Fernando Lima, durante anos o responsável pelos serviços de imprensa de Cavaco Silva, primeiro em São Bento, como primeiro-ministro, e, depois, em Belém, como Presidente da República, conta, em livro, nos escaparates a partir da próxima quinta-feira, 8, a sua versão sobre os casos mais “quentes” dos dez anos em Belém. Sobre o chamado “caso das escutas”, de que foi protagonista e na sequência do qual seria afastado pelo Presidente, afirma que nunca falou em “escutas” mas sim em “vigilância”.
Ao longo do livro “Na Sombra da Presidência” (Porto Editora), explica a sua tese da “vigilância” com “situações inexplicáveis” que lhe foram acontecendo e que cessaram depois da demissão do segundo Governo de José Sócrates.
Sobre a demissão de Sócrates, na sequência do PEC IV, confirma que o Presidente não foi informado, com antecedência, daquele pacote de austeridade, explicando que isso deveu-se a “um castigo” que o primeiro-ministro lhe quis aplicar, depois do discurso da tomada de posse, para o 2.º mandato em Belém, e que foi bastante hostil para com o Governo: Lima defende que Cavaco foi marginalizado intencionalmente, no processo do PEC, e que José Sócrates o fez para acertar contas, mas também para demonstrar que a mediação do Presidente poderia ser substituída por Merkel ou Durão Barroso, que tinham dito publicamente ao primeiro-ministro que confiavam nele e nas medidas previstas pelo PEC IV. Simplesmente, a ‘política do facto consumado’, como lhe chamou Passos Coelho não surtiu resultados, afirma Fernando Lima.
O ex-assessor faz alusão a uma discussão telefónica nada agradável entre Durão Barroso, então presidente da Comissão Europeia, e Passos Coelho, irredutível no chumbo ao PEC IV. Segundo Lima, Cavaco recusou ajudar Sócrates nas suas tentativas para encontrar apoios políticos internos. A consequência, já sabemos, foi a queda do Governo e as eleições antecipadas, em junho de 2011.
No violento discurso da tomada de posse, defende Fernando Lima, Cavaco queria que as suas palavras fossem vistas como uma viragem, um sinal de que descolara do Governo. Sobretudo, não queria ser acusado de não se impôr a José Sócrates, perante a situação económica e financeira do País.
Foram 30 anos de colaboração e fidelidade a Cavaco Silva. Nos dez anos da Presidência, Fernando Lima foi testemunha e, depois, protagonista no chamado “caso das escutas” de Belém que motivaram o seu afastamento compulsivo do contacto com os jornalistas. Resta-lhe uma mágoa: “A minha relação com Cavaco Silva ficou afetada. Ainda hoje, não compreendo que tenha tido comigo comportamentos que considero inexplicáveis, depois de termos convivido ininterruptamente desde que comecei a trabalhar com ele, em 1986. Confesso que não o esperava.”