Se existisse alguma espécie de “palmómetro” no 22º Congresso do PS, Francisco Assis estaria seguramente fora dos top de oradores mais ovacionados. O eurodeputado socialista deslocou-se à Batalha para fazer um discurso em contracorrente: é dos poucos delegados que assume, sem pudor, que não é adepto da parceria socialista com BE, PCP e PEV. Mesmo que esse fator não seja novidade, o antigo líder parlamentar reconheceu àlgumas virtudes à solução encontrada em 2015, graças à “capacidade” e “liderança” de António Costa, que, segundo disse, travou alguns ímpetos da esquerda.
“Não mudei de opinião”, notou Assis, que revelou que as suas piores “expectativas não se consumaram” graças ao primeiro-ministro. “Anestesiaste, e muito, o PCP e o Bloco de Esquerda”, afirmou o socialista, dirigindo-se ao secretário-geral.
Mesmo perante a pressão de Carlos César, que dirige os trabalhos e pediu que terminasse a intervenção por imperativos de tempo, Assis defendeu que o PS saia da reunião magna “com a ambição de ganhar” as legislativas de 2019 e volte a ser “o maior partido na Assembleia da República”. Ainda assim, evitou elevar demasiado a fasquia. Não seria “sério”, explicou, pedir a maioria absoluta.
Seja como for, a vitória permitiria ao PS recuperar a “centralidade da vida política nacional”, dialogando, conforme lhe conviesse, com as forças de esquerda e de direita.
“Não devemos ter a nossa linha estratégica condicionada”, sublinhou, antes de reiterar que a atual solução é “má”, mas “o primeiro-ministro é bom”. Novamente de olhos postos em Costa, lançou um elogio, combinado com um pedido para o próximio ano: “Provaste que és um grande primeiro-ministro mesmo num contexto de geringonça. Imagino o primeiro-ministro que podes ser sem geringonça.”
A um ano das eleições europeias – há quatro anos foi o cabeça-de-lista do PS – Assis não se colocou fora do combate político, mas não deu pistas acerca do seu futuro. Garantiu, somente, que todos estão “disponíveis” para as próximas batalhas, em nome de “uma nova maioria” socialista. Até porque, referira antes, “o que [n]os une é incomensuravelmente mais do que aquilo que circunstancialmente [n]os afasta”.