Na sexta-feira, 01 de julho, assinala-se o 25.º aniversário da passagem da soberania da antiga colónia britânica para Pequim e Xi Jinping irá à região administrativa especial chinesa para marcar a data.
“Penso que é justo dizer que durante 10 anos após 1997, talvez um pouco mais, as coisas não correram muito mal. Mas deterioraram-se porque Xi Jinping e colegas têm medo do que Hong Kong representa”, disse recentemente o antigo governador num encontro com jornalistas para promover a sua obra “Diários de Hong Kong”.
O livro é um registo das suas vivências no posto que assumiu em 1992 e que manteve durante cinco anos, incluindo encontros com políticos e dirigentes portugueses da região vizinha Macau, mas traça igualmente a história de Hong Kong e faz uma reflexão da presença britânica e do que aconteceu a seguir.
A antiga colónia foi ocupada durante a Guerra do Ópio, em meados do século XIX, mas em 1984 a transferência para a soberania britânica foi decidida pela Declaração Sino-Britânica para ser efetuada três anos depois.
Patten foi enviado em 1992 com a incumbência de liderar a transição e garantir que ficasse em vigor um sistema democrático e relativamente autónomo.
O antigo deputado conservador é o primeiro a admitir na obra que persistia na colónia ressentimento devido a resquícios de racismo colonialista, afirmando: “Nenhum de nós que partiu em 1997 fingiria que Hong Kong era perfeita”.
Mesmo assim, quando o Reino Unido deixou Hong Kong, defende, existia uma economia de mercado próspera e socialmente responsável, com um sistema de apoio social, serviços de saúde e educação.
Enquanto Jiang Zemin e Hu Jintao lideraram a China, “Hong Kong permaneceu identificável como era antes de 1997”, acrescenta Chris Patten, mantendo o Estado de direito, a justiça independente e uma polícia respeitadora dos direitos humanos, que permitia a liberdade de reunião, protestos e imprensa sem censura.
“Hong Kong parecia ter sobrevivido razoavelmente bem, embora com alguns golpes e contusões: uma extraordinária mistura de atitudes chinesas e ocidentais, um grande centro comercial e cultural internacional atuando como o principal canal para investimentos dentro e fora da China, e uma parte da China com personalidade própria”, descreve no livro.
Porém, após uma década, refere, gradualmente Pequim começou a interferir na economia, na educação e na legislação, apesar da promessa de manter durante pelo menos 50 anos um elevado grau de autonomia que ficou conhecido por “um país, dois sistemas”.
Nos últimos anos, lamenta o antigo governador, assistiu-se à “destruição de uma das sociedades mais livres da Ásia pela tirania comunista com a cumplicidade de alguns líderes locais e contra a vontade manifesta da maioria do público”.
Desde os protestos pró-democracia em 2019 e 2020, dezenas de ativistas de Hong Kong acusados de violação da lei de segurança nacional foram detidos por alegada “subversão”, arriscando alguns a prisão perpétua.
Entre aqueles estão antigos deputados da Assembleia Legislativa, advogados, trabalhadores e jovens ativistas, sindicalistas e jornalistas.
Entretanto, milhares de residentes de Hong Kong com passaporte britânico aproveitaram o regime especial de imigração para se mudar para o Reino Unido.
Durante os cinco anos em funções, entre 1992 e 1997, Patten desenvolveu uma relação afetuosa com a província, para a qual levou a família, incluindo a esposa Lavender, que “abdicou de uma carreira bem-sucedida como advogada”, conta.
Por isso confessa sentir uma “profunda tristeza com o que está a acontecer” e revela o dilema que tem muitas vezes quando estudantes da Universidade de Oxford, onde é reitor, lhe pedem conselhos sobre se devem voltar ou ficar no Reino Unido.
“Parte o coração ver o que está a acontecer àquelas pessoas que se identificavam como chineses de Hong Kong, mas não têm orgulho do facto de Hong Kong ter revertido para a soberania chinesa, o território ocupado”, relata.
Ainda assim, afirma que “Hong Kong é uma grande cidade” e que espera que “volte a ser uma grande cidade”.
BM // SCA