No cair do pano da primeira semana campanha para as legislativas, Jerónimo de Sousa dramatizou o discurso. No dia 6 de outubro, os portugueses vão estar confrontados com duas opções: escolher entre aqueles que podem continuar o caminho dos últimos quatro anos ou “andar para trás, deixando o PS de mãos livres, com ou sem PSD e CDS”. A chave da intervenção do secretário-geral do PCP está nesta passagem. Sem reforço da esquerda à esquerda do PS, António Costa será o rosto de um “regresso à estabilidade da paz podre, ao pântano da polarização, ao vira o disco e toca ao mesmo, à alternância sem alternativa”.
Jerónimo tem ouvido o líder socialista alertar para o “fantasma da instabilidade governativa” que, diz António Costa, vem colado a um PS dependente de outros para governar. No teatro Garcia de Resende, em Évora, secretário-geral comunista tinha duas perguntas para Costa: “Faltou alguma vez estabilidade nestes últimos quatro anos de avanços?” E “se é para avançar e não voltar atrás, o que se teme?” no Largo do Rato.
A cada paragem da comitiva de campanha, a CDU garante que por aqueles lados se respira “confiança” num reforço do resultado de 2015 – mesmo que as sondagens continuem a mostrar uma coligação alguns pontos abaixo dos 8,25% conquistados nas últimas legislativas. Para sublinhar o papel que tiveram na “geringonça”, Jerónimo diz a um teatro cheio que “estes quatro anos mostraram bem que tudo o que é avançar, tudo o que é medida positiva a favor dos trabalhadores e do povo tem a marca do PCP e do PEV”.
A conclusão não é difícil de antever: “O reforço da CDU só pode ser conseguido se ganharmos mais portugueses para a justeza das propostas” que o partido promete levar à Assembleia da República na próxima legislatura. A lista é longa e conta com medidas como o aumento do salário mínimo para os 850 euros, o aumento “real e geral” das pensões e reformas, creches gratuitas até aos três anos, fim dos estrangulamento financeiro dos serviços públicos, fixação de uma tabela de preços máximos para os combustíveis e para a eletricidade, a reabertura dos serviços públicos encerrados nos últimos anos.
O reverso da medalha, o “perigo” do retrocesso “existe, não apenas com o voto no PSD e no CDS, mas também com o vogo no PS”. Ao início da tarde, o secretário-geral do PCP já tinha dito que não tinha ilusões de que o PS não mudou; ali, num antigo bastião comunista, Jerónimo mudou a formulação para insistir na mesma ideia de que socialista, sociais-democratas e centristas “uniram sempre o seu voto” quando foi quiseram “inviabilizar propostas da CDU”.
“É preciso não ir nas cantigas”, alerta o líder comunista. “O que é decisivo é que PCP e PEV tenham mais deputados, mais força, mais peso para dar resposta aos problemas nacionais.”
A ideia do “perigo” de um “retrocesso” percorre, naturalmente, a caravana comunista. João Oliveira, líder da bancada parlamentar comunista, é o cabeça de lista pelo distrito. Numa intervenção que antecedeu a do secretário-geral, o deputado tem “notado muita gente preocupada” com esse cenário. É por isso que, diz “evitar a maioria absoluta [do PS] é importante, mas não chega”. “Quem não quer maiorias absolutas nem o retrocesso tem uma boa e forte opção” – e o resto da conversa já se conhece.