Foi há precisamente um ano, a 6 de janeiro de 2021, que os EUA e o mundo receberam imagens que dificilmente serão esquecidas. Cerca de 2 mil apoiantes de Donald Trump, que acabava de perder as eleições presidenciais para Joe Biden, invadiram o Capitólio na tentativa de impedirem a validação das votações.
Nesse ataque sem medidas que durou mais de sete horas, e que foi impulsionado pelo próprio Trump, morreram cinco pessoas, quatro delas manifestantes, e 140 polícias ficaram feridos. No Congresso dos EUA, criou-se uma comissão especialmente designada para investigar o que aconteceu durante a invasão, tendo sido instaurados mais de 700 processos e condenadas mais de 50 pessoas. Ainda estão por identificar mais de 300 manifestantes.
Mas o que aconteceu às caras mais preeminentes desse dia, as que foram mais fotografadas ou tiveram um destaque maior durante o ataque ao maior símbolo da democracia dos EUA? Jacob Chansley, de 34 anos, foi um dos símbolos da invasão: em tronco nu, com chifres de búfalo e a cara pintada com as cores da bandeira norte-americana, estava na fila da frente com um megafone. Várias vezes aquele que ficou conhecido por “QAnon Shaman” dirigiu-se ao então vice-presidente Mike Pence como traidor. Chansley foi condenado, a 17 de novembro, a 41 meses de prisão. No tribunal, referiu acreditar que a invasão ao Capitólio foi uma atitude “errada” e que espera “evoluir” no futuro.
Robert Scott Palmer, um dos manifestantes que agrediu polícias durante o ataque ao Capitólio, foi condenado no fim do último mês a cinco anos e três meses de prisão, a pena mais pesada registada até agora em sentenças sobre o incidente de 6 de janeiro. “Estou envergonhado por ter feito parte disto, muito, muito envergonhado”, referiu Palmer, natural da Florida, em declarações no tribunal federal do Distrito de Columbia. A defesa de Robert Palmer, detido em março e que se declarou culpado da acusação de agressão às forças policiais, tinha pedido uma pena inferior a dois anos de prisão, que foi rejeitada pela juíza Tanya Chutkan.
Já Adam Johnson foi o protagonista de uma das fotografias mais partilhadas da invasão. O homem de 36 anos foi apanhado num dos átrios do Capitólio com um gorro pró-Trump a carregar o púlpito de Nancy Pelosi, líder democrata da Câmara de Representantes, posando em frente a uma pintura que retrata a rendição do general britânico John Burgoyne na Guerra Revolucionária Americana.
Johnson, apelidado de “podium guy” (o rapaz do pódio, em português), foi detido pelas autoridades norte-americanas dois dias após os incidentes e acusado de invasão, conduta desordeira e roubo de propriedade do governo. Já em novembro, confessou-se culpado e pode ser condenado seis meses de prisão e ao pagamento de multas de mais de 9 mil dólares, mais de 8 mil euros. Adam Johnson, que pretende escrever um livro, também concordou que durante cinco anos os lucros da publicação serão entregues ao governo dos EUA.
Richard Barnett foi outra das caras mais simbólicas do ataque ao Capitólio, tendo sido fotografado sentado na secretária de Nancy Pelosi, dentro do seu escritório, enquanto pegava num bandeira norte-americana. Barnett, de 61 anos, e outros invasores, deixaram várias notas na secretária de Pelosi, sendo que, dois dias depois, o homem foi detido pelo FBI na sua casa em Gravette, Arkansas. A enfrentar várias acusações, Richard Barnett, que se declarou inocente, está atualmente detido numa prisão em Washington DC, a aguardar jugalmento, com uma audiência marcada para 1 de fevereiro.
Aaron Mostofsky tem 34 anos, é filho de um juiz do Brooklyn e foi apanhado pelas câmaras coberto de peles de animais, como um verdadeiro homem das cavernas, e a segurar um escudo de um oficial do Capitólio. Foi detido em Nova Iorque seis dias depois do ataque e acusado de vários crimes, incluindo a entrada ilegal em zona restrita, conduta desordeira e roubo de propriedade do governo. O julgamento está marcado para 24 de janeiro.
Kevin e Hunter Seefried, pai e filho, respetivamente, dirigiram-se juntos para o Capitólio com uma grande bandeira da confederação dos EUA nas mãos de Kevin – utilizada pelos Estados do sul do país durante a Guerra Civil e associada por muitos a ódio racial – partindo uma janela para conseguirem entrar. Os dois foram detidos uma semana após os incidentes e enfrentam acusações por entrarem ilegalmente num edifício público restrito e provocarem desordem, além de serem acusados de destruição de propriedade do governo. Aguardam em liberdade o julgamento.
Eric Gavelek Munchel entrou no capitólio com um uniforme de combate, algemas de plástico, uma pistola paralisante na cintura e um telemóvel montado no peito com a câmara virada para fora, com o objetivo de registar os eventos desse dia. Em algumas imagens, o homem de 30 anos é visto a saltar entre as cadeiras do Senado, noutras está ao lado de uma mulher mais velha, identificada mais tarde como sua mãe, Lisa Marie Eisenhart. Foi detido alguns dias após o ataque e libertado em março seguinte enquanto aguarda julgamento por 11 acusações.
Christopher Worrell, membro do grupo de extrema-direita Proud Boys, foi acusado de atacar a polícia com spray de gás pimenta, sendo que está neste momento em prisão domiciliária, com algumas exceções como ir trabalhar. É obrigado a utilizar uma pulseira eletrónica e é detido caso viole uma das condições.
Grupos extremistas adaptaram-se e cresceram após o ataque, conclui novo estudo
Um novo estudo realizado pelo Atlantic Council’s Digital Forensic Research Lab concluiu que, um ano depois do ataque ao Capitólio, grupos extremistas dos EUA continuaram a metastizar-se e a recrutar, apesar de alguns terem sido tomados pela paranóia enquanto as autoridades norte-americanas identificaram e detiveram os invasores, afirma também a investigação, conduzida por Jared Holt.
De acordo com o relatório, citado pelo The Guardian, alguns destes grupos extremistas “fizeram um progresso preocupante ao mudarem para plataformas online alternativas”, arranjando estratégias para se envolverem em “novas atividades políticas, particularmente questões de saúde pública e educação ao nível local”.
Com o controlo das grandes empresas de redes sociais em relação a estes grupos, excluindo-os das principais plataformas, a atuação começou a ser principalmente em sites menores e, por isso, menos controlados, ou seja, estes grupos começaram a atuar de forma mais dispersa. “Apesar de a maioria das ferramentas online adotadas por extremistas fazerem com que alcancem públicos menores do que as que seriam possíveis nas principais redes sociais sociais, podem ser mais eficazes em intensificar a radicalização de indivíduos já conectados com eles”, afirma o relatório.
Depois da invasão ao Capitólio, Donald Trump foi julgado num segundo processo de impeachment, mas foi absolvido pela maioria republicana pelas acusações de incitamento à rebelião, que também recusou participar numa investigação bipartidária aos acontecimentos de 6 de janeiro.