“Golpe”. É assim que os apoiantes de André Neves descrevem o que está a acontecer na concelhia de Lisboa, onde este sábado são eleitos os delegados para o Congresso que vai decidir quem será próximo líder da JSD e que está marcado para 13, 14 e 15 de abril. Isto porque, a menos de 24 horas da abertura das mesas de voto, a presidente da Mesa da Assembleia da concelhia, a deputada municipal Mafalda Cambeta, vetou a lista do adversário de Margarida Balseiro Lopes, mesmo à revelia de um parecer do Conselho de Jurisdição Nacional (CJN) da “jota”, e o caso vai agora seguir para tribunal.
A lista de André Neves, alegadamente mais próximo de Rui Rio do que Margarida Balseiro Lopes, foi impedida de concorrer devido ao facto de dois dos seus elementos estarem inscritos no concelho de Lisboa há menos de seis meses (como os estatutos exigem), embora já militassem noutras secções do país.
De nada valeu o parecer do CJN – ao qual a VISÃO teve acesso, mas que, na verdade, não é mais do que uma resposta por e-mail a um dos elementos “em risco” -, no qual João Miguel Ascenso corrobora a perspetiva dos candidatos “chumbados” tanto por Mafalda Cambeta como pelo presidente da Comissão Eleitoral Independente para a reunião magna da JSD, José Alfredo Oliveira.
“É lamentável que os militantes da JSD tenham de recorrer aos tribunais para se defenderem de golpistas que se agarram aos cargos como lapas, recorrendo a expedientes que envergonhariam qualquer pessoa de bem”, critica o director de campanha de André Neves, para quem “apesar desse parecer prévio [do CJN], os apoiantes de Margarida Balseiro Lopes tentaram, desde a primeira hora, impedir que a lista concorresse: primeiro com alegadas irregularidades formais que foram logo esclarecidas e desmontadas; depois, impondo uma exclusão por motivos que contrariam o que está decidido pelo órgão jurisdicional máximo da JSD”.
José Miguel Ferreira adianta, num tom duro, que está a ser preparada e será entregue na segunda-feira, às 9:00, uma providência cautelar. “A alteração de regras à última hora é dos expedientes mais repugnantes que contaminam a política”, atira. “É mais um golpe para falsear os resultados eleitorais dentro da JSD”, reforça o braço direito de André Neves, que fala mesmo num “golpe feito pelos mesmos de sempre, que são useiros e vezeiros em esquemas destes, como vários jornais e até livros já denunciarem em ocasiões anteriores”.
A alusão indirecta é a Mafalda Cambeta, que está a investigada pelo Ministério Público num caso de falsificação de assinaturas na Assembleia Municipal de Lisboa, noticiado pela Sábado em abril do ano passado.
À VISÃO, Mafalda Cambeta recusou a existência de “vetos” na secretaria e remeteu os esclarecimentos adicionais para uma publicação feita na sua página no Facebook. Nessa nota, a dirigente refere que “algumas dessas irregularidades eram mesmo ilegalidades” à luz dos estatutos da JSD, “não podendo ser corrigidas” e “tão profundas que seriam passíveis de a tornar inadmissível para o ato eleitoral”.
“Perante a gravidade da situação solicitei um parecer à Comissão Eleitoral Independente (CEI), por entender que deveria ser um órgão independente a validar ou confirmar as minhas dúvidas”, justifica, acrescentando ainda que teria sido possível à lista encabeçada por Gabriel Albuquerque “ter encontrado militantes suficientes para apresentar lista sem ter que recorrer a transferências de última hora”.
“E a maior desonestidade vem dos mesmos militantes que tentaram infringir as regras de funcionamento da JSD procurando uma falsa representação de Lisboa recorrendo a expedientes como os que temos assistido”, conclui Mafalda Cambeta.
José Alfredo Oliveira, por sua vez, limita-se a afirmar que “estes processos devem ser tratados internamente, pelas estruturas competentes”, evitando avolumar a polémica.
Já Margarida Balseiro Lopes sublinha à VISÃO que não se pronuncia sobre este caso porque “há órgãos próprios da JSD para se tratarem destes assuntos” e frisa que não está em causa uma matéria que seja da sua competência, uma vez que não é sequer militante em Lisboa e que suspendeu as funções de secretária-geral da “jota” assim que anunciou a candidatura à sucessão de Cristóvão Simão Ribeiro.