Para o regresso ser definitivo, só falta a José Sócrates terminar a tese com que concluirá o seu mestrado em Ciência Política, no Instituto de Estudos Políticos de Paris, “Sciences Po”. Isso deve acontecer no final do semestre, em junho.
Até lá, virá todas as semanas a Lisboa para participar, em direto, no Telejonal de domingo da RTP, onde, a partir do próximo dia 7, fará um comentário de 25 minutos. Consigo, no estúdio, estará a jornalista Cristina Esteves, uma das pessoas com quem mais tem falado ao telefone nos últimos dias.
Ao contrário do que fez nos dias que antecederam a entrevista à RTP, na passada quarta-feira, 27, o ex-primeiro-ministro não tem procurado recolher factos e opiniões junto do seu grupo de amigos na política. Fernando Serrasqueiro confirma-o: “Não falo com ele desde que veio, recentemente, a Lisboa.”
Isto não significa que não esteja a preparar minuciosamente a forma como se vai apresentar em estúdio, no domingo. A forma, e o conteúdo… “Ele é muito meticuloso, muito rigoroso e faz muitos contactos para se preparar”, observa Fernando Serrasqueiro, que é amigo de José Sócrates e com ele colaborou no Governo e no PS.
Essa é uma fama que vem de longe, desde os tempos em que manteve um frente-a-frente com Santana Lopes, também na RTP, antes de assumir a liderança do partido. Nessa altura, era com Pedro Silva Pereira que preparava, na véspera, as suas prestações televisivas.
Hoje não será assim tão diferente. Silva Pereira continua no seu círculo mais próximo e ambos são políticos que conhecem bem os “truques” de uma prestação televisiva.
‘Um desafio’
Emídio Rangel, dirigia a RTP, nos tempos dos “marretas” (alcunha posta por um técnico da televisão e que foi ouvida nos auriculares dos visados, José Sócratas e Santana Lopes). Em declarações ao Público, Rangel lembrou a forma como Sócrates se preparava: “Levava os trunfos bem marcados, munia-se de documentação, invocava informação factual. Santana defrontou o adversário mais difícil em televisão que lhe podia calhar.”
A argumentação pública de Sócrates funciona por pontos-chave. Tem mensagens que quer fazer passar, resume-as em frases de efeito, e é muito difícil atrapalhá-lo nessa “arte” retórica. A VISÃO apurou que a RTP já andava a “namorar” Sócrates há vários meses, ainda no mandato da direção anterior.
Cristina Esteves está preparada. “É um grande desafio. É uma coisa nova para mim, mas também será nova para José Sócrates.”
O papel da jornalista será mais o de conduzir o comentário e menos o de interpelar, confrontar. Por isso, a proverbial “agressividade” do antigo primeiro-ministro deve estar arredada das noites dominicais da TV. Vários amigos já o aconselharam a sorrir mais e a franzir menos vezes o sobrolho.
Até porque o comentador não é, apenas, um político. “Não tenho nenhum plano para regressar à vida política ativa”, disse, na recente entrevista.
“Este é o tempo para o meu regresso ao debate político. No meu caso, considero um dever”, afirmou, na RTP. Um dever que o obrigará a viajar, uma vez por semana, de Paris para Lisboa, enquanto acaba a sua tese. E a pagar do seu bolso as viagens, porque Paulo Ferreira, o diretor de Informação que concluiu a negociação do contrato, já afirmou que “não há nenhum custo decorrente de viagens suportado pela RTP”. E Alberto da Ponte, o gestor nomeado pela tutela, acrescentou ao DN: “O contrato custa zero.”