Se acha que já provou o melhor chocolate do mundo, talvez esteja enganado. O chocolate Gianduiotto, ancestral da famosa Nutella e considerado o rei do chocolate italiano, surgiu em Turim, na conhecida “capital do chocolate”. Feito de uma pasta composta por cacau da mais elevada qualidade misturado com avelãs de topo, que crescem na região de Langhe, no Piemonte, o Gianduiotto é muito popular pelo seu sabor único e pela sua história.
Normalmente produzido pelos chocolateiros locais, a iguaria é requintadamente embrulhada num papel prateado, dourado ou colorido. Acredita-se que o nome Gianduiotto tenha surgido por causa da figura carnavalesca Gianduja, um alegre camponês amante de vinho, popular no século XIX. Os habitantes provaram o chocolate pela primeira vez, numa festa de Carnaval em 1856, em Turim, onde um ator vestido como Gianduja andava a distribuí-los.

A ideia inicial da criação deste chocolate era superar a escassez de cacau na Europa continental. Quando Napoleão Bonaparte conquistou o norte da Itália e declarou guerra contra a Grã-Bretanha, baniu todos os produtos importados de Inglaterra, incluindo o cacau. Como solução, os pasteleiros de Turim decidiram usar as avelãs que cresciam em abundância no local e misturá-las com açúcar e com o pouquíssimo cacau que ainda tinham em reserva. O que resultou no atual Gianduiotto, séculos depois foi a inspiração de Pietro Ferrero, um confeiteiro do Piemonte, para criar a Nutella.
Segundo Guido Castagna, um conceituado chocolateiro artesanal, a iguaria não é apenas um doce emblemático: é um símbolo, uma identidade de Turim e de Itália. “Gianduiotto nasceu como um substituto de segunda classe para o cacau”, disse Castagna à CNN. “Tinha origens humildes, mas depois tornou-se um produto de nicho de elite da mais alta qualidade, o primeiro a ser embrulhado [em papel alumínio] na história do chocolate.”

Na altura, fazer Gianduiotti era uma espécie de ritual: a massa era primeiro batida repetidamente para ganhar consistência e depois amassada como se fosse farinha de pizza. Depois de feita a massa, as mulheres enrolavam-na várias vezes com espátulas longas e cortavam pequenos pedaços do chocolate.
Na atualidade “são o ouro do Piemonte”
Ao contrário do que acontecia em 1800, quando as avelãs eram um produto produzido em excesso, hoje as tonda gentile de Langhe têm o estatuto de Indicação Geográfica Protegida, uma designação europeia destinada a proteger os alimentos regionais. “São o ouro do Piemonte, absolutamente o melhor do mundo”, alogia Guido Castagna. Para se ter uma noção, as avelãs custam 16 euros por quilo enquanto que o quilo de cacau, da melhor qualidade, custa 10 euros. “O Gianduiotto agora é um tipo específico de chocolate ao lado de chocolate escuro, branco e de leite”, reafirma Castagna.
Só resta uma loja que efetivamente segue a receita original: a boutique A.Giordano, fundada em 1897. “Somos os únicos que ainda fazem Gianduiotti à mão. É muito caro empregar mão de obra tão qualificada”, explica a proprietária Laura Faletti. “É um trabalho que só as mulheres podem fazer, pois requer muita paixão, paciência e precisão. Um pouco como costurar à mão. Pode ser um trabalho bastante cansativo, eu preciso de fazer turnos, caso contrário as mãos das mulheres ficam com muitas cãibras”, relata.

Gianduiera Ambra Nobili, de 32 anos, faz o Gianduiotti de A. Giordano desde que se formou numa escola de confeitaria local. “É um chocolate de prestígio, sempre adorei”, enaltece a jovem. “Eu fico feliz quando, depois de um dia de trabalho duro, cortando e moldando 48 quilos de Gianduiotti com outra funcionária, finalmente vejo como elas são perfeitas e bonitas e como estou a melhorar constantemente”, sorri.
“O segredo do ofício está no movimento firme e rápido dos pulsos e das mãos. Se o corte não for perfeito, o Gianduiotto ficará muito alto, ou muito curto, e não caberá no alumínio dourado, que é feito sob medida para um tamanho específico”, explica.