Não há pingue-pongue verbal nas reuniões com a troika. Os representantes do programa de assistência financeira a Portugal falam, depois os deputados usam da palavra uns minutos et… voilà, está cumprido o calendário. Pedro Marques, 36 anos, deputado do PS e membro da comissão parlamentar que acompanha a execução do memorando da troika, lamenta a “improdutividade” destes encontros. “Eles não vêm negociar nada. Já está tudo decidido a priori”, diz.
A verdade é que o deputado preferia que houvesse ali algum do tal pingue-pongue, desporto que praticou, como atleta federado, até chegar aos bancos da faculdade. A interpelação parece-lhe a melhor forma de alcançar consensos. Assim, as trocas de bolas e, também, de ideias, ficam para os jogos, mas agora de ténis, com os amigos e deputados Vieira da Silva e Fernando Medina. E os três são “muito competitivos”, conta, a rir.
Longe vão os tempos dos campos de alcatrão do Montijo, cidade onde nasceu e cresceu, em que batia nas bolas com uma raqueta de madeira perante o olhar atento do pai, piloto e instrutor de helicópteros. Para Pedro Marques, o primogénito de quatro irmãos – teve como diligente missão zelar pelas três “maninhas” mais novas -, estariam reservados outros voos. Quase sempre de forma precoce. Aos 19 anos, já era tesoureiro da Junta de Freguesia, um ano depois terminou a licenciatura em Economia, no ISEG, em Lisboa – aos 25 anos concluiria a tese de mestrado na mesma área – e, aos 28, foi investido como secretário de Estado da Segurança Social, no primeiro Governo de José Sócrates. “No dia da tomada de posse, o Laurentino Dias [deputado do PS] virou-se para mim e disse ‘tu é que és o miúdo que ainda não tem 30 anos?'”, lembra, a rir.
Já por duas vezes mencionámos gracejos do deputado, mas rir não faz parte das suas idiossincrasias. Pelo menos, é isso que garantem os amigos e os colegas parlamentares. Ele confirma. Sério e sisudo são dois dos adjetivos com que costuma ser brindado. Algo que não o aflige por aí além, mas também não o deixa completamente confortável. Habituou-se. “Até me dão mais idade do que aquela que tenho”, afirma, encolhendo os ombros como que a querer dizer “não sei porquê”. Até porque, em casa, a filha de três anos e meio “não se queixa”.
Preparado para o ‘ano horribilis’
O lugar de tesoureiro da Junta de Freguesia do bairro onde residia, no Montijo, acabou por lhe abrir a porta da política. Sem nenhuma influência familiar – “em casa, não era tema de conversa” – inscreveu-se na Juventude Socialista. E, mais do que a atividade partidária, foi o contacto com as dificuldades das famílias daquela zona industrial que lhe moldaram a visão e o entendimento. “Ajudou a levar-me para a área social.”
Mais tarde, quando foi eleito vereador da autarquia do Montijo, e ficou com os pelouros social, da habitação e da juventude, aprofundou, através da proximidade com que servia a população, esse conhecimento. Desse tempo, recorda a ambiguidade do trabalho autárquico: “Passa-se muito tempo a trabalhar o que é urgente e menos o que é importante.”
Mas a sua formação em Economia não tinha ficado completamente de lado. No intervalo das duas funções autárquicas, foi consultor no âmbito da gestão de um programa de fundos comunitários e é por essa altura que se torna militante do PS. O seu trabalho dá nas vistas e Vieira da Silva, então secretário de Estado da Segurança Social, nomeia-o seu assessor. O acompanhamento do processo de reforma do financiamento da Segurança Social, assim como a discussão da nova fórmula de cálculo das pensões reforçaram a bagagem do deputado na área social. E um discurso que fez nas Novas Fronteiras – fórum promovido por José Sócrates, enquanto secretário-geral do PS, para discussão de várias temáticas -, causou boa impressão no líder socialista. Tanto que Sócrates, logo após a conquista da primeira maioria, chamou Pedro Marques para secretário de Estado da Segurança Social. Cargo que bisaria nas eleições de 2009.
Hoje, como deputado, Pedro Marques tem deixado marca pela convicta participação na comissão de acompanhamento das medidas da troika e, também, na Comissão Parlamentar de Orçamento, Finanças e Administração Pública. Aliás, durante a discussão do Orçamento do Estado, acreditou que este “não iria, sequer, existir”. Pensava que Paulo Portas não “cederia” às intenções do PSD. Como tantos, está seguro de que 2013 vai ser um “ano explosivo” e “horribilis”, embora não estivesse destinado a ser um fado se, como defende, houvesse um entendimento entre “PSD, PS, Presidente da República e os parceiros sociais”. Esta solução harmoniosa, que ainda preconiza, tem que ver, aliás, com uma característica que diz ter por herança do avô materno, a quem dedicou a tese de mestrado. “Foi uma pessoa marcante na minha vida. Transparecia calma e ponderação e tinha sempre tempo para ouvir os netos”, recorda, com os olhos azuis a brilhar. A tese de doutoramento, que está a fazer no ISCTE, na temática das Políticas Sociais, ainda não tem dedicatória.