Confrontado com mais um pedido de dinheiro feito pelo juiz Rui Rangel, o seu amigo e advogado Santos Martins acalmou-o assim, a 25 de outubro de 2017: “O homem que traz o dinheiro está a chegar.” Não foi a única vez. Durante meses, os inspectores da Polícia Judiciária que iam ouvindo as conversas do juiz desembargador iam-se deparando com sucessivos pedidos desesperados. Santos Martins, constituído arguido por suspeitas de ser o testa-de-ferro do juiz, ia então dando nota do dinheiro que ia conseguindo recolher. O Ministério Público diz que o advogado o fazia junto de clientes de Rui Rangel que ainda tinham dívidas a saldar por alegados serviços do juiz. Rangel não deixava de pressionar, às vezes mais do que uma vez por dia.
Em determinadas alturas, acredita o Ministério Público, Santos Martins terá mesmo indicado a referência multibanco a alegados clientes para que pagassem directamente contas de casa e outras despesas correntes do juiz.
Rangel foi apanhado em várias escutas que reforçam a tese do Ministério Público de que vendia decisões judiciais favoráveis – em processos seus ou de outros juízes – e tinha atividades paralelas à atividade de juiz que eram remuneradas, violando as regras impostas pelo Estatuto dos Juízes. Algumas destas conversas telefónicas terão permitido até conhecer a identidade de alguns destes clientes.
Também o advogado com escritório na Avenida de Berna foi apanhado a conversar sobre o tipo de relação que mantinha com o juiz. Outras escutas comprometedoras envolvem Rita Figueira, também constituída arguida na Operação Lex. A ex-companheira do juiz é apanhada a falar com o pai sobre os destinos que Rangel daria ao dinheiro e sobre as suas actividades ilícitas.
A VISÃO revela todas as escutas do processo na edição que está nas bancas. Revela ainda toda a teia de influência e favores do juiz do Tribunal da Relação de Lisboa, quem são os 16 clientes já identificados pela investigação e por que razões Rui Rangel receberia dinheiro destas pessoas e entidades.