O novo monarca do Reino Unido e da Commonwealth, até então Príncipe de Gales, passou a ser denominado Carlos III, ao suceder ao trono após a morte da sua mãe, Isabel II, esta quinta-feira, 8 de setembro. O herdeiro do trono britânico decidiu manter o seu nome próprio como título oficial, que foi anunciado pela primeira-ministra inglesa, Liz Truss.
Carlos III acabou por seguir o caminho tradicional, contrariamente àquilo que todos pensavam: ter-se tornado, por exemplo, um Jorge VII, em homenagem ao seu avô, Jorge VI, pai de Isabel II e marido da Rainha-mãe, Isabel Bowes-Lyon.
A decisão de manter o nome próprio chega a ser surpreendente, já que os reis Carlos I e Carlos II, que reinaram no século XVII, viveram tempos conturbados na então Grã-Bretanha, ficando conhecidos como antecessores que viveram com muitas dificuldades económicas, político-sociais e pessoais.
Carlos I de Inglaterra, o rei decapitado
Ao contrário do atual monarca britânico, Carlos I não nasceu para herdar o trono. A morte prematura do irmão, o príncipe Henrique, em 1612, explica a sucessão da linha Stuart. O reinado de Carlos I (1625-1649) fica na história do Reino Unido, já que a Guerra Civil foi desencadeada porque o jovem monarca acreditava que tinha o direito divino de liderar o Parlamento, governando de forma absoluta. A decisão não agradou os seus “súbditos”, o que causaria uma revolta na população.
Outro fator que denuncia os tempos conturbados de Carlos I foi o casamento com uma rainha francesa e católica, Henriqueta Maria. Recorde-se que a Grã-Bretanha é conhecida pela sua forte devoção anglicana. “As guerras dividiram profundamente as pessoas na época, e os historiadores ainda discordam sobre as reais causas do conflito, mas é claro que Carlos I não foi um governante bem-sucedido”. A frase, escrita na página oficial dos Windsor, denuncia o carácter autoritário, hipócrita e egoísta do monarca.
A partir de 1642 rompe a Guerra Civil Inglesa (confrontos entre a Monarquia e o Parlamento sobre as definições dos poderes da Monarquia e a autoridade do Parlamento), após vários levantamentos populares pelo país. Inicialmente, as tropas da monarquia saíram vitoriosas, mas depois o exército chefiado por Oliver Cromwell, militar e político, acabou por levar a melhor. Carlos I foi acusado de traição e condenado à morte em 1649. Momentos antes de ser decapitado, em Whitehall, em Londres, o monarca não demonstrou qualquer arrependimento pelas crenças absolutistas que defendia. “Se tivesse cedido a um caminho arbitrário, para que todas as leis fossem alteradas de acordo com o Poder da Espada, não precisava de ter reinado e por isso vos digo… sou um mártir do povo”.
Carlos II, o rei que casou com uma portuguesa
Com a morte do rei Carlos I, decorrente de todo o processo da Guerra Civil, a Inglaterra tornou-se uma República (conhecida como República de Cromwell ou Protetorado). Contudo, as tropas monárquicas, lideradas por Carlos II, filho do anterior monarca, não desistiram, assistindo-se a várias batalhas durante este período político conturbado.
A morte de Oliver Cromwell, em 1658, deu força a Carlos II, que restaurou a Monarquia. Em 1660, o filho do monarca decapitado restaura o trono inglês, afirmando a convicção absolutista moderada.
Apesar de já governar no Reino Unido, os confrontos entre Carlos II e o Parlamento continuaram, com o rei a mostrar a preferência pelo catolicismo e pelo absolutismo. O Parlamento acaba por ser dissolvido em 1681. O monarca reina durante mais quatro anos – até à sua morte, em 1685 – sem a assembleia política.
Contudo, a passagem de Carlos II pelo trono britânico (1660-1685) fica marcada não só pela instabilidade política, mas também pela sua vida íntima muito agitada. Conhecido por ter tido muitas amantes (com as quais teve mais de dez filhos ilegítimos), o rei acaba por casar com uma portuguesa, D. Catarina de Bragança, filha do rei português D. João IV.
Carlos II e Catarina de Bragança casaram duas vezes: a primeira em segredo, numa cerimónia católica, e a segunda vez pela Igreja Anglicana. No entanto, o problema assentou na descendência: o casamento não resultou em filhos legítimos, o que preocupou o Governo em relação à linha de sucessão. Com a morte do rei e sem filhos para ocupar o trono britânico, Catarina foi devolvida a Portugal e o seu irmão, Jaime II, ascende ao poder até 1688, ano em que foi devolvida a soberania do Parlamento no Reino Unido.
400 anos depois, voltamos a ver um novo monarca com o mesmo nome dos seus antecessores do século XVII. Aos 73 anos, Carlos III é o monarca mais velho da história do Reino Unido a iniciar um reinado, apesar de nos últimos tempos já ter vindo a assumir funções da então rainha Isabel II.