Chimére Smith era professora de inglês no início da pandemia. Era – no passado – porque hoje não consegue exercer por causa dos sintomas severos e prolongados que teve de Covid-19. O caso de Smith é particular, mas representa muitos dos que, passados dois anos, não conseguiram superar as sequelas de uma doença que ainda está presente.
Em junho de 2020, Chimére sentia-se pronta para desistir. Tinha chegado, mais uma vez, do hospital onde, depois de lhe fazerem inúmeros testes, os médicos garantiam que a mulher não tinha Covid-19. Mas tinha. Os sintomas estavam lá: no início era só “dor de garganta e diarreia, mas logo se transformaram num inferno: obstipação, os pulmões a queimar, desidratação, dores de estômago, delírio, perda de memória, dores articulares e musculares, insónias, perda de peso e perda de visão no olho esquerdo”, escreve na CNN.
Todos os testes à Covid que Chimére fez deram negativo, e, por isso, os médicos tentavam encontrar uma outra explicação para os problemas que a professora apresentava. “A maioria dos médicos com quem falei desde que fiquei doente – muitos dos quais eram homens brancos – não acreditavam que eu tinha Covid-19, preferindo presumir que eu tinha um problema psicológico. Alguns suspeitavam de uso de drogas ou insistiam que eu estava a ser abusada em casa”, recorda.
Naquela altura, tudo estava a acontecer ao mesmo tempo. A pandemia era uma novidade, e os médicos estavam a aprender tudo o que sabiam sobre a doença em tempo real, sem haver espaço para um pensamento crítico. Mas, conta, “o facto de os meus sintomas terem sido acompanhados por um teste negativo não deveria ter sido motivo para anular a possibilidade de eu ter contraído o vírus da Covid-19”.
Depois de vários exames, os médicos mandaram Chimére de volta para casa. Lutar contra uma causa, sem ter provas, estava a ser desgastante para a professora. “Alimentado pelo desespero, o meu cérebro em chamas começou a criar ideias. Eu tive que salvar a minha própria vida. Escrevi um email detalhado para os coordenadores do hospital em que fui tratada. Partilhei o meu crescente número de sintomas debilitantes e minha experiência de não ser levada a sério. Admiti que, embora nunca tivesse testado positivo para a Covid-19, sabia que tinha”, conta.
A seguir a este email, Chimére escreveu a políticos, jornalistas, neurologistas especializados, sempre alertando para a definição do termo “Covid longa”, que, entretanto, começava a ser explorado. Passado uns dias, teve respostas e ajudas.
“Com a ajuda desses políticos, recebi resposta do hospital, concordando em investigar meu caso. Marcámos reuniões para discutir consultas com especialistas que supervisionariam o meu atendimento. Finalmente, eu estava a ser levada a sério – e estava prestes a obter respostas”, lembra.
Com novos médicos e um novo acompanhamento, Chimére foi diagnosticada com “síndrome pós-Covid aguda”. “As infeções por Covid-19, ao que parece, podem causar respostas inflamatórias em várias partes do corpo, o que levou a muitos dos meus sintomas. Com um diagnóstico, consegui o tratamento adequado, incluindo uma cirurgia à catarata para reparar minha perda de visão, e voltei a ficar apta para trabalhar e benefícios por invalidez”.
Hoje – mesmo com dores, confusão mental, exaustão e problemas oculares persistentes – a antiga professora tem uma nova missão: “Ser uma defensora dos que sofrem de Covid há muito tempo, especialmente os negros. Pude usar minha experiência para defender a comunidade que sofre com Covid longa e outras pessoas que não estão a ser ouvidas em nosso sistema de saúde”, congratula-se.