A história de Yuliia Paievska, uma paramédica ucraniana da cidade de Mariupol cujo paradeiro é desconhecido desde 16 de março, quando foi capturada pelas tropas russas, tem cativado os média ocidentais.
Yuliia, mais conhecida pela alcunha Taira, filmou uma série de vídeos que documentam o seu dia a dia como paramédica, desde a simples assistência aos familiares de soldados ucranianos ao caos dentro dos hospitais de guerra improvisados, onde, muitas vezes, tratam-se militares feridos dos dois lados sobre o mesmo teto. As imagens, captadas através de uma câmara que a ucraniana colocava habitualmente colocada na testa ou no peito, mostram em gráfico detalhe as repercussões das batalhas pelo domínio de Mariupol.
Com um toque dramático, a paramédica apenas conseguiu encaminhar os vídeos aos jornalistas da agência noticiosa norte-americana Associated Press (AP) – a única ainda presente em Mariupol naquela altura – um dia antes de ser detida pelo exército russo.
Segundo a sua filha, Anna-Sofia Puzanova, de 19 anos, que descreveu ao jornal britânico The Telegraph o momento em que Yuliia foi capturada, a paramédica foi apanhada pelas tropas russas quando se dirigia para o teatro de Mariupol que foi bombardeado pelo Kremlin, um ataque que causou, tendo em conta estimativas conservadoras, por volta das 600 mortes. Alegadamente, Yuliia, acompanhada pelo seu motorista Serhiy, terá parado a meio do caminho para assistir um ferido que tentava fugir de Mariupol – sendo apreendida aí mesmo.
Desde então, o seu paradeiro ainda é desconhecido. A narrativa que Moscovo dedica à paramédica, garantindo que Yuliia tem ligações ao batalhão Azov, a antiga milícia com origens de extrema-direita incorporada pelo exército ucraniano, que o Kremlin acusa de ser neonazi, não augura a favor daqueles que a querem ver a salvo, e Anna-Sofia acredita mesmo que “os ocupadores russos irão torturá-la”.
Mesmo que isso não aconteça, Moscovo vê Yuliia como uma prisioneira de guerra de peso, já que o seu trabalho de resistência aos militares da Rússia data desde a invasão da Crimeia em 2014, quando fundou a chamada “Taira’s angels” [Os Anjos da Taira], uma rede de voluntários dedicados a conduzir ambulâncias e prestar serviços de saúde em tempo de guerra, através da qual terá salvo mais de 5000 vidas e oferecido formação a mais de 1000 médicos voluntários, segundo dados do The Independent. Este esforço valeu a Yuliia a condecoração de Herói da Ucrânia, a maior honra civil do país.
Embora o nome de Yuliia já tenha surgido numa conversa que visava organizar uma troca de prisioneiros de guerra entre a Ucrânia e a Rússia, Moscovo continua a negar ter a paramédica sobre a sua alçada. Contudo, Anna-Sofia não perde a esperança, confessando que, neste momento, “só lhe quer dar um abraço e perguntar-lhe como está”.
Alguns dos vídeos já foram publicados
A agência AP já começou a partilhar alguns dos vídeos que recebeu de Yuliia nas redes sociais e no seu site, alguns deles extremamente gráficos e violentos. No Twitter, publicou uma compilação de 4 minutos com vários momentos de vídeos diferentes, todos eles ilustrativos do pânico e caos da guerra por Mariupol, onde entrevista também uma amiga da paramédica e junta algum contexto às imagens.