Por uma diferença de dois votos (50 contra 52), os membros do Livre decidiram adiar a decisão sobre o futuro político de Joacine Katar Moreira. A proposta “b”, em que votaram Rui Tavares, Joacine Katar Moreira e Ricardo Sá Fernandes, defendia que a decisão só seja fechada pelos próximos órgãos diriegentes do Livre, que são eleitos este fim de semana e dos quais a deputada não fará parte. Os novos dirigentes podem simplesmente ratificar a decisão de retirar a confiança política ou, como defendia Ricardo Sá Fernandes, reiniciar todo o processo. Nova direção toma posse esta semana.
De cartolina verde no ar, os membros do congresso deixaram a decisão nas mãos dos futuros dirigentes do partido. Depois de ter dito que “para honrar a política”, o Livre prefere “ser fiel aos seus princípios”, mais do que “manter qualquer cargo político”, Rui Tavares, fundador do partido, manifestou o seu apoio à moção que atirava para a futura Assembleia e futuro Grupo de Contacto o desfecho do processo.
“Os próximos órgãos saberão concluir esta questão porque o Livre tem o dever de defender os seus pirncípios com firmeza e o direito de decidir de consciência tranquila por ter feito a defesa de princípios de forma transparente, democrática e o mais humana possível para todas as pessoas envolvidas nesta questão”, disse o fundador numa curta intervenção.
A posição de Tavares é esta: intransigente na defesa dos “princípios” do Livre – logo, apoiante da ideia de que deve ser retirada a confiança à deputada única do Livre -, o fundador prefere que o assunto seja resolvido de forma mais discreta, numa reunião interna em que apenas estejam presentes membros da Assembleia e do Grupo de Contacto (a direção do partido).
Sá Fernandes tinha uma posição parecia, mas não totalmente em linha com a de Rui Tavares. o advogado chegou a apresentar uma proposta para que fosse criada uma comissão de mediação, independente dos órgãos dirigentes do partido, para resolver o assunto. “Em nnehum partido democrático do mundo se retira a confiança política à única deputada do partido sem que isto tenha sido escrutinado como deve ser”, defendeu. Aos dirigentes, ainda atirou: “Não digam que esgotaram todas as vias porque não esgotaram, o partido tem órgãos aos quais poderiam recorrer.” Garantindo não ter quaisquer ambições políticas e ser apenas “fiel à luta contra todas as injustiças”, o advogado considerou que “aquilo que querem fazer [a Joacine] é uma profunda injustiça”.
Num diferendo sobre os estatutos, em que se discutia quem podia ou não votar a moção, Sá Fernandes, responsável pela Comissão de Arbitragem e Ética, considerou ser claro que tanto os membros como os apoiantes do partido poderiam participar na votação sobre se o futuro de Joacine Katar Moreira ficava decidido este sábado ou se era adiado. Como o congresso votou pelo voto apenas pelos membros, Sá Fernandes defendeu: “Esta votação é ilegal.”
Assunto retomado “de imediato”
À VISÃO, fonte do partido refere que os novos órgãos, que serão eleitos no domingo, 19, tomam posse já esta semana. Para compor o novo Grupo de Contacto, é certo que apenas uma lista foi apresentada e que dela não consta o nome Joacine Katar Moreira.
A mesma situação com a Assembleia. Se para a direção (Grupo de Contacto) eram necessários 15 nomes e 75 subscritores para que a lista fosse aceite, para o “Parlamento” do Livre qualquer membro pode autopropor-se como candidato e submeter o seu nome a votação do Congresso. Mas também aqui Joacine se colocou à margem e optou por não se apresentar a votos.
É, por isso, certo que não participará na decisão sobre o seu futuro político. À VISÃO, fonte do partido garante que, depois de os novos órgãos dirigentes tomarem posse, o tema da retirada de confiança política a Joacine será abordado “de imediato”.
E, aí, todas as possibilidades estão em aberto. Ou os novos órgãos ratificam a posição da Assembleia cessante – e Joacine Katar Moreira perde a ligação ao partido pelo qual foi eleita – ou optam pela “via Sá Fernandes” e reabrem o processo interno, que pode ou não ter o mesmo desfecho. Em suma, em tese, Joacine pode ter conquistado esta manhã a sua hipótese de realinhar posições com o Livre.