O silêncio de Rui Tavares é um sintoma claro do incómodo que se sente entre alguns elementos do “grupo de contacto” (a direção) do Livre, desde que Joacine Katar Moreira ganhou palco mediático com a campanha eleitoral e, depois, com a eleição para a Assembleia da República. “Ele não tem nada a ver com esta mensagem” centrada, quase em exclusivo, no combate ao racismo e na luta feminista em que a deputada se tem focado, diz à VISÃO fonte próxima da direção, no âmbito de um perfil da deputada que pode ler na edição desta semana (nas bancas a partir desta quinta-feira).
Temas como a ecologia e o europeísmo, que o fundador Rui Tavares sempre fez questão de destacar como sendo centrais na agenda do partido, têm sido “esmagados” pelos ataques de que Katar Moreira tem sido alvo. Ataques que a levaram a concentrar energias nesse combate mais identitário, que acabaram por relegar para segundo plano um outro combate, o político, e que deram lugar à crítica interna: a primeira deputada do Livre tornou-se “dona da agenda” do partido, diz-se na cúpula do partido.
Para isso, conta uma fonte interna à VISÃO, contribuem também algumas atitudes de Joacine Katar Moreira. Por exemplo, a questão que fez de ter a primeira e última palavra a dizer na escolha da equipa que a vai assessorar nos próximos quatro anos no Parlamento ou a forma como vem desvalorizando os conselhos do núcleo duro (ainda que algo informal) do Livre, dedicado por estes dias a “apagar fogos”.
Joacine responde com a legitimidade que lhe advém das várias eleições que ultrapassou para chegar à Assembleia da República, a começar pelas primárias do Livre para a escolha do cabeça de lista por Lisboa. Foram os militantes que “escolheram uma ativista, académica, feminista que passou os últimos a dar palestras sobre igualdade, racismo e colonialismo”, diz à VISÃO, no seu novo gabinete, no Parlamento. Depois, para esvaziar a contestação interna, sublinha que o partido “não é homogéneo” e que “nem todos pensam da mesma maneira”. “Respeito o programa de um partido libertário, ecologista, progressista, mas a minha ótica não tem de ser igual à vossa”, conclui.
Recorde aqui o primeiro dia de Joacine Katar Moreira como deputada.