Ainda à espera de ver o Chega formalmente constituído como partido, André Ventura continua a desdobrar-se em contactos para fechar as listas para as eleições europeias de 26 de maio. Depois de ter selado acordos com o movimento Democracia 21 (D21) e com o Portugal Pró-Vida/Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC), o ex-vereador de Loures, sabe a VISÃO, está em negociações avançadas com o Partido Popular Monárquico (PPM).
Gonçalo da Câmara Pereira, presidente do PPM, confirma essa possibilidade, embora não dê a coligação como garantida. “Houve conversações com o Chega, com o Aliança, com Paulo Morais… O PPM está aberto a tudo. Não somos uma barriga de aluguer, mas somos um partido aberto a pessoas que comunguem dos nossos ideais”, acrescenta, em declarações à VISÃO, sublinhando que qualquer pacto terá ser aprovado pelo Conselho Nacional do partido.
Apesar de as negociações estarem praticamente concluídas, o líder dos monárquicos encontra-se em Bruxelas, onde fará, esta quarta-feira, a apresentação dos candidatos do partido às europeias no seio da respetiva família política, o Movimento Político Cristão Europeu (ECPM). Nada, assegura, que invalide um entendimento “posterior” com o Chega. “Se fazemos coligações, se fazemos acordos, isso é depois. Se me pergunta se me choca fazer coligações com André Ventura, respondo que não me choca nada”, atira.
“Nós continuámos a apoiá-lo como vereador em Loures, não vejo nele sintomas nenhuns de xenofobia, misoginia ou do que for”, acrescenta Câmara Pereira, que defende que “não há dúvida” de que Portugal “precisa de um bloco de direita” e que o PPM está “a tentar fazê-lo”.
Já André Ventura recusa, de momento, fazer comentários sobre as conversações. No entanto, a VISÃO sabe que o acordo deverá prever que caiba ao PPM indicar o segundo nome da lista que concorrerá ao Parlamento Europeu. A primeira escolha caberá ao Chega e a terceira personalidade a avançar será Sofia Afonso Ferreira, líder do D21. Ventura, antigo conselheiro nacional do PSD, recorde-se, firmou dois acordos tendo em vista as europeias. O primeiro, adiantou a VISÃO, com o D21 e o segundo, noticiou a Sábado, com o PPV/CDC.
Os esforços para garantir a dita “coligação anti-sistema” vão prosseguir e, de acordo com fontes próximas da direção do Chega, existirão contactos exploratórios entre o partido de Ventura e o Juntos Pelo Povo (JPP), o partido dos irmãos Filipe e Élvio Sousa, que em 2013 teve maioria absoluta na Câmara Municipal de Santa Cruz e que em 2015 registou 10,28% nas eleições madeirenses, elegendo cinco deputados regionais.
Em todo o caso, em declarações à VISÃO, Élvio Sousa, secretário-geral do JPP, houve apenas “uma chamada telefónica” de um responsável do PPV/CDC para o responsável da concelhia lisboeta do JPP, Bruno Pereira, mas terá sido “liminarmente recusada qualquer reunião” subsequente. Para futuro, o também líder do grupo parlamentar do JPP na Assembleia Legislativa da Madeira responde de forma taxativa a qualquer hipótese de entendimento com o Chega. “Nem pensar, nem pensar!”, assegura.
Por definir está ainda a parte formal de um acordo entre as várias partes, isto é, em que moldes é que Chega e futuros aliados irão a votos. Isto porque Ventura recolheu as 7500 assinaturas necessárias para se constituir como partido e, previsivelmente, obter luz verde do Tribunal Constitucional (TC), mas ainda não obteve resposta dos juízes do Palácio Ratton.
No final do ano passado, Ventura garantia que o seu partido estará “integrado na direita democrática”, embora “encarne valores mais radicais”, como a prisão perpétua para homicidas, a castração química de pedófilos ou o trabalho obrigatório para presidiários. O ex-vereador de Loures assegurava também que não se revia nas políticas de Donald Trump ou de Jair Bolsonaro e refutava as críticas de que o seu discurso promove o ódio e a discriminação: “Não será uma direita à americana, nem à brasileira, nem à italiana, será uma direita à moda portuguesa!”
O comentador televisivo notava ainda que tinha lido pessoas a advogar que o TC não deveria aceitar a formalização do partido, mas considerava que isso seria “um erro que a democracia pagaria caro”. “Nada seria menos democrático”, explicava, apontando como exemplos a legalização do PNR e do PCTP/MRPP. Sendo vetado, avisou desde logo, recorreria às instâncias europeias, porque tudo não passaria de “medo eleitoral”.
*Notícia atualizada às 18h18 de quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019, com as declarações de Élvio Sousa.