No Brasil, as telenovelas são documentos históricos. Como espelhos encontrados em sítios arqueológicos, elas refletem a época em que foram produzidas. Nesse sentido, ganha destaque a obra Roda de Fogo, a primeira novela produzida pela Globo, depois do fim da ditadura militar, em 1985 – exibida atualmente por streaming, no país. Na trama, o empresário de mau caráter, interpretado por Tarcísio Meira, descobre que tem uma doença fatal. No entanto, ao apaixonar-se por uma juíza, interpretada por Bruna Lombardi, ele arrepende-se dos seus crimes e decide redimir-se antes de partir.
O poeta Décio Pignatari, num artigo que escreveu, nessa época, para o jornal Folha de S. Paulo, explicou como ninguém o que estava em causa: “Vagamente, consegui perceber que estamos assistindo à telenovela simbólica da morte da ‘Velha República’ e da parturição [nascimento ou parto natural] da ‘Nova’.” Falecido em 2012, o poeta ficaria surpreendido ao descobrir que a obra que assinala o fim do período militar na década de 1980 permanece assustadoramente atual no Brasil de 2022.