Pedro Passos Coelho não esta disponível para apoiar um governo, uma maioria ou um forma de governar em que não se revê. O seu papel, na oposiçao, será mais o de alertar, quando o rumo se desviar daquele que deixou traçado, ou de apresentar, no Parlamento, “iniciativas que visem atacar problemas graves” com que se for deparando no decorrer do mandato. “Não é à oposição que compete governar” nem o primeiro-ministro quer o seu apoio, como recordou aos sociais-democratas, reunido em Espinho. Mas mesmo assim, Passos Coelho colocou-se à disposição de António Costa para fazer a reforma da Segurança Social.
Relembrando que, enquanto primeiro ministro, tentou chegar a acordo com o líder socialista sobre esta matéria, Passos Coelho, justificou a sua aproximação ao PS com o facto de nao querer, no futuro, que “tenha de se cortar pensões so porque não ha dinheiro.”
Tal como deixou escrito na sua moção estratégica, denominada “Compromisso Reformista”, defendeu um sistema em que haja “benefícios definidos através da lei, para o cálculo da pensão”. “O problema da sustentabilidade da Segurança Social não pode ficar à espera que o problema da natalidade [o combate à “recessão demográfica” é outra das prioridades do PSD] fique resolvido.”
Passos Coelho falou durante uma hora e 13 minutos. Treze, foram dedicados ao passado e ao trabalho feito durante os quatro anos em que esteve à frente de um governo de coligação. Não se quis alongar, mas quis repetir as medidas alcançadas, deixando ao PS “um ponto de partida para um novo ciclo político e económico diferente do que tínhamos em 2011. “As condições [herdadas pelo novo governo] são incomparavelmente melhores” em termos económicos, na taxa de desemprego, na dívida e no défice, nas exportações, na credibilidade e na confiança.
Não deseja “que as coisas corram mal”, mas aponta para os maus exemplos deste governo, para a política de reversões, dos riscos a que o governo expõe o País. Este governo, diz Passos, “sacrifica o futuro ao presente”, “fragiliza a isenção e a independência das instituições públicas”.
Se este governo “continuar com esta prática política, nao terá hoje o nosso apoio nem o terá no futuro.”
O futuro que Passos Coelho quer construir é o de uma sociedade com “oportunidades para todos”, “assente na liberdade, dignidade das pessoas, respeito pelos seus direitos mas sustentada nos seus deveres”, uma sociedade que possa atrair investimento. Quer ver melhoradas as reformas que fez no passado – a reforma do Estado (“e não é ter um simplex”), a coesão territorial, a demografia. Quer ainda alterar o sistema eleitoral – menos deputados e uma forma diferente de os eleger, para o Parlamento. É a altura para o fazer, diz, por “não termos eleiçoes legislativas à vista”.
À vista estão, sim, as autárquicas, que quer ganhar. O seu objetivo, diz, é alcançar a presidência do maior numero de câmara e recuperar, simbolicamente, a Associação Nacional de Municípios.
A Marcelo, deixou uma palavra. Ou melhor, sobre Marcelo, deixou uma palavra… ao partido. Salientando tratar-se de um ex-presidente do PSD, quis deixar claro que “o plano do Presidente nao se confunde com o plano dos partidos”, o seu mandato deve preocupar-se com a “unidade dos portugueses”. O Presidente, considerou, deve “intervir com pensamento e ação, arriscando tomar posições e marcar a diferença. Ter divergências com quem quer que seja não é desunir, é afirmar a identidade do cargo que ocupa com a identidade de que o ocupa”. E assim tenciona passar à frente das notícias de divergência entre os dois.