“A ilha (de Moçambique) está muito destruída”, são as únicas palavras do coordenador nacional da ONG Helpo em Moçambique, Carlos Almeida, até agora. Os relatórios oficiais revelam que mais de 300 mil famílias estarão sem acesso a energia elétrica, e que o número de mortos já terá superado a dezena, depois da passagem do ciclone Gombe, o pior desta época, segundo dados da ONU.
A ponte que liga a Ilha de Moçambique a Nampula continua transitável apesar de ter sido relatada a queda de alguns postes, mas várias estruturas foram comprometidas, nomeadamente a da escola primária, segundo ilhéus em declarações à Carta de Moçambique.
“Quando o ciclone atingiu terra no epicentro localizado entre os distritos de Mogincual, Liupo, Ilha de Moçambique, Angoche e Mossuril, deixou um rasto de devastação”, diz ainda a ONG Oikos, que adianta ter sofrido várias perdas materiais e estar a trabalhar para ajudar as famílias mais atingidas.
Os avisos começaram a fazer-se ouvir a meio da semana passada, quando as previsões davam conta de que um ciclone estava a passar Madagáscar a caminho do norte de Moçambique. O Gombe tocou o norte do país na madrugada de sexta-feira, numa estranha coincidência daquilo que aconteceu há três anos, em 2019, quando o ciclone Idai atingiu o centro de Moçambique numa madrugada de sexta-feira (15 de março), depois de vários dias de aviso.
A região norte daquele país ainda está a tentar recuperar-se do rasto de destruição deixado pelo ciclone Kenneth – que atingiu o norte de Moçambique em abril de 2019 – e pela onda de violência que desde 2017 não dá descanso às populações, quando o Gombe vem atrasar, mais umas vezes, a tentativa de recuperação dos habitantes.
Recorde-se que o conflito armado já provocou mais de 700 mil deslocados internos e que as alterações climáticas têm sido impiedosas para um país que se debate com tempestades cada vez mais violentas e menos espaçadas no tempo. Apesar de, ali, a população ter um impacto mínimo no desequilíbrio ambiental, a verdade é que são das mais afetadas pelos desastres ambientais.
O corte de energia provocado pelos ventos de mais de 185km/h e as chuvas torrenciais, em cerca de 20 distritos, têm dificultado o acesso à informação no terreno, confirma a imprensa moçambicana. No entanto, é expectável que haja números oficiais em breve, uma vez que as autoridades remeteram para tão cedo quanto possível uma comunicação sobre o real impacto da passagem do Gombe no norte do país.