pé e estamos cá para combater as esquerdas e o socialismo vigente em Portugal”, reforçou “Chicão” (como é conhecido nas hostes democratas-cristãs).
Ao mesmo tempo que deu a carga de ombro ao Chega e à Iniciativa Liberal, o até aqui líder da Juventude Popular (JP) também empurrou Rui Rio para longe do espaço que pretende ocupar. Não entregando o centro de bandeja, procurou já marcar terreno: “Sejamos claros: à direita, lidera o CDS, não lidera nenhum outro partido. (…) Seremos uma nova direita para Portugal”, assegurou, antes de realçar que, nos próximos anos, tenciona personificar uma “síntese” entre as linhas de Manuel Monteiro (a quem escancarou as portas do Largo do Caldas), Paulo Portas e Francisco Lucas Pires.
O objetivo mais imediato é que a sua “nova direita” possa traduzir um reforço de mandatos autárquicos para os centristas – não só em número de vereadores, mas, sobretudo, em presidências de câmaras, segundo disse. Ao enfatizar, como na véspera, que não está preocupado com o facto de não ter assento parlamentar – “a minha assembleia será o País, o meu escritório serão as ruas”, repetiu -, Rodrigues dos Santos defendeu que é peciso “acabar com a folga que tem sido dada ao Governo” de António Costa e pediu que sejam já lançadas “as bases para uma maioria de direita em 2023” ou antes, se as legislativas foram antecipadas.
Se, para fora, a estratégia é de rutura, para dentro, o novo chefe centrista procurou enterrar as hostilidades internas, depois de uma campanha dura e de um primeiro dia de Congresso violento. “O CDS não é o presidente. Quem lidera o CDS cumpre-lhe dar sinais de união”, salientou, vincando que os adversários “não estão dentro de casa”. Daí passou para um agradecimento particular ao seu primeiro vice-presidente, Filipe Lobo d’Ávila, contra o qual se bateu no conclave e ainda a outro “vice”, António Carlos Monteiro, que recrutou na falange de apoios de João Almeida (uma “contratação” que está a gerar controvérsia no partido).
Rodrigues dos Santos classificou João Almeida, principal adversário, como “um homem estimável” e lançou a ponte para que o ex-porta-voz do CDS continue a ser “muito útil na frente parlamentar”. “No CDS em que acredito, cabem todos, todos fazem falta e ninguém está a mais. A nossa casa, comigo, não pode estar virada contra si mesmo”, insistiu.
No discurso, que começou quando ainda se ouvia Step Out, de José González, no pavilhão, o novo presidente quis demarcar-se do registo de Cristas: explicou que fará uma oposição que “não será uma trovoada de críticas nem de protesto”, dado que “essa atitude é própria de quem não tem esperança em Portugal” e advogou um “partido ativo e não responsivo”, ainda que não peça “autorização à esquerda para defender os seus valores”.
Já quanto ao País, Rodrigues dos Santos passou praticamente toda a moção que levou a votos em revista. Do combate à corrupção e do “colapso ético e moral do sistema político” à coesão territorial; do “novo contrato de confiança entre gerações” ao Serviço Nacional de Saúde “universal, modernizado e sem preconceitos ideológicos”; do “prestígio da condição militar” aos ex-combatentes que “sobrevivem em condições miseráveis”; da recusa de adesão a “modas animalistas” que julgam “o mundo rural com base nos óculos do tecnocrata urbano” ao “choque fiscal amigo da poupança das famílias”; e ainda da Justiça forte à revolução digital.
Além disso, no primeiro dia do resto da vida do CDS, houve também votações para os órgãos nacionais. Da nova direção alargada, a Comissão Política Nacional, farão parte 59 elementos, dos quais apenas seis serão mulheres. Já o Conselho Nacional, o Parlamento do partido, ficou bastante dividido. A lista “oficial” da direção conseguiu eleger 38 conselheiros, ao passo que a que foi encabeçada por João Almeida conseguiu 32 lugares.