O artigo está a gerar polémica. José Crespo de Carvalho, um dos co-fundadores da plataforma We Help Ukraine, que visa apoiar os refugiados da Ucrânia, assina um texto de opinião no jornal Observador onde defende que a chegada de 30 mil ucranianos vai “fazer emergir um mindset diferente daquele a que estamos habituados”. E explica: “Trarão “ódio” (que é um combustível, queira-se ou não) e recalcamento que não passará nas próximas gerações, estarão deslocados da sua terra natal, que legitimamente é sua, trarão trabalho porque são gente que se entrega e, peço desculpa, colocarão a faca nos dentes, isto é, ninguém espere que sejam trabalhadores das nove às cinco e que venham reclamar o que por cá reclamamos. Se assim pensarem, estão enganados”.
Neste artigo, o professor do INDEG- ISCTE diz mesmo que “as empresas já perceberam, e bem, que poderá haver uma nova força de trabalho que trabalha mais e reclama menos”. “As crises, e como a palavra diz, não são mais que oportunidades. É certo que é uma desgraça o que está a acontecer. Mas é também certo que a verificar-se esta vinda haverá muitos portugueses que serão preteridos por ucranianos”, concretiza. “Serão engenheiros, serão gestores, serão psicólogos, serão médicos, serão economistas, serão informáticos e serão de todas as profissões fortes e poderão ameaçar o status quo. Não têm forma de exigir muito, mas trabalharão muito. Não têm forma de querer voltar costas ao trabalho, porque apenas lhes resta trabalhar. E virão para trabalhar“, continua.
A conclusão é clara – os portugueses têm de “alterar o seu mindset em relação ao trabalho”: “É trabalharem mais, é aprenderem mais, é estudarem mais, é darem-se mais, é integrarem-se melhor nos seus contextos de trabalho.”
José Crespo de Carvalho foi Diretor Académico da NOVA SBE Executive Education e atualmente é CEO do ISCTE Executive Education. No seu CV, sublinha que é professor de gestão “com mais de 30 anos de experiência em ensino, pesquisa, gestão e consultoria em instituições de ensino superior e empresas”.

WeHelpUkraine.org é uma plataforma para ajudar os refugiados ucranianos a encontrar apoio a nível mundial. A plataforma “funcionará como um ‘Airbnb’ para encontrar — e disponibilizar — um alojamento, medicamentos e ofertas de trabalho”. O projeto arrancou em Portugal no sábado passado e já mobilizou dezenas de pessoas e organizações para disponibilizar e gerir a plataforma, escreve a organização, em comunicado.
O texto causou indignação nas redes sociais, tendo sido partilhado como exemplo do que não deve ser o apoio humanitário. No LinkedIn, José Crespo de Carvalho foi acusado de ter escrito um texto “insensível” e que “passa a ideia de os Ucranianos são uma commodity para ser explorada e não seres humanos a fugir de uma guerra”, Crespo de Carvalho responde: “Sublinho tudo o que disse e não retiro nada. No entanto já cá ando há uns anos e para mim o mercado vai mexer. Se fôssemos para a nossa quota em 7 milhões de refugiados previstos iríamos receber 140.000 pessoas. E como sei que cada cêntimo distribuído tem de ser primeiro criado algures e sei que quem o cria são pessoas a pergunta que deixo, sabendo nós como funciona a cabeça do homem transacional, qual a resposta que tem para isto?”.