Pedro Nuno Santos, o ministro que está “fresquinho da costa para muitos e bons anos” de atividade política. E Vieira da Silva, a outra peça de “luxo” do Governo de António Costa, mas que se prepara para sair de cena. No comício desta terça-feira, no centro de congressos de Aveiro, um e o outro assumiram a tarefa de atirar a uma direita que, dia após dia, vai diminuindo a distância face ao PS. Costa lá vai avisando para que “não se ponham a fazer contas com base nas sondagens porque arriscam-se a acordar de manhã com uma surpresa desagradável”. E faltam cinco dias para as legislativas.
Foi uma espécie de aula de introdução à política que Pedro Nuno Santos levou aos militantes socialistas que encheram a sala, em Aveiro. Um esquerda versus direita. Ou melhor: o PS contra o PSD e CDS. Os remoques de Augusto Santos Silva aos partidos à esquerda do PS, no dia anterior, já eram página virada. A jogar em casa, Pedro Nuno Santos contrapôs aquilo que é um modelo de sociedade assente na “cooperação” à ideia de “competição e individualismo”.
Da teoria à prática. Para ilustrar o ponto, o cabeça de lista do PS por Aveiro tirou do bolso uma história para partilhar com aquela que terá sido a sala mais repleta da última semana e meia de comícios. Era a história de um socialista com uma sobrinha de três anos que precisou de um ouvido biónico para voltar a ouvir. “O pai da criança foi ao privado e pediram-lhe 70 mil euros só para o aparelho, sem contar com os honorários da equipa médica e do hospital”, um valor que nunca teria conseguido pagar. “Mas o Serviço Nacional de Saúde ou, mais concretamente, o hospital pediátrico de Coimbra, financiado por todos nós e mais [financiado] por quem tem mais fez a intervenção sem cobrar nada.” Caso resolvido e mensagem entregue. “Nós defendemos uma sociedade assim: onde quem tem mais contribui mais, para que tenhamos uma comunidade mais solidária e mais forte, em que os problemas de uns são os problema de todos”, concretizou Pedro Nuno Santos.
Trazia também a “fórmula de sucesso” dos últimos quatro anos para partilhar com a plateia: um “equilíbrio” entre contas certas e investimento, receita que dependeu da intervenção de “um líder com a capacidade de articular, de coordenar e de construir” pontes. Tratava-se, também, afinal, de mostrar trabalho de casa. “Quando aumentámos o Salário Mínimo Nacional, dignificámos o trabalho e reduzimos as desigualdades entre trabalhadores e, com isso, reforçámos a nossa comunidade”, começou por defender. O mesmo raciocínio vale para o fim da sobretaxa no IRS e para o fim dos cortes nos salários na Administração Pública, para o aumento do abono de família, para o aumento das pensões e o reforço do Complemento Solidário para Idosos ou para os manuais escolares gratuitos, passes sociais mais baratos e propinas mais baixas no ensino superior. “Estas são as nossas reformas, não são as deles, estas são as reformas de que nos orgulhamos”, reclamou Pedro Nuno Santos.
A sala aplaudia e Costa – naquele momento, nas vestes de candidato às eleições de domingo – aplaudia com a sala. Esta terça-feira, o socialista andou num vai e volta entre as funções de primeiro-ministro e o papel de cabeça de lista por Lisboa. A agenda do PS previa uma arruada na Nazaré ao final da tarde mas, à hora de almoço, uma mensagem da assessoria de imprensa anunciava uma mudança de planos. O furacão Lorenzo estava a caminho dos Açores e, por “prudência” – segundo o próprio António Costa –, o programa era alterado. Já não havia “contacto com a população” e, “manifestamente” no papel de candidato pelo PS, acabava desviado para uma visita às obras do IP3, num troço que está em recuperação na via que liga Coimbra a Viseu.
Horas mais tarde, o líder do PS subiu ao palco, falou na “honra”, no “privilégio” e no “luxo” que foi ter Pedro Nuno Santos na equipa. E falou no “maior ganho” dos últimos quatro anos: “Termos devolvido esta confiança aos portugueses e a esperança de que há futuro para o nosso país e que podemos, devemos e há razoes para confiar em Portugal.” Nessa altura, já António José Vieira da Silva que Costa foi “o único que provou que sabe unir Portugal” e que é, agora, “o único candidato a primeiro-ministro da esquerda”. Mesmo que a expressão do ainda ministro da Segurança Social falha no parâmetro do rigor, o que importava a Vieira da Silva era mesmo deixar fresca a ideia de que “Portugal precisa de um Governo que assegure a estabilidade, que promova promova a esperança no futuro” e, por isso, o país “precisa do Governo do PS para fazer o que ainda não foi feito”.