A tradicional arruada do PS em Lisboa acabou com momentos de tensão entre António Costa e um homem que se cruzou com o grupo de socialistas liderado pelo secretário-geral do PS, na chegada à Praça do Comércio. “Mentiroso, provocador plantado”, gritou Costa a um homem que o acusou de “estar de férias” durante os incêndios de Pedrógão Grande, que mataram mais de 60 pessoas, no verão de 2017. Costa atira à “direita” e fala numa “campanha de calúnia e mentira”.
Foi já no final de uma caminhada de cerca de uma hora e meia. Costa estava rodeado dos elementos de segurança e vários responsáveis socialistas quando foi abordado por um homem de cerca de 70 anos que dizia votar “há 40 anos” no PS, mas que não o faria nas eleições deste domingo. Tudo porque, justificou o homem (cuja identidade não foi possível apurar), Costa estaria “de férias” os incêndios de Pedrógão Grande.
Visivelmente incomodado com a situação, o líder socialista dirigiu-se de imediato ao homem, tendo sido impedido de se aproximar pelos próprios elementos da equipa de segurança que o acompanham em permanência. “Isso é mentira”, responde Costa em tom alterado. À volta, pedia-se “calma”.
Costa foi afastado, mas ainda se voltou para trás mais uma vez enquanto o homem continuava a repetir a mesma ideia. Foi a intervenção dos elementos de segurança a por fim à situação. Ao mesmo tempo, vários militantes e apoiantes do PS aproximaram-se do homem tentando por termo à situação.
Não é a primeira que António Costa sente necessidade de esclarecer os acontecimentos de 18 de junho de 2017. Há menos de dois meses, Rui Rio referiu-se a esse momento, depois de o primeiro-ministro desejar que Rui Rio “concluísse com felicidade o período de descanso”. Foi a resposta de Costa, à saída de uma audiência em Belem, às críticas do líder do PSD, durante a greve dos motoristas de matérias perigosas.
Rio também reagiu – e foi aí que o tema veio à tona, pela mão do líder social-democrata. “O que está aqui em causa neste caso era eu entrar ou não num circo mediático durante quatro ou cinco dias. Mas o que esteve em causa quando ele, pura e simplesmente, não interrompeu as férias foi a morte de mais de 60 pessoas”, disse Rio. A referência à “morte de mais de 60 pessoas” dizia respeito a Pedrógão Grande. Foi o mesmo argumento levantado esta sexta-feira pelo homem com que Costa se exaltou.
Costa culpa “campanha da direita”
A arruada que partiu do Largo de Camões por volta das 15h30 chegou à Praça do Comércio quando faltavam poucos minutos para as 17h. Durante todo o percurso, várias centenas de pessoas acompanharam o secretário-geral do PS. Costa recebeu abraços e pedidos de selfies e, no final da Rua Augusta, voltou a insistir na ideia de que quer um “reforço” do votos no PS que garanta a “estabilidade” do Governo nos próximos quatro anos. Depois houve o frente-a-frente com o homem.
Já no comboio que levou a comitiva até ao Porto, António Costa analisou o momento numa conversa com a comunicação social. O líder do PS começa por dizer que se trata de “uma mentira que está a ser repetida há anos e que já foi desmentida” e atira à direita. “É uma campanha que, permanentemente, a direita vai lançando, uma campanha de calúnia e de mentira, habitualmente nas redes sociais, e hoje colocaram um provocador” no caminho da arruada do PS. “Cada um tem os seus limites e este é o meu limite”, concluiu.
Questionado sobre se a reação foi excessiva, António Costa considera que não. “O que será excessivo é quando os políticos deixarem de ser seres humanos e tiverem paciência para ouvir tudo”, diz. “Há um limite para a paciência e o meu é este”, remata.
Costa foi ainda questionado sobre o facto de os incêndios de Pedrógão Grande terem sido um momento sensível no percurso do primeiro-ministro. Nesse momento, o líder socialista volta a revelar-se incomodado com o tema. “Eu sei que você é jornalista e acha que o mundo é feito de ficção. Mas o mundo não é feito de ficção. Aquele incêndio foi das maiores tragédias que o país alguma vez viveu e se um primeiro-ministro não é sensível a acusações sobre o seu comportamento e sobre a sua atuação num momento daquela dimensão, então não sei a que é que um primeiro-ministro é capaz de ser sensível”, disse.
As imagens já se tornaram virais nas redes sociais: