A presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, responsabilizou hoje o primeiro-ministro, António Costa, pelas falhas do Governo nos incêndios, que mostraram apenas “um político habilidoso” quando o país quando precisava de “um estadista”.
“O primeiro-ministro falhou e não o reconheceu, arrepiou caminho vencido, mas não convencido. Os assessores de comunicação e de imagem podem dar uma ajuda, mas não mudam a natureza das pessoas e não lhes dão o estatuto que não têm. Quando o país precisava de um estadista, constatou que tinha apenas um político habilidoso”, acusou Assunção Cristas.
Na abertura do debate da moção de censura ao Governo apresentada pelo CDS no parlamento, a líder centrista argumentou estar a dar voz “à censura popular” e que isso “vale independentemente do desfecho que venha a ter”, que é o chumbo já anunciado pela maioria de esquerda.
“A omissão envergonhar-nos-ia enquanto parlamento, porque não estaríamos a honrar quem confiou em nós para os representarmos”, declarou.
Antes do início do debate, o primeiro-ministro deslocou-se à bancada do PCP para cumprimentar o deputado e dirigente comunista Francisco Lopes, que perdeu um familiar nos incêndios, conforme foi noticiado por vários órgãos de comunicação social.
Assunção de responsabilidades é “ato de compromisso” e não “mero ritual de expiação”
O primeiro-ministro afirmou hoje que o Governo assume-se como “primeiro responsável” depois da tragédia dos incêndios, mas salientou que a assunção de responsabilidades não pode ser “mero ritual de expiação” institucional, mas um “ato de compromisso”.
“Estamos aqui hoje porque a responsabilidade face às tragédias de Pedrógão [Grande, no distrito de Leiria] e de 15 de outubro têm de ter consequências. Estamos aqui porque o sofrimento das vítimas e dos seus familiares e o sentimento de insegurança dos portugueses exigem uma resposta. Porque a perda de vidas, a destruição de habitações e empresas, a devastação da floresta, não podem ser ignoradas”, disse António Costa na abertura do debate da moção de censura ao Governo apresentada pelo CDS-PP.
Para António Costa, “com sentido de dever”, o Governo, “como o órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da administração pública, assume-se “como primeiro responsável perante a Assembleia da República”.
No entanto, de acordo com o primeiro-ministro, a “assunção de responsabilidades não pode ser um mero ritual de expiação institucional”, devendo antes ser “um ato de compromisso firme de fazer o que tem de ser feito, de mudar o que tem de mudar, de reparar o que exige reparação”.
“O compromisso de enfrentar os desafios estruturais do desordenamento da floresta, do abandono do interior, das alterações climáticas, do mesmo passo que satisfazemos a obrigação imediata de reparar e reconstruir. O compromisso de garantir a segurança dos cidadãos, reduzindo riscos, prevenindo ameaças, alertando para os perigos, protegendo na contingência e socorrendo na calamidade”, defendeu António Costa.
PSD acusa Costa de “incompetência, soberba e insensibilidade”
O líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, acusou hoje o primeiro-ministro de “incompetência, soberba e insensibilidade” na resposta aos incêndios dos últimos meses que causaram mais de cem mortos e de falhar “nas horas difíceis”.
“O país sabe hoje que tem um primeiro-ministro excelente a dar boas notícias, mas nas horas difíceis, nas horas em que precisa de um chefe de Governo, o senhor está ausente, o senhor falha”, acusou Hugo Soares, no início do debate da moção de censura do CDS-PP.
Na primeira ronda de perguntas à líder do CDS-PP, Assunção cristas, o líder parlamentar do PSD optou por se dirigir quase exclusivamente ao primeiro-ministro, António Costa, considerando que o debate de hoje “tem um passado, tem um presente e tem um futuro”.
“O passado é tudo o que aconteceu no país em que o Governo falhou, o Estado falhou e o primeiro-ministro falhou”, criticou.
Hugo Soares responsabilizou diretamente António Costa pelas falhas, dizendo que “foi a sua incompetência, a sua insensibilidade e a sua soberba” que fez com que não tivesse sido prolongada a fase mais crítica dos incêndios ou tivesse substituído vários comandantes na proteção civil “por amigos” pouco antes da época de incêndios.
“Foi a sua incompetência, a sua insensibilidade, a sua soberba que o fez manter uma ministra que implorava para sair porque não tinha condições políticas e pessoais”, acusou ainda Hugo Soares.
Bloco demarca-se da moção de censura do CDS e questiona Governo
O BE demarcou-se hoje da moção de censura “obscena” do CDS-PP, em debate no parlamento, e questionou o primeiro-ministro sobre as medidas do Governo de prevenção e combate aos incêndios.
No debate da moção de censura, Catarina Martins, coordenadora do BE, lembrou que a moção de censura “é para derrubar o Governo”, “não é sobre a dor a indignação de um país que tem tido tanta dor” por causa dos incêndios do verão e de outubro, que fizeram mais de 100 mortos.
Utilizar uma moção de censura “como instrumento para os partidos avaliarem se a morte de 100 pessoas é grave, é mais do que desadequado, é obsceno”, afirmou.
Mas, passada esta frase, Catarina Martins não fez nenhum elogio direto às medidas aprovadas no sábado, no Conselho de Ministros extraordinário, antes fez perguntas ao primeiro-ministro, António Costa, questionando “como pôde o Governo estar tão impreparado este ano”.
“Já sabíamos que este ano era de risco e o Governo deveria estar mais bem preparado”, disse, lembrando a proposta do BE, aprovada no ano passado, de reforço dos sapadores florestais e que “não saiu do papel”.
À líder bloquista, António Costa deu uma resposta política, dizendo que, perante uma tragédia como a que aconteceu este verão, a direita quer “derrubar o Governo”.
“A nossa responsabilidade é reconstruir o país”, afirmou o chefe do Governo, respondendo ainda às dúvidas de Catarina Martins sobre as necessidades orçamentais para as medidas de ordenamento, prevenção e combate aos incêndios.
O executivo “será capaz de o fazer” como “foi capaz” de nos últimos anos seguir uma política diferente da de direita.
“Vamos ser capazes de fazer isso como, ao longo dos últimos dois anos, fomos capazes de vencer todos os impossíveis que muitos nos disseram não era possível com uma mudança de política”, rematou.