O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) suspeita que o ex-agente de jogadores de futebol José Veiga, e o seu parceiro de negócios Paulo Santana Lopes, terão comprado imóveis e carros de luxo em Portugal para branquear o dinheiro que terão obtido por obras feitas no Congo Brazzaville (e que alegadamente terão sido conseguidas a troco de pagamentos a altos dirigentes daquele país africano).
Com esse objetivo, e de acordo com informações recolhidas pela VISÃO, José Veiga e Paulo Santana Lopes, juntamente com a advogada Maria Barbosa, também constituída arguida no processo ‘Rota do Atlântico’, terão começado a constituir sociedades de modo a converter em património mobiliário e imobiliário o dinheiro que terão obtido fora do país. Em nenhuma dessas sociedades terá sido descoberta qualquer atividade comercial para além da aquisição desses bens.
Para a compra de automóveis, por exemplo, José Veiga terá usado a empresa Corrida Sublime, titulada pelo irmão (Manuel Veiga), para comprar um Porsche que seria conduzido diariamente pela mulher e um Mercedes para seu uso pessoal. O vendedor da Mercedes não terá ficado indiferente ao facto de o carro ficar em nome daquela sociedade. Estranhou e terá mesmo chegado a comentar com Paulo Santana Lopes: “É uma situação muito especial porque nós sabemos perfeitamente que o sr. José Veiga e o sr. Manuel Veiga não fazem comércio de automóveis.” A empresa não tem outros veículos registados em seu nome.
Na maior parte das vezes a remessa dos fundos para Portugal seria feita através de uma sociedade chamada International Services Congo Sarl, constituída em 2011 e com sede em Brazzaville, supostamente dedicada a importação e exportação e comércio a grosso de produtos diversos. Pelo menos 268 mil euros terão sido transportados para Portugal por essa via.
Em Junho de 2011, foi celebrado em Cascais um contrato-promessa de compra e venda de uma moradia na Quinta da Marinha, em Cascais, por 1,6 milhões de euros. Nesse contrato, José Veiga surge como o promitente comprador e a sociedade “Falmacon – Construções Unipessoal” como o promitente vendedor. Mas na escritura celebrada em Fevereiro de 2012, a compradora é a Narrativa Global, que apesar de ter declarado que o bem estava destinado à venda nunca o vendeu. Essa sociedade terá sido constituída nas vésperas da celebração da escritura e tinha conta aberta junto do BES. Mas parte do valor do imóvel – 500 mil euros – terá sido pago pela Asperbras, a empresa brasileira que, por intermédio de José Veiga, assinara contratos milionários para fazer obras no Congo Brazzaville, entre elas a construção de um complexo industrial por 500 milhões de dólares.
Outra sociedade, a D.O.S Deep Ocean Services, registada no Chile e tendo como beneficiário José Veiga, terá sido usada no negócio da compra de um apartamento no empreendimento de luxo Atlântico Estoril Residence: um T4 com seis lugares de estacionamento, com o custo de 3,4 milhões de euros. Outro apartamento nesse mesmo edifício (um T5) já terá sido comprado, em 2015, através de outra sociedade: a Índice Vencedor, registada no Chipre, representada por um advogado de Vila Nova de Gaia mas com o mesmo beneficiário efetivo – José Veiga.
E os negócios imobiliários não terminaram aqui. O ex-agente de futebolistas que se encontra em prisão preventiva por suspeitas de corrupção no comércio internacional, fraude fiscal, branqueamento de capitais e tráfico de influência terá ainda usado outra sociedade – a Impulso Óbvio – para comprar outro apartamento no Estoril por 95 mil euros; ou a sociedade Margem Encantada – Investimentos Turísticos, SA, para em conjunto com o ex-presidente do Benfica Manuel Damásio investir na compra de ações da sociedade proprietária do Hotel Intercontinental, no Estoril, depois de receber uma tranferência de uma conta suíça de valor superior a 2 milhões de euros.