Vários oficiais da UE e dos EUA acreditam que o Vladimir Putin pode ter sido enganado por conselheiros receosos de apresentar ao Presidente a totalidade dos factos sobre o que se sucede em terreno ucraniano e exatamente o quão prejudiciais as sanções do ocidente têm sido (e podem vir a ser) para o país.
A invasão russa ao vizinho ocidental, com início a 24 de fevereiro, tem sido recebida por uma forte resistência que já se provou capaz de defender o seu território. Várias regiões proclamados pelo exército russo foram, inclusive, recuperadas pelos ucranianos, numa guerra que se estende há mais de um mês. A questão que se levanta é: até que ponto está Putin ciente dos eventos da guerra que ele mesmo começou?
Durante uma conferência de imprensa, Kate Bedingfield, diretora da equipa de comunicação da Casa Branca revelou as suspeitas dos serviços secretos norte-americanos: “Acreditamos que Putin está a ser mal informado pelos seus conselheiros sobre o mau desempenho dos militares russos e sobre como a economia russa está a ser prejudicada pelas sanções porque os seus conselheiros séniores têm muito medo de lhe dizer a verdade.”
Bedingfield acrescentou ainda que os serviços secretos estão na posse de informações que indicam que o Presidente russo pode já ter pressentido que nem toda a informação lhe era transmitida, contribuindo para um ambiente de “tensão persistente entre Putin e a sua liderança militar”. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, referiu que a Rússia sofre de “um dos calcanhares de Aquiles das autocracias” que passa por não terem “pessoas nesses sistemas que contam a verdade ao poder ou que têm a capacidade de contar a verdade ao poder”, fomentando um ambiente de mentira.
Esse tipo de ambiente parte, segundo várias autoridades dos EUA, do sistema de medo e receio criado por Putin e implementado mesmo entre os membros do seu círculo mais próximo. Antes da invasão o Presidente russo colocou dois altos funcionários dos serviços secretos do país em prisão domiciliária por fornecerem informações de baixa qualidade, como noticia o The New York Times. Este tipo decisões poderão contribuir para o receio generalizado que leva as autoridades russas a preencherem relatórios incompletos sobre a realidade da guerra na Ucrânia.
A atual situação nos territórios ucraniano e russo são, segundo Bedingfield, indicadores de que “a guerra de Putin foi um erro estratégico que deixou a Rússia mais fraca a longo prazo e cada vez mais isolada no cenário mundial”. O próprio exército russo foi, segundo o testemunho de um alto diplomata europeu, mal informado, com muitos dos recrutas a acreditarem estar apenas a participar em exercícios militares, como explica a Reuters, embora tenham sido forçados a assinar, antes da invasão, um documento que estendia as suas funções.
“Eles foram enganados, mal treinados e depois chegaram [à Ucrânia] para encontrarem velhas ucranianas que pareciam as suas avós a gritar para eles irem para casa”, acrescentou, segundo o mesmo órgão de comunicação, o diplomata. “Putin pensou que as coisas estavam a correr melhor do que estão”.
Os relatórios entregues a Putin são, segundo as autoridades dos EUA, ora incompletos ora excessivamente otimistas mostrando “uma clara quebra no fluxo de informações precisas para o presidente russo”, explica uma autoridade dos EUA que respondeu sob a condição de anonimato ao The New York Times. Há “agora uma tensão persistente” entre Putin e o Ministério da Defesa russo, acrescentou.
Os Estados Unidos têm vindo a desenvolver uma análise dedicada concretamente a perceber se Putin estará, de facto, a receber a totalidade das informações da guerra e, até agora, e ao que tudo indica, os seus principais conselheiros têm falhado em oferecer uma visão transparente da realidade.
Segundo análises externas, a Rússia terá recentemente reformulado os seus objetivos no terreno numa tentativa de recuperar a vantagem, prometendo reduzir a sua presença militar nas cidades de Kiev e Chernihiv, no norte da Ucrânia, um compromisso que não cumpriu com ataques ontem a ambas as cidades.