Polícia de Uvalde não foi informada das chamadas que estavam a ser estabelecidas entre as vítimas que se encontravam no interior da escola primária Robb e os serviços de urgência durante o massacre de Uvalde a 24 de maio, avança Rolando Gutierrez, senador estadual do Texas. De acordo com informações partilhadas pela Associated Press, Gutierrez terá admitido que o sucedido se tratou de uma “falha no sistema”.
Segundo o senador, o chefe da polícia local de Uvalde, Pete Arredondo, que se encontrava do lado de fora a escola, desconhecia que estavam a ser efetuadas chamadas do interior do estabelecimento. A mais recente informação vem juntar-se a uma narrativa que ainda não está claramente reconstruída deixando dúvidas do seguimento dos eventos.
Os relatos das autoridades de Uvalde são, inclusive, e muitas vezes, opostos. Inicialmente, o departamento de polícia afirmou que o atirador entrou na escola por uma porta que uma professora teria deixado aberta. Na última terça-feira, o advogado da dita professora terá contrariado as informações iniciais ao afirmar que a mesma terá fechado a porta e que tal é visível nas imagens da câmara de segurança que existe no local.
A polícia de Uvalde já reconheceu que alguns erros terão sido cometidos no terreno, nomeadamente o facto de não ter sido efetuada uma entrada imediata na escola. A opção de aguardar foi feita exatamente por não existir a certeza de que estaria, de facto, a ocorrer no interior da escola um tiroteio. As chamadas das vítimas seriam, caso a polícia tivesse recebido as informações transmitidas ao 911, uma confirmação do que se estaria a suceder no interior da escola. Entre a primeira chamada feita para a polícia local e a entrada dos agentes no na primária Robb decorreram 80 minutos.
O diretor executivo da National Tactical Officers Association (NTOA), Thor Eells, não deixou de reforçar que a demora da polícia em avançar, mesmo na incerteza de não saber se o atirador estaria ainda ativo, constiuíam “100% falhas”. “Se estás numa sala de aula com vítimas inocentes, e sabes que tiros foram disparados, é preciso enfrentá-lo”, disse, de acordo com a CNN, Eells. “Mesmo que parasse de atirar, eu vou entrar na sala para que possamos começar a administrar ajuda para salvar a vida de qualquer potencial vítima”, acrescenta.
Embora se tenha negado a atribuir a totalidade da culpa a uma única pessoa ou entidade pelos erros cometidos no dia do massacre, Gutierrez não deixou de referir o nome de Greg Abbot, governador republicano do Texas, atribuindo-lhe grande parte da responsabilidade. “Houve erros em todos os níveis, incluindo o legislativo. Greg Abbott tem muita culpa em tudo isto”, afirmou.
O senador partilhou ainda que, embora Arredondo desconhecesse das chamadas, “elas estavam a ser comunicados a um polícia de Uvalde”, mas admitiu não ter ainda mais informações sobre a sua identidade. “A polícia de Uvalde foi quem recebeu as ligações para o 911 durante 45 minutos enquanto os polícias estavam sentados num corredor, enquanto 19 polícias estavam sentados num corredor durante 45 minutos”, afirmou o Senador. “Não sabemos se estava a ser comunicado a essas pessoas ou não.”
O Senador já partilhou, no entanto, que quer perceber tudo o que se terá sucedido no dia 24 de maio. “Eu quero saber onde os polícias estavam naquela sala. Eu quero saber quantos dos meus polícias estavam lá, quantos polícias estaduais estavam lá. Eu quero saber quantos polícias estaduais estavam do lado de fora. Eu quero saber quantos agentes estiveram lá dentro durante 19 minutos, quero dizer, 45 minutos”, disse em conferência de imprensa. “Quero saber especificamente quem estava a receber as chamadas para o 911”, acrescentou ainda.
Qual o próximo passo da investigação?
A investigação do massacre continuará, de momento, a encargo da divisão Texas Ranger responsável pela aplicação da lei no estado do Texas. Uma vez concluída a investigação, será redigido um relatório que será depois analisado por uma entidade exterior à divisão, a promotora do condado de Uvalde, Christina Busbee. “Os Rangers vão completar a sua investigação. Vou analisá-la e então veremos se há alguma acusação criminal que precisa de ser feita”, explicou, segundo a CNN, Busbee.
Por sua vez, o Departamento de Justiça dos EUA irá ocupar-se de rever os acontecimentos sucedidos nesse dia e o modo como foi aplicada a lei, numa tentativa de “fornecer um relato independente das ações e respostas da aplicação da lei naquele dia e identificar as lições aprendidas e as melhores práticas para ajudar os socorristas a prepararem-se e responderem a eventos de atiradores ativos”, explicou, de acordo com o mesmo órgão de comunicação, um porta-voz do Departamento de Justiça.
O tiroteio de Uvalde na escola primária Robb ocorreu no dia 24 de maio e foi responsável pela morte de 21 pessoas, incluindo 19 crianças, sendo considerado, inclusive, o tiroteio escolar mais mortal desde o massacre de 2012 em Newtown, Connecticut, que terá sido responsável pela morte de 26 pessoas.
No início da semana, Abbott ordenou que o estado realizasse auditorias de segurança do distrito escolar e pediu aos principais legisladores que convocassem um comitê legislativo para fazer recomendações sobre a segurança escolar, armas de fogo, saúde mental, entre outros tópicos. Na quinta-feira, o governador também pediu estimativas de preço das novas medidas de segurança escolar que incluem o desenvolvimento de “estratégias para incentivar os distritos escolares a aumentar a presença de polícias treinados e delegados de escola em campo”.