Expressando preocupação com as taxas de natalidade globais, o Papa Francisco disse que os casais que escolhem ter animais de estimação em vez de crianças estão a agir de forma egoísta, e que renunciar à maternidade e à paternidade está a a diminuir a nossa humanidade.
Os comentários foram feitos durante uma audiência geral no Vaticano na quarta-feira, em que Francisco discursou sobre paternidade e sobre a forma como José demonstrou “uma das mais altas formas de amor” ao educá-lo. O Sumo Pontífice tocou ainda no tema da adoção e das crianças órfãs, mas a parte do discurso que chamou mais a atenção foi a dos casais que decidem ter animais de estimação em vez de crianças: “Vemos que as pessoas não querem ter filhos, ou têm apenas um e não mais. E muitos, muitos casais não têm filhos porque não querem, ou têm apenas um – mas têm dois cães, dois gatos”, começou por dizer.
“Sim, cães e gatos ocupam o lugar dos filhos. Isto pode fazer as pessoas rir, eu compreendo, mas é a realidade. E esta negação da paternidade ou da maternidade diminui-nos, tira-nos a nossa humanidade. E desta forma a civilização envelhece e perde a sua humanidade, porque perde a riqueza da paternidade e da maternidade. E a nossa pátria sofre, uma vez que não tem filhos”, continua.
O papa disse ainda que os casais que não conseguem conceber naturalmente deviam considerar a opção de adotar.
“Quantas crianças no mundo estão à espera que alguém tome conta delas”, disse. “Ter uma criança é sempre um risco, quer naturalmente, quer por adoção. Mas é mais arriscado não as ter. É mais arriscado negar a paternidade, ou negar a maternidade, seja ela real ou espiritual”.
O Papa não se tem coibido de expressar a sua opinião sobre muitos assuntos controversos. Sobre o tema dos animais de estimação, em 2014, Francisco já tinha deixado clara a sua posição. Numa entrevista ao jornal italiano Il Messaggero, quando questionado se achava que algumas pessoas na sociedade valorizavam mais os animais de estimação do que as crianças, respondeu afirmando que essa realidade era um “sinal de degeneração cultural”.
“Isso é porque uma relação emocional com os animais é mais fácil, mais programável”, afirmou na altura. “Um animal não é livre, enquanto que ter uma criança é algo complexo”.
Nas redes sociais, houve múltiplas reações aos comentários do Papa, com alguns internautas a afirmarem que a posição do Papa desconsidera milhares de casais que optam não ter filhos por razões ambientais, financeiras, psicológicas, e muitas outras.
Na rede social Twitter foram ditas coisas como “palavras interessantes do Papa, que aparentemente se esqueceu de que ele próprio escolheu deliberadamente não ter filhos” ou “interessante, pois [o Papa] escolheu o seu nome papal de São Francisco D’Assis, que é vulgarmente conhecido como o santo padroeiro dos animais”.
Um grupo que luta pelos direitos dos animais também se pronunciou, através de um comunicado online. Massimo Comparotto, o presidente da filial italiana da Organização Internacional para a Protecção dos Animais, disse que “é estranho pensar que o Papa considera o amor nas nossas vidas quantitativamente limitado, e que ao dá-lo a uns, o tiramos a outros”.
“Talvez o Pontífice não conheça os enormes sacrifícios que os voluntários fazem para salvar vidas que de outra forma seriam ignoradas pelas autoridades e instituições”, continua.
“É evidente que para Francisco, a vida animal é menos importante do que a vida humana. Mas aqueles que sentem que a vida é sagrada amam a vida para além da espécie”.
Francisco, que já criticou anteriormente e o “inverno demográfico” em que vive a sociedade atual – referindo-se à queda das taxas de natalidade no mundo desenvolvido – não tem um animal de estimação no Vaticano, pelo que se sabe. Mas já foi fotografado com diversos animais: cães, cordeiros, e até crias de tigres e panteras.