Marcelo Rebelo de Sousa formalizou hoje a sua candidatura junto do Tribunal Constitucional com a entrega de 15 mil assinaturas. Vitorino Silva, conhecido como Tino de Rans, também se deslocou ao tribunal para entregar oito mil assinaturas, mas a falta de uma cópia do bilhete de identidade impediu que formalizasse a candidatura. Prometeu regressar mais tarde para completar o processo.
Jorge Sequeira, Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa fizeram-no ontem de manhã, os dois últimos com intervalo de uma hora. A lei diz que os candidatos devem ter entre 7 500 a 15 mil proponentes para poderem entrar na “corrida” à presidência da República.
O balanço é este: mais de 97 mil cidadãos eleitores rubricaram o seu nome no impresso de um dos candidatos.
Jorge Sequeira, psicólogo, investigador e professor universitário, recolheu nove mil proposituras para defender um País sem “partidocracia”. Gracejou que o “facto de ser comentador perspetiva uma candidatura forte”.
Belém entregou 9 200 assinaturas e lamentou que o processo seja “burocraticamente muito pesado”, apelando a que, num futuro próximo, possa ser utilizada a “via informática” para validar as assinaturas.
Nóvoa fez chegar ao tribunal 13 mil assinaturas e registou aquele momento como “de grande orgulho”.
Estes dois candidatos disputam os votos dos socialistas, já que o partido deu liberdade de escolha aos militantes. A antiga presidente do PS tem apoiantes históricos como Manuel Alegre e Almeida Santos e o ex-reitor da Universidade de Lisboa conseguiu uma “claque” de peso constituída por três ex-presidentes (Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio), vários deputados do PS e membros do Governo.
Mas o primeiro a entregar os nomes, cerca de oito mil, foi Paulo Morais, ex-vice presidente da Câmara do Porto e militante do PSD. Morais escolheu o dia 1.º de dezembro “por ser o dia da Restauração da Independência”, porque, referiu, “está em causa a independência do Estado face aos grupos económicos”. Fossem para o ano as eleições e o tribunal estaria encerrado, já que o primeiro-ministro prometeu repor esse dia como feriado nacional.
O candidato comunista, Edgar Silva, foi o segundo. Levou 39 caixas de arquivo com 15 mil assinaturas e, garantiu o antigo deputado regional madeirense e ex-padre, “muitas outras, se fossem necessárias, teríamos seguramente garantido”.
Henrique Neto, empresário e ex-deputado do PS, confirmou a dificuldade para arranjar as assinaturas. Entregou 7 950. “É difícil porque é muito trabalho, muitas pessoas que se sacrificaram, às vezes à chuva e ao sol. Até fico admirado com outros candidatos que, não sei como, conseguiram as assinaturas. Com exceção do Paulo Morais, que esteve na rua, os outros não sei onde as conseguiram”.
Já Marisa Matias, a candidata do Bloco de Esquerda, fez chegar 12 mil nomes ao tribunal e apelou à união da esquerda. “Se não for eu a passar, o mesmo acontecerá em relação ao candidato ou à candidata da esquerda que passar. Aí todos os candidatos da esquerda, numa lógica de reciprocidade – temos que ser uns para os outros – se unirão para derrotar a candidatura da direita.”
O caminho até aqui
Em tempo de eleições legislativas, as atenções estiveram viradas, também, para as… presidenciais. Quem avançaria? Quem não o faria? Os candidatos desejados, as recusas, os jogos de bastidores, as elucubrações aqui e acolá. Se Sampaio da Nóvoa se fez às estrada bem cedo, pretendendo com isso ganhar notoriedade, Marcelo esperou até à última para dizer, à maneira de Ronaldo, “eu estou aqui”.
E disse-o logo depois das legislativas, quando o novelo para formar Governo ainda só tinha um metro de linha e apenas ficaria completo um mês e meio depois, quando António Costa tomou posse como primeiro-ministro.
Nóvoa apareceu cedo, mas houve outros dois candidatos que puseram o dedo no ar antes mesmo do ex-reitor da Universidade de Lisboa. Henrique Neto foi o primeiro a usar da palavra, a 25 de março, para dizer que tinha “soluções à esquerda e à direita”. Menos de um mês depois foi a vez de Paulo Morais falar: “foi a corrupção que nos trouxe a crise e a pobreza”. Só depois, aí sim, surgiu Sampaio da Nóvoa.
Enquanto apareciam vários proto-candidatos (a lista final saldou-se em 22), os portugueses foram às urnas votar para eleger a nova Assembleia da República. O País ficou virado do avesso, com reuniões atrás de reuniões entre os vários partidos; Cavaco Silva chamou a Belém 24 instituições e personalidades, embora não tenha reunido os seus conselheiros oficias (Conselho de Estado). Foi neste período que surgiram oficialmente os outros quatro candidatos: Marcelo Rebelo de Sousa, Maria de Belém, Edgar Silva e Maria Matias, por esta ordem. No dia 24 de janeiro, os portugueses decidem.