Foi um toca e foge, mas Marcelo Rebelo de Sousa começou a visita de seis dias aos Açores por onde queria: a ilha do Corvo. É a mais pequena e a menos povoada do arquipélago, com pouco mais de 400 habitantes. É uma ilha “longe do mundo”, disse o Presidente, citando Virgínia Castro Almeida, mas que “é um mundo”, como escreveu Raúl Brandão.
Em dia de greve na SATA, aterrou, em avião militar, passava um minuto das 15 horas e levantou, com destino às Flores, três horas depois. Tinha à sua espera o representante da República, o Presidente do Governo Regional, a Presidente da Assembleia Legislativa Regional, o único autarca da ilha, uma banda e alguns populares, do lado de fora da vedação. Antigamente a pista era aberta, circulava-se livremente no asfalto e para um avião aterrar bastava tirarem-se as balizas para onde os corvinos atiravam a bola, em jogos de futebol que permitiam passar o tempo. Hoje está tudo mais composto. A ilha evolui, tem uma taxa de natalidade elevada, desemprego abaixo e crescimento económico acima da média nacional.
Vasco Cordeiro, o socialista que reconquistou a liderança do governo regional em outubro de 2016 e que acompanhará toda a visita, estava satisfeito, à saída do encontro a sós com o Presidente da República. Com ele partilhou os “desafios” que se colocam aos açorianos, as “dificuldades” – o setor agrícola e mais concretamente o setor leiteiro, as pescas, a requalificação dos Recursos Humanos. Falaram do “entendimento do Governo Regional em relação à Base das Lajes”, à componente ambiental que se coloca (para os açorianos, os custos financeiros e não financeiros não devem ser imputados à região, devem antes ser assumidos pela República). Falaram ainda da reforma da autonomia. Mas Marcelo, defensor da separação de poderes, não se quis imiscuir numa questão que está a ser debatida na Assembleia Legislativa Regional e é da competência da Assembleia da República.
Globalmente, o Presidente tomou “devida nota” dos vários pontos da exposição de Vasco Cordeiro, porque “o que tudo o que for bom para os açorianos é bom para Portugal e o que for bom para Portugal é bom para o Presidente da República”.
Mas a visita presidencial não se ficou pelas formalidades. Pelo contrário, centrou-se na proximidade, que tanto preza. O Presidente “de todos os portugueses e de cada um dos portugueses” quer ouvir, sair mais informado, para poder ser, como considera que deve ser um Presidente, uma “plataforma constante entre órgãos de soberania.”
E foi aí que, em dia da criança, rumou à escola básica integrada, onde estudam 53 alunos. O Corvo já tem secundário. Os alunos já não tem de rumar ao Faial para acabar os últimos anos da escolaridade obrigatória. A preocupação é que, depois, com ou sem estudos superiores, se fixem na ilha mais pequena dos Açores. É esse o desafio, garante Marcelo. E se Marcelo tivesse nascido no Corvo, teria chegado a Belém? O Presidente foi apanhado desprevenido. Nunca se tinha colocado a questão. Mas foi também por isso que quis dar “um sinal, porque é mais longe, foi para compensar a distância”. A verdade é que os Açores já deram dois Presidentes a Portugal: Manuel de Arriaga e Teófilo Braga. “Mas não eram do Corvo”, rematou Marcelo.
À saída, despedindo-se, disse-se “preparado para fazer a defesa” do Ecomuseu, um projeto de recuperação da parte velha da cidade, criado para preservar a identidade física e sociocultural da ilha.
E, metendo-se novamente em avião militar, percorreu os 800 metros de pista e rumou às Flores.