A Rodes o que é de Rodes. A ilha grega do mar Egeu vai voltar a exibir um anel de ouro, do tempo da Grécia Antiga, que ali tinha sido roubado de um museu durante a Segunda Guerra Mundial. A peça terá pertencido a um nobre do Século I A.C. e foi descoberta por arqueólogos italianos, há quase cem anos (1927), em escavações na localidade de Ialysos, na ilha situada junto à costa da Turquia. Agora, depois de cruzar o Atlântico nas duas direções, regressa a casa para voltar a ser exposto num museu de Rodes, anunciou o Ministério da Cultura e Desporto da Grécia, citado pela agência Associated Press.
O anel de ouro tem desenhadas duas esfinges, a criatura da mitologia grega que mistura cabeça de humano, corpo de leão e asas de falcão. Foi roubado em Rodes, juntamente com outras centenas de peças que continuam desaparecidas, no período que atravessou o segundo conflito mundial, durante o qual a ilha foi território italiano até 1943 (já o era desde 1912), depois ocupada por alemães e, por fim, dominada por britânicos, até ser finalmente devolvida à Grécia em 1947.
Só anos mais tarde, algures entre a década de 1950 e 1960, o anel ressurgiu nas mãos de Georg von Békésy, um biofísico húngaro laureado com o Prémio Nobel da Medicina em 1961, em virtude de estudos relacionados com o ouvido. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Békésy estudou na Suécia e, depois, emigrou para os Estados Unidos da América, tendo sido investigador na Universidade de Harvard, no estado de Massachusetts, antes de se mudar para o Havai, onde viria a morrer, em 1972, com 73 anos.
Quando comprou o anel, o cientista húngaro já vivia do outro lado do Atlântico, mas, com a sua morte, a jóia regressou à Europa, uma vez que, no testamento, Békésy deixou-a à Fundação Nobel, que gere a entrega dos famosos prémios. Desde então, o anel passou por vários museus, até pousar no Museu de Antiguidades do Mediterrâneo e do Próximo Oriente, em Estocolmo, capital da Suécia.
Entretanto, passaram 50 anos sempre na posse da Fundação Nobel, até que esta sexta-feira, 20 de maio de 2022, a instituição decidiu entregar o anel à Grécia, numa cerimónia em Estocolmo. Vidar Helgesen, diretor-executivo da fundação, garantiu que não existiam dúvidas de que a peça teria de voltar ao local original. “Para nós era óbvio que o anel tinha de ser devolvido. É um artefacto com grande valor histórico e cultural para a Grécia”, declarou o responsável, recebendo palavras da agradecimento da ministra grega da Cultura e Desporto, Lina Mendoni.
Sobra apenas um mistério, que talvez nenhuma das partes queira desvendar, para evitar qualquer possível embaraço. Desde 1975 que os suecos conheciam a origem do anel e, logo nessa altura, contactaram as autoridades gregas. No entanto, segundo o governo atual da Grécia, o secular objeto “permaneceu em Estocolmo por razões que não são claras com base nos arquivos existentes”. Agora, está de volta a Rodes.