“Acho que o país lhe deve estar agradecido, pelo esforço que tem feito no sentido de criar condições de sustentabilidade das finanças públicas, com muitas incompreensões, com erros de comunicação, com erros de gestão das expectativas, mas qualquer ministro das finanças nesta situação seria objecto de crítica”, diz Catroga sobre o actual Ministro das Finanças, em entrevista à Lusa.
“A substituição do ministro das Finanças, por si, nada resolve”, acrescenta. “Ele [Vítor Gaspar], no fundo, tem feito um trabalho que era necessário, embora incompleto do lado da despesa e exagerado do lado dos impostos”, continua.
O Governo terá acreditado numa visão mecanicista para a saída da crise, mas desta vez as coisas são diferentes e essa retoma automática não vai acontecer, defende o economista.
Eduardo Catroga explica que, segundo esta visão, quando temos um problema de credibilidade nas contas públicas e nas contas externas e resolvemos esse problema, então, “há uma retoma da confiança e com essa retoma da confiança os motores do investimento privado nacional e estrangeiro começam a funcionar”.
“PS não pode ficar de fora”
Eduardo Catroga defende ainda que o PS não pode afastar-se da discussão sobre a despesa e que a ‘troika’ devia exigir a cada revisão do memorando a assinatura do PSD, CDS-PP e PS para desembolsar cada ‘tranche’.
“O Partido Socialista (PS) disse logo que não, deram-lhe logo um primeiro pretexto e saiu. O PS não pode estar fora da discussão se a despesa pública está exagerada ou não. (…) O PS aproveitou a pouca habilidade do Governo em setembro com a questão da Taxa Social Única para saltar do barco, o barco que ele afundou. Quem afundou o barco não pode dizer que não tem nada a ver com isto”, afirmou o mentor do programa do PSD, em entrevista à Lusa.
O economista considera também que o CDS-PP tem tido um pé dentro e outro fora da coligação e diz que se fizesse parte do Governo, fazia com que a ‘troika’ exigisse que a cada desembolso fosse necessária a aprovação de todos os que assinaram o acordo inicial.
Memorando devia ter sido renegociado “ao fim de um ano”
O Governo deveria ter renegociado o programa de ajustamento com a ‘troika’ no final do primeiro ano, diz ainda o ex-ministro das Finanças, considerando que as bases em que assenta o memorando estão incorretas.
O antigo ministro de Cavaco Silva defende, em entrevista à Lusa, que esta negociação devia ter sido feita ao fim de 12 meses, que o Governo devia ter defendido inicialmente junto da ‘troika’ que os pressupostos do programa estavam errados para ter capital de queixa e diz ainda que faltou habilidade ao Governo para gerir este processo.
“O momento ideal tinha de ter sido a reavaliação dos pontos fracos e fortes do memorando ao fim de um ano, dando origem a um reajustamento/aperfeiçoamento desse memorando negociado com forças políticas junto da ‘troika’ e não apenas uma negociação técnica. Esse era o momento em que todos estavam no mesmo barco, ainda antes da questão da Taxa Social Única (TSU)”, afirma.