Quando Roman Abramovich partiu para desempenhar o cargo de governador da região de Chukotka, uma área remota e gelada no extremo oriental do país, na margem do estreito de Bering oposta à do Alasca, ainda decorria o primeiro ano da presidência de Vladimir Putin. O seu destino era um lugar nos confins do mundo, esquecido por Deus, a 6000 quilómetros de Moscovo, onde as árvores raramente cresciam e os ventos uivavam tão violentamente que arremessavam os cães pelo ar para o outro lado da rua. Chukotka fora sempre escassamente povoada, mas os seus habitantes tinham praticamente desertado da região após o colapso soviético. A população tinha caído de 153 000 para 56 000 habitantes quando Abramovich chegou, e os que ficaram lutavam para sobreviver, esmagados pela pobreza e pelo alcoolismo. Tinha ido para lá, disse ele numa rara entrevista, porque estava “farto” de ganhar dinheiro a toda a hora. Apresentou sempre a mudança como uma decisão própria, afirmando que queria conduzir “uma revolução rumo a uma vida civilizada”. Com a promessa de mudar as coisas para melhor, ganhou as eleições de dezembro de 2000 para governador com 92% dos votos.
A população local de Chukotka venerava o chão que Abramovich pisava. O magnata de rosto de barba curta e sorriso tímido tinha crescido órfão, criado pelos avós numa cidade petrolífera, desoladora e inóspita, no norte da Rússia. Mas agora agia como o benfeitor dos residentes da região, enviando uma equipa de executivos para trabalhar na melhoria dos padrões de vida. Construíram-se novos canais de televisão e rádio, uma pista de bowling, uma pista de gelo coberta e aquecida, e uma sala de cinema. Neste processo gastou muitos milhares de milhões dos seus próprios rublos. Era como se estivesse imediatamente a curvar-se num ato de lealdade aos apelos de Putin para que as grandes empresas assumissem mais responsabilidade social, após os excessos da década de 90.