Elon Musk assume-se um “absolutista da liberdade de expressão”, e, após comprar a rede social Twitter por 44 mil milhões de euros – aproximadamente 20% do PIB português –, tudo indica que irá passar das palavras à ação.
Musk é um crítico veemente da política de moderação de conteúdos implementada pelo Twitter, que passa por remover algumas publicações que a rede social considere falsas sobre, por exemplo, a eleição norte-americana de 2020 ou a Covid-19, e até expulsar utilizadores que constantemente partilhem desinformação – como aconteceu com o ex-presidente dos EUA, Donald Trump.
No comunicado que partilhou após o negócio ter sido anunciado, Musk deu algumas pistas sobre o rumo que pretende tomar com a sua mais recente aquisição: “A liberdade de expressão é a base de uma democracia, e o Twitter é um espaço público digital onde são debatidos assuntos vitais para o futuro da humanidade”, disse o empreendedor. Para além disso, pretende também “tornar o Twitter melhor do que nunca, aprimorando o produto com novos recursos, tornando os algoritmos de código aberto para aumentar a confiança, derrotando os bots de spam e autenticando todos os humanos”.
A compra da rede social, aliada às subsequentes indicações que Musk irá defender abertamente a liberdade de expressão na plataforma digital, foi extremamente bem recebida pelos conservadores norte-americanos, que se multiplicaram em tweets sobre tópicos tradicionalmente sensíveis de forma a testar os limites da regulação do “novo” Twitter.
O caso de Michael Knowles, um apresentador de podcast conservador com 650 mil seguidores no Twitter, é particularmente ilustrativo. Na passada segunda-feira, dia 25, Knowles aproveitou a nova vaga de tolerância para emitir, de seguida, quatro opiniões controversas: “Ser transgénero não é uma categoria real de ser”; “As eleições presidenciais de 2020 foram obviamente maravilhosa”; “As autoridades de saúde pública mentiram repetidamente sobre o Covid-19”; “Ivermectin é uma droga milagrosa”, referindo-se a um suposto tratamento para a Covid-19 rejeitado pelas autoridades de saúde competentes.
Já Marjorie Taylor Greene, membro do Partido Republicano na Câmara dos Representantes, e uma das políticas mais à direita entre os representantes públicos dos EUA, aproveitou prontamente para reclamar a restituição das contas de Twitter de Donald Trump e de outras personalidades mediáticas do movimento conservador, como Alex Jones, Robert Malone ou Milo Yiannopoulos. Musk já demonstrou também algumas dúvidas em relação à eficácia das expulsões definitivas de utilizadores, mostrando-se mais recetivo a proibições temporárias. Nesse sentido, Greene termina o seu tweet apelando implicitamente ao novo dono da plataforma para “trazer de volta” a “nação cancelada”, a “liberdade de expressão” e, finalmente, a “América”.
Por sua vez, a esquerda dos EUA mostra-se apreensiva em relação às potenciais alterações que Musk queira impor na arquitetura de regulação do Twitter. Ron Wyden, Senador do Partido Democrata pelo estado do Oregon advertiu que a “proteção da privacidade dos americanos devia ser um requisito para qualquer venda” e Elizabeth Warren, Senadora do Estado de Massachusetts, referiu que “o negócio é perigoso para a nossa democracia” e que os “bilionários jogam com regras diferentes dos outros”, salientando, por isso, a necessidade de introduzir um “imposto à riqueza” e um grupo de regras robustas em torno das grandes empresas tecnológicas.
A reação mais incisiva chegou pela voz de David Cicilline, membro da Câmara dos Representantes, que publicou um tweet onde diz que “algo está profundamente errado neste país quando uma pessoa pode comprar uma empresa por 44 mil milhões só porque lhe apetece, enquanto outras precisam de saltar refeições para manter os seus filhos alimentados”.