“Sem disfarces”, “sem subterfúgios”. Duro, como tinha prometido. Com “dever de lealdade” para com a crítica que tem ferozmente lançado a António Costa e à geringonça. Francisco Assis falou ao Congresso dos socialistas e a sala ouviu-o em profundo silêncio quando exprimiu, sem hesitações, que está contra o acordo parlamentar do PS com BE e PCP.
Porque não quis viver num “incómodo interessado” e recusa-se a calar a “crítica pela forma como partido tem sido conduzido nos últimos tempos”, assume que foi votado a “um isolamento” no partido que não é “agradável e fácil”.
Antes de falar ao Congresso, e depois de já ter assumido essa solidão à chegada à FIL, Assis ainda viu Ana Catarina Mendes vir ter com ele aos bastidores para lhe manifestar a sua amizade. A secretária-geral adjunta abraçou-o e garantiu-lhe que não quer que se sinta solitário. O eurodeputado sorriu, mas foi percebendo todos os sinais que a sala lhe foi dando.
Sentado numa mesa com os seus colabores mais próximos, preparou durante horas o discurso que proferiu no púlpito já passava das 18h. Só Sérgio Sousa Pinto, outra voz crítica da direção que António Costa seguiu, é que veio de vez em quando sentar-se ao seu lado. Um gesto de solidariedade de alguém que preferiu não falar ao congresso e decidiu aceitar o gesto de amizade de Ana Catarina Mendes, que o convidou para a Comissão Nacional do PS. Foi também o único que, depois de Assis ver o congresso aplaudir o seu discurso, fez questão de o vir saudar com um aperto de mão.
Francisco Assis ainda começou por ser assobiado levemente no início do discurso, mas quando terminou agradecendo por ter sido ouvido e lembrando que “no PS, nunca nenhuma divergência se transformou em dissidência”, os delegados não pouparam os aplausos.
Não terão gostado de o ouvir dizer que o Governo vive numa “liberdade muito condicionada, permanentemente vigiado por quem pensa muito diferente do PS”. Manuel Alegre, que falara um pouco antes, tinha já lhe respondido, rejeitando a ideia de que o Governo de costa esteja “manietado” pela esquerda.
Mas se há coisa que preocupa o eurodeputado socialista é o “vírus ideológico”, de um “radicalismo anti-europeu, que regressa em alguns discursos em Portugal”.
Foram poucos minutos de discurso, mas serviram para Assis marcar mais uma vez a sua posição e assumir-se como a única voz (das que importam dentro do PS) a não “silenciar convicções profundas”: as de que o PS nada tem a ganhar com uma aproximação aos partidos da sua esquerda.
Sem gritos ou palavras de ordem, Assis assumiu serenamente a sua oposição à geringonça. A Ricardo Gonçalves, que se lhe seguiu, couberam os ataques sem filtro ao líder do PS e ao partido, assumindo sem medo das palavras que “se o país continuar a não crescer, o Governo terá que viver com “pressões e sanções da União Europeia” e o PS “não pode ter dúvidas”, de que vai “perder as eleições autárquicas”.
Europa e autárquicas. Dois temas que dominaram a grande maioria dos discursos no 21º congresso do PS. Pedro Delgado Alves, deputado e dirigente do PS, assumiu que Portugal só tem duas opções na Europa: “ou assistimos e definhamos ou resistimos e lutamos”. Um tom que foi partilhado por muitos “camaradas”.
Mas foi nas autárquicas que se sentiu o maior empenho. O PS quer vencer as eleições e Carlos Zorrinho até deixou uma proposta: uma convenção autárquica, no início de 2017, para repensar a política municipal, as freguesias. Rumo a uma nova grande vitória”, disse o eurodeputado.