Tinha cerca de dez minutos para falar e não perdeu tempo. No congresso do Livre onde se decide o seu futuro político – com ou sem apoio do partido pelo qual foi eleita –, Joacine Katar Moreira disse à plateia: “Tenham vergonha, mentira absoluta, é inadmissível” o que os vários órgãos do partido andaram a afirmar a seu respeito. Muitas dessas acusações constam da adenda ao Congresso que a Assembleia aprovou e que pode levar à retirada de confiança política do Livre. Mas a intervenção teve muito mais.
Joacine começou por tentar sensibilizar os congressistas para a decisão que vão ser chamados a tomar este sábado. “Há palavras com mais valor do que outras, há declarações com mais valor que outras e não sou eu que efetuo esta valoração, é a mesa da Assembleia, são os membros, são os apoiantes, são vocês quem vai dar valor ao retirar” da confiança política que a Assembleia aprovou. A deputada falou depois de a direção ter feito um balanço muito crítico dos últimos meses e tinha resposta para o que acabara de ouvir. “Isto que acabou de ser feito aqui é inadmissível, isto é mentira”.
Exaltada durante grande parte da intervenção, Joacine recusou as várias acusações – de deslealdade, de não ouvir o partido – e defende-se: “Eu ainda não fiz nada de errado, estive ali obcecada a defender, ponto por ponto, cada resolução, cada orientação” que saiu da Assembleia do Livre.
Alguns aplausos e a deputada continua, lançando uma das críticas mais duras para a plateia. “Vocês não sabem da missa a metade”, diz, referindo-se à lei da nacionalidade, uma proposta do partido que acabou por cair na votação inicial. “Vocês usam o ódio do qual tenham sido alvo para tentar afastar-me” do partido!”
Além da adenda ao Congresso apresentada pela Assembleia – e que, se aprovada, levará à retirada de confiança política –, há ainda uma moção subscrita por cinco militantes que prevê o mesmo desfecho, caso a deputada não renuncie ao seu mandato no Parlamento. Joacine deixa a garantia: “Não vou renunciar para que as pessoas que votaram nestas legislativas não se sintam defraudadas, sabem mesmo que, independentemente do resultado deste congresso, vou garantir [o lugar] para não deixar órfãos as pessoas que confiaram em outubro e nos elegeram.”
Depois, colocou o ónus da decisão em cada um dos elementos do partido que participam no congresso. “Têm consciência dos resultados e dos efeitos, fazem ideia de que uma deputada não inscrita quase não fala, não tem assessores?”, questionou. “Vocês é que sabem se vão silenciar as 60 mil pessoas que quiserem ter uma voz.”
[no Livre]
Antes de terminar, e de acusar que estava em causa um processo “ilegal”, Joacine voltou a um tema que causou fraturas no partido logo na noite eleitoral, quando surgiram acusações de que vários membros do partido festejaram a conquista do direito à subvenção estatal antes de se saber que o partido tinha conseguido eleger um lugar no Parlamento. “Elegeram uma mulher que gagueja, que nunca escondeu isso! Elegeram uma mulher negra que foi útil para a subvenção”, atirou.
Depois da intervenção, a deputada continuou a atirar acusações contra alguns membros da direção. “Uma mentira, uma mentira”, disse exaltada – com a Mesa a pedir contenção – antes de se sentar na primeira fila da sala, quatro lugares à esquerda de uma das principais figuras do partido, o fundador Rui Tavares.