Tiago Brandão Rodrigues, 39 anos, melómano, abstémio, praticou andebol e karaté e é doutorado em Bioquímica. Natural de Paredes de Coura, é filho de professores “de esquerda”
Cientista
Aos 14 anos, abandonou a casa dos pais, em Paredes de Coura, para estudar em Braga, onde havia um “corpo docente mais bem preparado e mais estável”, recordou à VISÃO em dezembro de 2013. Em Coimbra, licenciou-se e doutorou-se em Bioquímica. Depois, passou 15 anos fora do País: em Madrid (Erasmus), nos EUA e no Reino Unido. Em 2013, já a trabalhar no Cancer Research UK, em Cambridge, publicou na Nature Medicine o artigo científico que o tornou conhecido em todo o mundo. Aí descrevia uma técnica de ressonância magnética que permite monitorizar a eficácia dos tratamentos contra o cancro.
Desportista
Começou a praticar andebol e karaté na adolescência, no Alto Minho. No Reino Unido, em 2012, teve o seu momento alto na arena desportiva planetária, mas sem competir em nenhuma prova: foi adido da comitiva portuguesa aos Jogos Olímpicos, ocupando o verão desse ano no acompanhamento dos atletas nacionais. “Ajudou a desbloquear diversos problemas e integrou-se muito bem no ambiente da comitiva, acabando por criar boas relações com todos”, diria João Malha, assessor de imprensa do Comité Olímpico de Portugal.
Político
“Tive de ter uns dias para pensar. Porque basicamente isso implicava sair de Cambridge, voltar a Portugal depois de 16 anos, deixar a minha ligação com a universidade, onde tinha um contrato sem termo que duraria, se as coisas corressem bem, até ao resto da minha vida.” Foi assim que o atual ministro descreveu a aceitação do convite para cabeça de lista do PS por Viana do Castelo às legislativas de 4 de outubro. Mas não aqueceu o lugar: a 26 de novembro, tomou posse como ministro da Educação.
Exames
A 8 de dezembro, Tiago Brandão Rodrigues anunciou um novo modelo de avaliação externa, depois de a Assembleia da República ter cancelado o exame do 4º ano. O ministro acabou também com o exame do 6º ano e com o de Inglês Cambridge, criando provas de aferição (que não influenciam os resultados) nos 2º, 5º e 8º anos. “O modelo anterior, dos exames, não estava só errado, era acima de tudo nocivo”, justificou.
Reações
As opiniões extremaram-se quando o ministro afirmou que “treinar para os exames é pernicioso e nocivo”. António Barreto chamou-lhe O Papagaio da Fenprof, num artigo no Diário de Notícias. “O ministro não ouviu quem devia ter ouvido, não acatou conselhos sábios de prudência e experiência e tomou medidas radicais a meio do ano letivo”, escreveu o sociólogo. No Público, João Miguel Tavares classificou de “palhaçada” a mudança: “Só mesmo quem acredita que o Estado é o alfa e o ómega da existência humana pode dispor da vida dos cidadãos com a vergonhosa leviandade que o Ministério da Educação acaba de exibir.” Lurdes Figueiral, presidente da Associação de Professores de Matemática, apoiou a extinção dos exames. “Nós sempre dissemos que as provas do sexto ano deviam acabar. O ensino básico é um ciclo de nove anos e, a haver algum exame, só faz sentido que haja no final desse ciclo”, disse a professora.