Acabou o primeiro round da discussão Parlamentar sobre o Orçamento Retificativo. Agora, é com o PSD, reunido para decidir o sentido de voto.
No primeiro grande teste aos acordos de Esquerda, PCP, PEV e, provavelmente Bloco de Esquerda, retiram o tapete ao Governo. No caso do Banif, ou seja, na hora da verdade, verifica-se a tese de que, no Governo, o PS tem muito mais afinidades com o PSD do que com os partidos a que se associa. Os partidos mais à esquerda não culpam o Governo pela necessidade de Orçamento Retificativo mas também não aprovam a solução. Colocam o ónus da responsabilidade no anterior Executivo da direita, mas não aceitam a venda nos termos em que foi feita, preferindo a nacionalização pura e simples. Agora, e perante a própria ameaça do CDS em votar contra, é o PSD que pode dar a mão ao PS. Passos Coelho já disse que não teria encontrado uma solução muito diferente. Quando as coisas apertam, o que funciona é o Bloco Central. No limite, o Banif fecha, com todas as implicações para depositantes, investidores e confiança no sistema bancário.
O Banif pode custar ao País quase 3% do PIB. Aumenta o défice e a dívida e só a batota europeia de não contar os resgates bancários para o procedimento por défice excessivo poderá salvar Portugal de entrar nessa situação. O guru da gestão bancária português, Horta Osório, que raramente fala, mostrou-se chocado. Ele não compreende como um banco tão pequeno chegou a este ponto e quer explicações aos contribuintes que vão pagar a fatura. Horta Osório está por dentro do sistema, e deve saber do que fala. Quanto a Passos Coelho, que está obviamente comprometido nesta situação – e por isso poderá viabilizar tudo… – nunca esperou ver tão cedo testadas as suas palavras, quando disse que, se o PS precisasse, que não contasse com a mão amiga dos sociais-democratas e pedisse eleições. Claro que eleições devidas ao Banif penalizariam, em primeiro lugar, o responsável pela situação, ou seja… o PSD.
Pelas salas parlamentares ressoarão as palavras de ontem de Cavaco Silva: «Os governos ideológicos são sempre derrotados pela realidade». Ora, no acordo da maioria de esquerda, que viabiliza o Governo, não consta nada sobre a resolução do Banif. Já os deputados do PSD eleitos pelos Açores e Madeira, anunciaram que não se opõem, conforme confirmou Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, sem explicar se os deputados vão votar a favor da proposta ou abster-se.
Passos Coelho condenou a TVI por ter divulgado notícias sobre o risco de fecho do Banif, o que conduziu a uma “fuga de depósitos mais intensa que tornou o valor do banco menos apetecível para potenciais compradores. Sabemos que, de alguma maneira, isso obrigou a que o Estado tivesse que assumir garantias e responsabilidades sobre o futuro que de outra maneira se calhar não teria tido obrigação de fazer.” E correm teorias da conspiração sobre a colocação da notícia, os interesses espanhóis e a “pressa” com que o Banif foi vendido ao Santander Totta, que mantém um contencioso com o Estado português por causa do processo dos swaps.
Uma coisa é certa: esta é a “surpresa desagradável” de que Costa falou numa polémica entrevista televisiva, ainda durante a pré-campanha eleitoral.