Aspetos, em que o ex-deputado socialista, que chegou a integrar o governo de António Guterres, considera que podem explicar uma reaproximação do país a Portugal e à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e que vão muito para além do acordo Mercosul/União Europeia, ainda sem ratificação.
Num mundo cada vez mais competitivo, “quem tem vantagens são aqueles que têm relações mais diversificadas, capacidade de jogar em vários tabuleiros, de estar em vários cenários, de ter influência em vários domínios”, começou por referir Vitalino Canas em declarações à Lusa, a propósito do Ciclo de debates que a FIBE, a entidade que dirige, vai iniciar na próxima terça-feira, no âmbito do bicentenário da independência do Brasil.
Mas, “o Brasil, sendo o país que é, com a dimensão e as potencialidades que tem, explora pouco essas potencialidades e tem funcionado muito como um grande país, que se vale a si próprio e não necessita de mais nada do que de si próprio.”
Além disso, o Brasil tem de fazer também “um combate ao nível da imagem e da comunicação” para não perder consumidores e afirmar-se em instituições como as Nações Unidas, onde quer ser membro do Conselho de Segurança, sob pena de se não o fizer ser penalizado.
“Tem de tentar evitar, que a sua imagem, que ainda é positiva ao nível global, possa vir a ser beliscada, danificada por haver informação e debates, sobre determinados temas, em que o Brasil não está presente, para apresentar a sua própria posição de uma forma objetiva”, afirmou.
Para Vitalino Canas, agora os políticos brasileiros estão cada vez mais cientes de que é preciso criar condições para o país continuar a beneficiar da boa imagem em geral que tem, e para se tornar numa economia mais exportadora.
O Brasil, recordou, dentro das 15 economias maiores do mundo “é aquela que tem um mercado externo mais frágil, portanto necessita de intensificar aí a sua capacidade de exportar”.
Neste contexto, “a CPLP é um instrumento possível da diversificação” das relações externas, acrescentou.
Da mesma forma, na sua opinião, a aproximação mais recente a Portugal “não tem a ver apenas com o Mercosul”.
“Não é só isso que está em causa, está em causa a própria capacidade do Brasil se projetar na Europa com uma imagem positiva”, afirmou, acrescentando que isto justifica que tantos políticos brasileiros, quer do governo brasileiro, quer da liderança do Congresso e da Câmara dos Deputados, tenham estado recentemente em Portugal, ou mais concretamente na segunda metade de 2021.
Neste cenário, as comemorações do bicentenário do Brasil, que se celebra este ano, serão aproveitadas como “um pretexto para vários exercícios”.
Haverá “um balanço do que é o país, do que se transformou em 200 anos” e depois “um olhar para as raízes históricas, de onde o país vem”. E “Portugal, naturalmente, tem um papel importante e a Europa, mais generalizadamente considerada”, referiu. Neste contexto, das relações entre o Brasil e a Europa pode-se considerar que estas devem ser “bastante aprofundadas”, acrescentou.
No primeiro do ciclo de debates da FIBE, que se realiza terça-feira, serão discutidos assuntos como o que motivou a abertura dos portos em 1808, o futuro acordo para comércio externo entre Mercosul e União Europeia e as oportunidades que se abrem ao Brasil na realocação da produção mundial na era pós-pandemia.
O FIBE é uma associação fundada em setembro de 2021, com sede em Lisboa, que já conta com 200 associados brasileiros e portugueses, e que nasce com a missão de promover a integração cultural, económica e social entre o Brasil e a Europa, com foco especial em Portugal e demais países da comunidade de países de língua portuguesa.
ATR // PJA