O presidente do Fórum para a Competitividade, Pedro Ferraz da Costa, diz que os ministérios da Agricultura e da Economia “estão a ser uma grande deceção” num Governo com nota globalmente positiva, mas que está atrasado nas reformas estruturais.
Em entrevista à Lusa, o antigo líder da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), elogia a coragem do ministro das Finanças e do primeiro-ministro e a inversão de rumo operada no país, mas critica os ministérios setoriais, nomeadamente “a Agricultura e a Economia”, por as coisas andarem “devagaríssimo”.
Para o empresário, esta falta de velocidade não resulta apenas da crónica demora que existe em Portugal para alterar legislação. Mesmo “ao nível da execução e de coisas mais simples, esses dois ministérios, que são os que estão mais perto da atividade económica, estão a ser uma grande deceção”.
Mais duro ainda, Ferraz da Costa diz que “ninguém espera que o ministro da Economia consiga explicar seja o que for, porque ele não tem essa capacidade”. E termina lamentando que muitas das intervenções de Álvaro Santos Silva acabem por se “transformar rapidamente em motivo de chacota”.
Geração das jotas não faz reformas
A incapacidade para implementar reformas estruturais é, para Pedro Ferraz da Costa, um dos problemas permanentes do país e que resulta, segundo o empresário, da ausência de ligação entre a classe política e a realidade das empresas.
“Há 20 anos que há [incapacidade para resolver os problemas que afetam as empresas]. Temos uma geração de políticos que veio das jotas e que o que conhece é a conversa de bastidores da Assembleia da República e pouco mais do que isso” sublinha o empresário em entrevista à Lusa.
Mas Pedro Ferraz da Costa diz também que esta geração de políticos está habituada “a intermediar, uns de uma forma mais séria, outros de uma forma menos séria, os grandes negócios do país, mas não a atividade económica das empresas de dimensão média que são, por exemplo, as que fazem o sucesso económico da Alemanha”
Sem desvalorização fiscal força subida do desemprego
Pedro Ferraz da Costa acredita que o abandono da desvalorização fiscal prevista no acordo com a ‘troika’ é a razão que está a levar o crescimento do desemprego a ultrapassar todas as previsões.
“Foi por não se ter querido tomar essas medidas que a taxa de desemprego tem estado a crescer mais depressa do que todos previram”, sublinha Ferraz da Costa em entrevista à Lusa.
A medida de que fala o empresário, que passa por uma descida das contribuições patronais para a segurança social compensadas com uma subida do IVA, fez mesmo parte do memorando de entendimento entre Portugal e a ‘troika’, mas acabou por ser afastada pelo Governo.
A crescer 3% não paga a dívida
O líder do Fórum para a Competitividade, Pedro Ferraz da Costa, diz que Portugal tem de endireitar as finanças públicas, mas que o Governo também tem de perceber que sem crescimento, o país não conseguirá sair da atual situação.
O antigo presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) reconhece, em entrevista à Lusa, que “uma parte da crítica que se faz ao Governo de não haver mais crescimento é perfeitamente irrealista e infundada”.
Ainda assim, adverte que apesar de o Governo estar obrigado a “reequilibrar as finanças públicas”, também tem “que perceber que se tivermos com taxas de crescimento abaixo dos três por cento, a perspetiva de virmos a pagar a nossa dívida pública e não vivermos quase eternamente nesta situação é nenhuma”.