O cronómetro é ligado e faz-se silêncio no estúdio moscovita: 106 segundos, Berlim. 200 segundos, Paris; 202 segundos, Londres. “Estes mísseis não podem ser intercetados. Deveríamos mostrar-lhes estas imagens. Para refletirem. É assim que temos de falar com eles. Não compreendem de outra maneira”, afirma Aleksey Zhuravlyov, deputado e convidado especial do programa 60 Minutos, do Canal 1 da televisão russa. Os moderadores do debate, realizado a 28 de abril, ficam incomodados. O líder do Partido Rodina, ultranacionalista e sempre alinhado com o Kremlin, é então confrontado com uma questão óbvia: “Ao propor este ataque, não lhe parece que há uma forte possibilidade de ninguém sobreviver?” Resposta: “Voltamos a partir do zero.”
Aleksey Zhuravlyov não é conhecido pela sensatez ou inteligência argumentativa, mas parece ter conhecimento de uma das mais famosas citações atribuídas a Albert Einstein: “Não sei que armas haverá na terceira guerra mundial, mas a quarta será feita com pedras e paus.” Três dias depois, do outro lado do mundo, em Washington D.C., um congressista dos EUA, Adam Kinzinger, informava os seus concidadãos de uma medida legislativa por si apadrinhada: “Apresentei uma Autorização para o Uso da Força [AUMF, nas siglas em inglês] que, basicamente, concede ao Presidente [dos EUA] a prerrogativa de dispor de todos os meios se, na Ucrânia, forem usadas armas de destruição em massa, nucleares, biológicas ou químicas.” De acordo com o republicano, entrevistado no Face the Nation, da CBS, o Congresso vai apoiar “incondicionalmente” Joe Biden para “conter Vladimir Putin”. Quase em simultâneo, num outro show dominical – This Week, da ABC –, o também congressista republicano Michael McCaul, membro do comité de Negócios Estrangeiros da Câmara de Representantes, anuncia que o seu partido irá votar favoravelmente o pacote de 33 mil milhões de dólares de ajuda à Ucrânia, apresentado na última semana pela Casa Branca.