O programa do partido parece ter passado, definitivamente, para segundo plano. Vários elementos da direção do Livre têm dado sinais de saturação pela constante necessidade de “apagar fogos” devido às polémicas em que Joacine Katar Moreira tem estado envolvida, tal como a VISÃO revelou na edição que chegou às bancas na semana passada – e a votação que decorreu esta sexta-feira no Parlamento só veio agravar o clima de discordância.
Este sábado, o Livre emitiu um comunicado em que se demarca da postura da sua deputada na votação de uma proposta do PCP, de “condenação da nova agressão israelita a Gaza e da declaração da Administração Trump sobre os colonatos israelitas”. Joacine Katar Moreira absteve-se, “sendo que esse sentido de voto não reflete as tomadas de posição oficiais do partido sobre o tema em questão”, esclarece o Livre.
O comunicado acrescenta que “a posição do Livre é clara desde a fundação do partido”, defendendo “a autonomia do território” e o “reconhecimento do Estado da Palestina” pois, para o Livre, “apenas este reconhecimento pode permitir um cenário de paz e coexistência na região e condições de vida dignas para os palestinianos”.
O Livre, reitera-se no comunicado,”manifesta a sua preocupação com as posições do presidente norte-americano e do seu Secretário de Estado, ao considerarem ‘legais’ os colonatos israelitas na Palestina e ao validarem os contínuos ataques de que a população palestiniana tem vindo a ser alvo, e por isso considera justificada uma tomada de posição da Assembleia da República como a expressa na moção em causa”.
A abstenção de Joacine Katar Moreira é vista com “preocupação”, em “contra-senso com o programa eleitoral do Livre” e com o historial de posicionamento do partido nestas matérias.
Apesar de a legislatura só agora ter começado, já se tornaram públicas várias discordâncias entre o pensamento do partido e o da sua deputada. Em entrevista à VISÃO, Joacine Katar Moreira disse sentir ter a legitimidade que lhe advém das várias eleições que ultrapassou para chegar à Assembleia da República, a começar pelas primárias do Livre para a escolha do cabeça de lista por Lisboa, sublinhando que o partido “não é homogéneo” e que “nem todos pensam da mesma maneira”.