Eles andam em todo o lado. Os turistas. Sebastien, alemão, está bem informado: “Is it an election, isn’t it?” Sim, são eleições. Sebastien olha de novo para a enorme foto do rosto iluminado na fachada do bonito edifício da sede do CDS, no Largo Adelino Amaro da Costa, ou do Caldas, em Lisboa. Sim, confirmo, é uma das figuras que vai a votos. “She’s nice”, conclui, antes de descer a Rua da Madalena, a caminho da Praça da Figueira. Sorri quando ouve os aplausos estridentes que vêm de dentro do edifício e aplaude também, com uma gargalhada. Se Sebastien votasse em Lisboa, talvez tivesse contribuído para a festa. Afinal, “she’s Nice”. Mas nos minutos que antecederam a primeira projeção da Eurosondagem e da SIC, a primeira a ser recebida no salão de cerimónias instalado para a imprensa e para os militantes “mais chegados”, eu tinha estado lá dentro e posso garantir que já havia unhas quase no sabugo. A duvida persistia: Assunção Cristas fica ou não fica em segundo lugar, na capital?
A explosão de aplausos foi ruidosa, mas os comentários contidos. Há militantes de base e funcionários do partido, mas os dirigentes estão todos lá dentro. Ninguém comenta o hipotético quarto lugar de Teresa Leal Coelho e do PSD. Dr-se-ia que, dentro da festa, há uma espécie de consternação e choque: os centristas estavam longe de imaginar que o concorrente mais direto, afinal, ainda pode ser João Ferreira, da CDU e não a vice-presidente do PSD…
Lá dentro, nas entranhas do Caldas, um televisor acompanha a emissão da TVI 24, que faz o minuto a minuto do jogo entre o Sporting e o Porto. As primeiras projeções surgiram ao intervalo da bola e Telmo Correia, benfiquista com lugar cativo no programa de discussão futebolística da Antena 1, “Grandes Adeptos”, veio fazer o cauteloso primeiro comentário, assegurando que a noite vai correr bem. Não especificou se se referia aos resultados do CDS ou ao jogo que o seu clube vai disputar, na Madeira, com o Marítimo do Funchal. Mas o dirigente centrista vai estar com um olho no burro outro no cigano…
Enquanto descrevo estas primeiras impressões, um grupo de jotinhas da Juventude Centrista entoa cânticos lá fora, na noite quente deste verão serôdio. Não é a claque de nenhum dos clubes esta noite envolvidos na oitava jornada da Liga NOS, mas a música soa a vitória. Enquanto gritam Assunção, a líder Cristas festeja o golo: quando lançou, com ousadia, a sua candidatura, sabia que estava a rematar à baliza. O contra ataque do adversário podia ser perigoso, mas a perda de bola de Passos Coelho, ao apostar numa candidata de recurso em vez de a apoiar a ela, permitiu que Cristas apanhasse a bola no ar e chutasse a contar. Em Lisboa, Paulo Portas tinha enfrentado Santana Lopes e João Soares. Cristas só enfrenta os seus desafios. A noite deve estar mais quente ainda na sede da São Caetano à Lapa, onde Passos se mantinha, até há pouco, reunido com o seu estado maior. Será que uma candidatura conjunta teria equilibrado as coisas com o PS, em Lisboa?..
É verdade que são vários contra vários e, no fim, ganha o Medina. Mas se, ao fim da noite, Cristas tivesse contribuído para lhe retirar uma maioria absoluta que parece quase certa, o alemão Sebastien, lá em baixo, numa esplanada qualquer do Rossio, ouviria os foguetes e pensaria que a candidata “nice” tinha ganhado as eleições.